Analista rema contra maré com recomendação neutra para Suzano

Mesmo com a recente baixa, há quem não acredite em um repique nas ações da empresa de papel & celulose

Bloomberg

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(Bloomberg) — A maioria dos analistas que cobre a Suzano (SUZB3) diz que, após a recente baixa, agora é hora de comprar ações da maior fabricante de celulose de fibra curta do mundo. Mas o analista com as projeções mais certeiras para a empresa ainda não está convencido.

Depois de anunciar um acordo para comprar a rival Fibria, em março do ano passado, as ações da Suzano mais do que dobraram de valor, impulsionadas pela percepção dos investidores de que o negócio proporcionaria economia e escala na produção da matéria-prima do papel.

O clima de euforia começou a esfriar em fevereiro, em meio a preocupações com o consumo na China, onde a economia está em desaceleração e sofre os efeitos da guerra comercial com os Estados Unidos. E azedou de vez em maio, depois que a Suzano anunciou que estava reduzindo a produção de celulose por conta de um expressivo aumento nos estoques.

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Até o fechamento de quarta-feira, a Suzano amargava o pior desempenho entre as principais empresas do setor no último mês, acumulando uma queda de 40%, o equivalente a US$ 7,5 bilhões em valor de mercado, desde o pico do ano. Com isso, distanciou-se do preço-alvo projetado pelos analistas de mercado para os próximos 12 meses, ampliando o potencial de retorno para 44%.

Mas Thiago Lofiego, do Bradesco BBI, se mantém apenas neutro em relação à Suzano. Embora as perspectivas para a empresa permaneçam sólidas, diz, os estoques elevados continuam a pesar sobre o mercado.

“A Suzano ainda é uma história interessante, mas ainda tem um risco de baixa”, afirma Lofiego, analista que mais acertou em suas projeções para a Suzano no ano passado, segundo ranking da Bloomberg. “Este ano pode ser ruim para a Suzano”, disse em entrevista por telefone.

Os estoques globais de celulose de fibra curta aumentaram em quase 50%, para cerca de 65 dias de consumo até o fim de abril, criando um excedente que pode levar meses para ser ajustado, mesmo com amplos cortes na produção, segundo Joshua Zaret, analista da Bloomberg Intelligence.

Uma grande parte desse volume foi estocado pela própria Suzano nos portos chineses, à medida que a empresa optou por segurar as vendas em vez de baixar os preços do produto diante da piora das condições do mercado.

“É improvável que os clientes voltem ao mercado e se reabasteçam antes que os estoques dos portos diminuam e os preços estejam no piso”, disse Zaret em entrevista. As condições fracas do mercado podem durar até o fim do ano, disse.

Ainda assim, analistas de diversos bancos, como Goldman Sachs e Banco do Brasil, acreditam que os desafios da Suzano – que responde por mais de 30% da oferta global – são temporários. Os analistas do Goldman e Banco do Brasil estão entre os 10 que recomendam a compra de ações da Suzano, enquanto outros sete recomendam manutenção.

“A recompensa da geração futura de caixa está apenas adiada”, disseram na semana passada analistas do Goldman, entre eles Thiago Ojea, em relatório no qual recomendam a compra das ações.

A demanda na China deve subir a uma taxa anual média de 3,5% nos próximos cinco anos. Ao mesmo tempo, o crescimento da oferta deve ser restrito por conta da escassez de novos projetos a serem concluídos nesse período, segundo analistas do Goldman. “Esperamos que a demanda supere a oferta nos próximos anos.”

Gabriela Cortez, do Banco do Brasil, concorda que as ações ficaram baratas. Com base na estimativa de lucro, o papel da Suzano é negociado com preço relativo inferior ao da maioria de empresas do setor e, tecnicamente, é a ação mais sobrevendida entre as de maior peso no mercado brasileiro.

Repórteres da matéria original: Gerson Freitas Jr. em São Paulo, gfreitasjr@bloomberg.net;Vinícius Andrade em São Paulo, vandrade3@bloomberg.net

Para entrar em contato com os editores responsáveis: Brad Olesen, bolesen3@bloomberg.net, ;Daniela Milanese, dmilanese@bloomberg.net, James Attwood, Julia Leite

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