Amazon corta benefícios emergenciais em meio à crise e recebe críticas de funcionários

Empresa cortou salário extra que havia anunciado e afirma que negócio está retomando a normalidade

Giovanna Sutto

(Shutterstock)
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SÃO PAULO – A Amazon cortou nesta semana alguns dos incentivos de emergência que introduziu para incentivar seus 250 mil funcionários de armazéns (ou centros de distribuição) a voltarem ao trabalho nos EUA.

Na última segunda (1), a empresa eliminou uma das políticas adotadas para recompensar os trabalhadores da linha de frente por continuarem trabalhando durante a pandemia – um aumento de US$ 2 por hora nos salários.

O acréscimo salarial era temporário, com prazo para acabar no fim de maio. Porém, muitos funcionários consideraram que o corte do benefício foi precipitado, devido ao momento atual da pandemia nos EUA.

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O país continua sendo um dos lugares mais atingidos pela pandemia, com mais de 1,8 milhão de casos confirmados de Covid-19 e mais de 107 mil mortes, segundo dados da Universidade de Johns Hopkins.

Embora a taxa de crescimento do vírus nos EUA pareça ter se estabilizado, especialistas alertam que pequenos surtos ainda podem surgir por todo o país.

Em meados de maio, oito funcionários da Amazon morreram e mais de 100 armazéns confirmaram casos, segundo informações da própria empresa. Mas não há registros oficiais exatos sobre quantos dos funcionários foram testados como positivos para o vírus.

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Críticas e gestão de crise

A gigante do varejo enfrentou um aumento repentino de pedidos online causado pela quarentena em todo o mundo e, no relatório de resultados do primeiro trimestre, a empresa anunciou que registrou seu maior crescimento de vendas em mais de três anos.

Mas, três meses depois do início da quarentena, a Amazon parece ter conseguido controlar suas operações.

À medida que sua cadeia de suprimentos se estabiliza, a empresa passou a reverter as políticas introduzidas no início de 2020 para manter seus funcionários trabalhando durante a crise sanitária.

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Mas, segundo relatos de funcionários, as medidas adotadas estão caindo mesmo enquanto o vírus segue avançando pelos armazéns da Amazon na Europa e nos EUA.

O fato de a fortuna do CEO da Amazon Jeff Bezos continuar a crescer mesmo na crise também aumentou o volume dos críticos. Segundo o índice de bilionários da Bloomberg, Bezos adicionou US$ 34 bilhões ao seu patrimônio desde janeiro e agora tem US$ 149 bilhões.

Volta ao “normal”?

O site “Business Insider” entrou em contato com seis funcionários da Amazon sobre o fim do benefício mesmo com o coronavírus avançando entre os armazéns da empresa. Todos pediram anonimato.

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Os empregados explicaram que o corte de salário não faria diferença na renda mensal. Os US$ 2 extras foram um pequeno aumento, totalizando US$ 80 extras por semana, para alguém que trabalha 40 horas por semana, por exemplo.

O salário base da Amazon para os trabalhadores dos armazéns é de US$ 15 por hora, ou seja, desde março, quando foi introduzido o aumento salarial, que chegou a US$ 17 por hora, segundo informações do site.

“Os US$ 2 por hora não terão muito efeito na minha vida”, disse um trabalhador de Nova Jersey. “Mas existem outros funcionários que realmente precisam e podem usá-lo e, nas circunstâncias atuais, deveriam aumentá-lo em vez de tirá-lo”.

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Um trabalhador do estado da Carolina do Sul diz que se a Amazon tivesse fechado os armazéns temporariamente para proteger sua equipe, os funcionários teriam direito a pedir a demissão e ter acesso a medidas trabalhistas propostas pelo governo, algo que poderia representar mais renda para eles.

“Em abril, o governo federal introduziu um aumento de US$ 600 nos pagamentos para desempregados durante a pandemia”, disse.

Esse aumento do governo deve terminar em julho. No momento, aproximadamente metade dos trabalhadores norte-americanos pode ganhar mais estando desempregado do que com seus salários regulares.

“Quase todo mundo está decepcionado e com raiva. Queremos o pagamento extra até que as máscaras desapareçam”, disse um trabalhador de Indiana, cujo armazém agora tem mais de 30 casos de Covid-19 confirmados.

A Amazon adotou uma política que exige que os funcionários usem máscaras para trabalhar em abril. Uma porta-voz da empresa disse que usar máscaras era recomendado pelo Centros de Controle e Prevenção de Doenças do governo norte-americano.

Ela acrescentou que o pagamento por hora inicial de US$ 15 da Amazon para trabalhadores de armazém, lançado em 2018, era melhor do que o pago pela concorrência entre grandes varejistas.

O salário mínimo da Target, por exemplo, é de US$ 13 por hora, embora deva subir para US$ 15 até o final de 2020, segundo informações do “Business Insider”.

“Para agradecer aos funcionários e ajudar a atender à crescente demanda, pagamos à nossa equipe e parceiros quase US$ 800 milhões a mais desde que a Covid-19 começou, continuando a oferecer todos os benefícios desde o primeiro dia de trabalho”, disse a executiva ao site.

“Com a demanda estabilizada, retornamos ao nosso salário inicial, líder no mercado, de US$ 15 por hora. Estamos orgulhosos de que nosso salário mínimo seja mais do que o que a maioria dos outros oferece, mesmo após seus aumentos temporários nos últimos meses”.

Números mascarados

Mas, para alguns, o perigo dentro dos armazéns parece longe de diminuir, e a falta de comunicação da gerência os deixa com medo de que o risco possa ser maior do que o informado.

Quando o coronavírus se espalhou pelos EUA, a Amazon notificou os trabalhadores sobre casos em seus armazéns por meio de uma mensagem de texto, informando quando um funcionário testou positivo.

Mas, quando a doença começou a se espalhar mais rapidamente por alguns locais, a empresa parou de fornecer números específicos, segundo relato do jornal “The New York Times”.

Um funcionário da Amazon na Califórnia diz que recebeu, em 18 de maio, uma mensagem dizendo que, em 7 de abril, foi confirmado um caso de Covid-19 no centro de distribuição onde ele trabalha. “Não apenas devemos continuar recebendo o pagamento de periculosidade, mas também merecemos mais de US$ 2”, disse o empregado.

“Eles nos notificam de um novo caso, mas não dizem em qual turno ou departamento ele aconteceu”, disse um funcionário de um armazém do Tennessee.

Segundo ele, a política é “esperar e ver quem está infectado, informar o caso por mensagem e continuar com os negócios como se nada tivesse acontecido”.

Uma porta-voz da Amazon afirmou que a “principal preocupação é garantir a saúde e a segurança dos funcionários” e que a empresa espera investir aproximadamente US$ 4 bilhões, de abril a junho, “em iniciativas relacionadas ao coronavírus para manter a entrega de produtos aos clientes e manter os funcionários seguros”.

Recentemente, a empresa informou que está planejando uma “super promoção” de verão para conseguir mais clientes em meio à pandemia.

Giovanna Sutto

Jornalista com mais de 6 anos de experiência na cobertura de finanças pessoais, meios de pagamentos, economia e carreira. Formada pela Cásper Líbero com pós-graduação pelo Ibmec.