A Ambev está torcendo pelo sucesso da expansão da sua concorrente – e por uma razão bastante simples

Negociações da Heineken para comprar Brasil Kirin são vistas como positivas para a Ambev

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Quando uma empresa ganha espaço no mercado, seja via crescimento orgânico ou aquisições, a expectativa é de que a sua concorrente não goste muito da notícia, não é verdade? Não, nem sempre. 

Uma prova disso é o caso da Ambev (ABEV3) que, ao contrário do que se pode pensar, se beneficia da iminente aquisição da Brasil Kirin pela Heineken. O acordo parece estar próximo de acontecer e deve ser anunciado ainda em fevereiro, segundo informações do Valor Econômico da última quinta. A negociação foi confirmada pelas duas partes envolvidas e, de acordo com a agência de notícias japonesa Nikkei, a Heineken irá pagar US$ 870 milhões pela companhia. 

Os analistas do setor estão de olho na aquisição há algum tempo, e a operação não deve surpreender o mercado, pois a Brasil Kirin tem lutado para sustentar negócio desde que adquiriu a Schincariol, em 2011, e a rentabilidade despencou em 2015, conforme aponta o Itaú BBA. Em relatório da semana passada, o Bradesco BBI destacou que a Heineken está preparada para comprar os ativos da Brasil Kirin, que passaria a deter uma fatia do mercado em cerca de 18%.

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As duas casas de análise, por sinal, têm uma visão positiva para a expansão da cervejeira concorrente para a Ambev por um fator em especial: consolidação do mercado e, consequentemente, uma guerra menor de preços.

“A aquisição pode até ser positiva para a Ambev no curto prazo, diminuindo a briga em relação a ‘guerra de preços’ no segmento off-trade (lojas, onde as bebidas são compradas para consumo fora delas), já que é provável que a Heineken adote uma abordagem mais racional com os preços praticados”, ressalta o Bradesco BBI. Os analistas do Itaú BBA também destacam este ponto, ressaltando que o evento é positivo por reduzir a pressão dos preços competitivos, ao mesmo tempo em que não transforma a Heineken numa forte concorrente do setor. Ou seja: preços menos competitivos, mais alto o preço para o consumidor. 

O Credit Suisse também destaca em relatório que a Heineken costuma prezar por margens mais elevadas nos mercados em que atua. “As nossas ‘checagens’ em São Paulo indicam diferenças de preço acima de 30% entre entre Schin e Skol/Brahma. Acreditamos que esta diferença foi a principal responsável para a Ambev ter revisado o guidance duas vezes”, apontam.

Além da guerra de preços “mais branda” e a participação de mercado bem maior da Ambev (com 66% do mercado), o Bradesco BBI destaca outros dois pontos: i) os seus concorrentes devem continuar enfrentando desafios na operação de logística e ii) é esperado que a Heineken continue focando no mercado premium de cerveja.  

Para agora ou para o longo prazo?
Desta forma, o que aparentemente seria uma má notícia para a companhia na verdade é uma “boa nova” para a Ambev. O Bradesco BBI, por sinal, possui recomendação de compra para as ações da companhia e continuam otimistas com a ação neste ano por três razões em especial: i) a lucratividade deve melhorar devido aos seus esforços de controle de custos; ii) o mercado pode estar subestimando o potencial da nova estratégia da Ambev de garrafas retornáveis de 300 ml e iii) a ação está com um desconto de cerca de 20% em relação à sua média de três anos (média de 21 vezes a relação entre preço e o lucro).  

Já o Itaú BBA possui recomendação marketperform (desempenho em linha com a média do mercado) e preço-alvo de R$ 21,00. Os analistas esperam um quarto trimestre ainda fraco, com receitas estáveis ou em leve queda no segmento de cervejas e o volume de vendas caindo entre 6% e 7% na base de comparação anual. Porém, a expectativa é de que o segundo semestre deste ano seja melhor, com a deflação dos custos no segmento aumentando as margens e estabilizando os volumes. “Nós também vemos um crescimento de dois dígitos de lucro por ação entre 2017-2019, o que deve trazer atratividade no longo prazo apesar dos múltiplos pouco atrativos em 2017. Levando tudo isso em conta, não há pressa para comprar e vamos esperar um melhor ponto de entrada no papel”, concluem os analistas. 

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.