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SÃO PAULO – Praticamente ninguém esperava que isso aconteceria, mas aconteceu. O reajuste tarifário de Sanepar (SAPR4), um dos grandes calls do mercado, transformou-se em um verdadeiro dramalhão mexicano, com reviravoltas emocionantes para os investidores, que apostavam em um processo sem grandes sobressaltos em meio à confiança na governança corporativa da estatal.
As decepções foram muitas nesse processo, mas os últimos dias mostraram que há uma “ponta de esperança” para os investidores. E esta sexta-feira (24), das 19h às 21h (horário de Brasília), marcará um dos capítulos decisivos para a estatal paranaense. Será hoje a audiência pública para a apresentação da primeira revisão tarifária da companhia, que ocorrerá em Curitiba, no Paraná, a ser realizada pela Agepar (Agência Reguladora do Paraná).
E a etapa desta sexta passou a ser considerada crucial, após a agência não agradar nem um pouco ao propor um reajuste de 25,63%, mas diferido em longos oito anos e com um reajuste inicial de 5,7%, o que levou à percepção de aumento de risco político, colocando em jogo o reajuste nos próximos anos. Após o anúncio, analistas e gestores apontaram que estavam prontos para brigar por um maior reajuste, mas a “call atrapalhada” logo após a revisão e, depois, a entrevista do CEO (Chief Executive Officer) Mounir Chaowiche ao jornal Valor Econômico. que praticamente cruzou os braços para a revisão. Contudo, nos últimos dias, a Sanepar “contrariou” o seu CEO em comunicados ao mercado, afirmando que lutará por um maior reajuste inicial das tarifas e por um diferimento de apenas um ciclo tarifário (ou de 4 anos). Confira os capítulos dessa história:
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Capítulo I – dezembro de 2016: oferta de ações de R$ 1,98 bilhão
A Sanepar conclui no final de dezembro uma oferta de ações que movimentou R$ 1,98 bilhão, a segunda maior operação do ano passado, operação essa que veio exclusivamente do mercado de capitais. Durante o roadshow da sua oferta pública, a estatal mostrou uma visão positiva sobre reajustes tarifários, destacando que em períodos anteriores já houve reajustes de 14% e 16% em anos consecutivos, o que solidificou a visão positiva para a empresa. Capítulo II – fevereiro de 2017: ânimo com a revisão tarifária
Após o “re-IPO”, as ações da Sanepar chamaram ainda mais a atenção do mercado. Do dia 20 de dezembro até o final de fevereiro, os papéis saltaram 55%, chegando aos R$ 14,95 (ou 62% de alta) em meados do mês, com muitas visões positivas sobre a ação. A confiança se dava principalmente pelo processo de revisão e os analistas do Bradesco BBI se mostraram como um dos principais entusiastas. A equipe destacou durante o mês cinco motivos para comprar Sanepar e não a paulista Sabesp e apontou que o populismo parecia ter ficado para trás para as ações de saneamento. A oportunidade parecia ser tão positiva que se destacou: compre agora ou lamente depois. A ação também entrou na carteira InfoMoney do mês de fevereiro. Capítulo III – 8 e 9 de março de 2017: da euforia à decepção
Os dias 8 e 9 de março mostraram que o processo não seria tão tranquilo como o mercado estava esperando. Os rumores de que haveria um diferimento de 8 anos abalaram os investidores e fizeram as ações caírem mais de 6% no dia 8. Mas o pior estaria por vir: a confirmação do diferimento longo e o primeiro reajuste baixo afugentou o mercado das ações no dia 9, com o cenário piorando ainda mais com a “call atrapalhada” da Sanepar, que mostrou que a empresa parecia pouco disposta a lutar pelo reajuste. A queda naquela sessão foi de 17,71%. Apesar de ver a queda como exagerada, os analistas e gestores não esconderam a decepção com o anúncio e apontaram algumas sugestões para a empresa, muitas delas tratadas durante o período de consulta pública, que aconteceu até o último dia 22 de março (confira as sugestões clicando aqui). Capítulo IV – semana final da Sanepar: da desistência à esperança
A montanha-russa de emoções para os investidores se seguiu nesta última semana para a companhia. Na última segunda-feira, o presidente da Sanepar praticamente enterrou as chances de lutar por melhores condições de reajuste em entrevista ao Valor. Mounir Chaowiche afirmou que, após a decisão surpreendente da Agepar de parcelar em oito anos o reajuste de 25,6% de tarifa da estatal de saneamento, a empresa decidiu que não vai se manifestar contra a determinação nos períodos de audiência e consulta públicas para discutir o processo de revisão tarifária. Com isso, o dia 20 marcou mais um dia de derrocada dos papéis, que fecharam em queda de 7,5%. Porém, nos dias seguintes, a própria Sanepar divulgou dois comunicados apontando que iria sim lutar por melhores condições de reajuste, sendo os principais pontos o menor diferimento e tarifa inicial mais alta, o que animou o mercado e fez com que as ações subissem por três dias seguidos. Capítulo V – 24 de março: audiência pública (???)
Finalmente, hoje será o dia da audiência pública, em que gestores, analistas e a própria gestão da Sanepar participarão e mostrarão os seus pontos de vista sobre o reajuste tarifário. Esse evento de 2 horas (das 19h às 21h) será crucial para definir o destino de uma das ações que ganhou muito destaque na Bolsa – tanto para o bem quanto para o mal. Isso porque, após esse evento, a nova tarifa (com mudanças ou não) será anunciada aos consumidores e depois, será implantada aos paranaenses. Ou seja, o mercado está muito atento ao que poderá acontecer hoje.