A guerra dos brinquedos

Se os jogos Detetive ou Cara a Cara estiverem na sua lista de compras de natal, melhor correr: eles o correm o risco de serem destruídos

Mariana Amaro

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A menos de 30 dias do fim do ano, a voz da cantora Simone aparece, de surpresa, em todos os cantos — da padaria ao carro de aplicativo — para lembrar que “então é natal” e trazer aquela dose de culpa questionando: “e o que você fez?”. E também para fixar o lembrete que está na hora de começar as compras de natal e que dessa vez, você não deixará tudo para a última hora, certo?

Se a lista de compras tiver brinquedos como Detetive ou Banco Imobiliário, é bom correr mesmo, porque esses jogos correm o risco de serem não apenas retirados das prateleiras em breve, mas destruídos.

Tudo isso tem a ver com uma guerra judicial que começou em 2007. Até lá, a fabricante de brinquedos Estrela mantinha um contrato de licenciamento com a Hasbro, fabricante americana de brinquedos e dona dos registros de propriedade industrial.

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A parceria vinha desde a década de 1970 e foi o que fez o The Game of Life virar Jogo da Vida, Monopoly ser conhecido como Banco Imobiliário e G.I. Joe ser rebatizado de Falcon e Comandos em Ação.

A Estrela produzia os brinquedos desenvolvidos pela Hasbro, vendia e pagava os royalties devidos. Em 2008, contudo, a Hasbro abriu uma subsidiária própria no Brasil e passou, ela mesma, a comercializar seus brinquedos.

Sentido-se lesada, a Estrela simplesmente parou de pagar os royalties mas continuou comercializando os produtos, alegando que suas versões foram adaptadas e apresentam diferenças em relação aos produtos originais.

Em novembro, o Tribunal de Justiça de São Paulo determinou que a Estrela devolva os registros de propriedade industrial de 18 brinquedos da Hasbro e pague R$ 64 milhões em royalties. Pela decisão, tudo que foi produzido deveria ser recolhido das prateleiras e destruído, um tratamento semelhante àquilo que acontece com produtos piratas. Os produtos não poderiam, portanto, ser doados.

Estrela cadente

A Estrela também perdeu uma batalha judicial contra a Mattel, dona da Barbie, que pedia uma indenização de R$ 64 milhões (que coincidência, não?) após a americana romper a parceria no final dos anos 1990. A Estrela alegou ter sido obrigada a retirar a boneca Susi do mercado para não atrapalhar as vendas da Barbie. O tribunal, contudo, considerou o pedido improcedente e o argumento descabido.

A fabricante nacional foi fundada em 1930 e mergulhou em uma grave crise com a abertura às importações depois que brinquedos mais baratos começaram a chegar por aqui. Como reflexo da crise, a empresa chegou a fechar seu capital em 2015 — que estava aberto desde 1968. No ano passado, teve um prejuízo de R$ 16 milhões. Seria o fim da Estrela no seu Jogo da Vida?

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Mariana Amaro

Editora de Negócios do InfoMoney e apresentadora do podcast Do Zero ao Topo. Cobre negócios e inovação.