Agronegócio e Faria Lima vislumbram ‘avenida’ para financiamentos no mercado de capitais

Produtores e investidores conversam para ampliar a participação do agro em instrumentos financeiros para bancar o custeio da atividade

Rikardy Tooge

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Sob um contexto de retração econômica e juros altos, o mercado financeiro costuma procurar setores mais resilientes para suas incursões. Em momentos como este, o agronegócio é um setor sempre desejado, mas subacessado se comparado com atividades como saneamento e logística.

Nos últimos três anos, o agro conseguiu captar cerca de R$ 90,5 bilhões no mercado de capitais, sendo a emissão de Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRA) o mais utilizado pelo setor, com R$ 67,5 bilhões.

À primeira vista, o montante parece expressivo, mas a participação equivale a 5% do total das operações, segundo o presidente da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), João Pedro Nascimento. “Há um número gigante de excluídos do agro do mercado de capitais”, reforçou Nascimento, durante o XP Agro Conference, realizado em São Paulo.

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O dirigente afirmou que a autarquia vem trabalhando em iniciativas que descentralizem e democratizem o acesso dos investidores do varejo a esses instrumentos, como o Open Capital Markets, que deverá permitir a transferência de custódia de fundos entre instituições, como Fiagros, sem a necessidade de liquidação da posição.

Na visão do presidente do conselho da XP Inc. (XPBR31), Guilherme Benchimol, há potenciais para além dos CRAs, especialmente em Fiagros e ofertas públicas iniciais de ações (IPO, em inglês).

“Os CRAs são uma realidade, temos potencial do Fiagro, mas ainda precisamos criar uma avenida para conectar o agro à Faria Lima e escoar capital para essa atividade tão importante”, disse o chairman da XP.

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Em busca do IPO

Na pavimentação deste caminho, há companhias como a São Salvador Alimentos (SSA), que desde 2007 vem trabalhando sua entrada no mercado de capitais. De lá para cá, emitiu dois CRAs e melhorou sua governança para o grande objetivo: realizar o IPO.

“Custa caro ir ao mercado, tem custo de auditória, necessidade de conselho de administração. Há também o tamanho da empresa [para se tornar atraente aos investidores]. É um desafio, mas estamos construindo uma estrutura organizacional para isso”, apontou o CEO Hugo Garrote.

Transparência no radar

Para Miguel Gularte, CEO da BRF (BRFS3), não se pode esquecer do grande avanço que ocorreu nos últimos anos, como reflexo da criação de ferramentas de investimento como os CRAs e Fiagros, mas reconhece que as iniciativas precisam ser mais pulverizadas, especialmente em um cenário que o financiamento público do agronegócio começa a se esgotar.

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Guilherme Benchimol (ao centro) durante XP Agro Conference 2023 (Leandro França/XP)

“A entrada no mercado de capitais traz mais governança, e isso gera um ciclo virtuoso ao negócio, você só ascende no mercado se seguir padrões de governança e transparência. Isso traz uma luz para o processo e beneficia os investidores e a sociedade”, defende o executivo da dona das marcas Sadia e Perdigão.

Rikardy Tooge

Repórter de Negócios do InfoMoney, já passou por g1, Valor Econômico e Exame. Jornalista com pós-graduação em Ciência Política (FESPSP) e extensão em Economia (FAAP). Para sugestões e dicas: rikardy.tooge@infomoney.com.br