Vitória do centro e avanço da direita. Como foram as eleições europeias?

Nova configuração do Parlamento Europeu deve reduzir a força da agenda sobre mudanças climáticas e das políticas mais flexíveis sobre a imigração

Roberto de Lira

Cartazes de campanha em Haia, na Holanda, antes de eleições para o Parlamento Europeu  - 05/06/2024 (Foto: Piroschka van de Wouw/Reuters)
Cartazes de campanha em Haia, na Holanda, antes de eleições para o Parlamento Europeu - 05/06/2024 (Foto: Piroschka van de Wouw/Reuters)

Publicidade

Os resultados que saíram das urnas nas eleições que envolveram os 27 países da União Europeia entre a quinta-feira e o domingo apontam para a manutenção no poder do grupo de centro-direita Partido Popular Europeu (EPP, na sigla em inglês), mas com um avanço significativo das forças populistas e nacionalistas da direita, majoritariamente representadas pelos conservadores e reformistas (ECR) e pelo grupo Identidade e Democracia (ID).

Já a centro-esquerda, representada pelo S&D e o Renovar a Europa, devem perder cadeiras, assim como os Verdes.


Baixe uma lista de 11 ações de Small Caps que, na opinião dos especialistas, possuem potencial de crescimento para os próximos meses e anos

Continua depois da publicidade

Segundo as últimas projeções, o EPP, que apoia a recondução da presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, ao cargo, deve ter ampliado sua presença no Parlamento das atuais 176 cadeiras para 185. Os socialistas e progressistas do S&D, por sua vez, podem perder ao menos dois assentos, passando de 139 para 137.

As forças mais à direita podem chegar a quase um quarto do Parlamento, com a presença do ECR subindo de 69 para 73 cadeiras e o ID avançando de 49 para 58.

Os grande perdedores devem ser os Verdes, que terão sua força reduzida de 71 para 52 assentos.

Continua depois da publicidade

Para especialistas, essas novas representações devem apontar para algumas mudanças de orientação nas decisões da União Europeia, com perda de força na agenda sobre mudanças climáticas e nas políticas mais flexíveis sobre imigração, além da pauta de ampliação de ajuda mais direta à Ucrânia em sua guerra com a Rússia.

Mas é no futuro político dentro dos países que os resultados podem apontar para as maiores mudanças. Veja a situação em alguns países:

França

A coalizão de partidos Besoin d’Europe, de centro, apoiada pelo presidente Emmanuel Macron e encabeçada pela eurodeputada Valérie Hayer, sofreu forte derrota e não deve ter atingido sequer 15% dos votos ontem. A maior vitoriosa foi a Reunião Nacional da líder de direita Marine Le Pen, que alcançou 31,3% dos votos. Isso obrigou Macron a dissolver o Parlamento francês e convocar novas eleições legislativas para o final deste mês, numa tentativa de recuperar algum poder.

Continua depois da publicidade

Alemanha

Os conservadores da democracia-cristã, representada pelos partidos CDU e CSU ficaram à frente, com 30% dos votos, com a extrema-direita capitaneada pelo AfD obtendo seu melhor resultado, com 16% das preferências. Os social-democratas do SPD, do chanceler Olaf Scholz, só tiveram 14% dos votos, cabendo 12% aos Verdes e 5% aos liberais. Mesmo com a derrota, Scholz disse que não pretende antecipar eleições, marcadas para o outono.

Itália

Na Itália, a grande vitoriosa foi a primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, cujo partido Irmãos da Itália obteve 28,7% dos votos, à frente dos rivais de centro-esquerda do PD, com 24,06%. O Movimento 5 Estrelas, também de direita e eurocético, ficou em terceiro lugar, com 9,98%, seu pior desempenho em nível nacional desde sua criação em 2009. Com o resultado, o partido de Meloni deverá mais do que duplicar o seu número de lugares no Parlamento Europeu.

Espanha

Na Espanha, a centro-direita do Partido Popular (PP) teve 34,18% das preferências, com a esquerda representada pelo PSOE recebendo 30,19% dos votos, numa derrota para o atual governo de Pedro Sánchez. O partido de extrema direita Vox terminou em terceiro com 9,6% dos votos, o que deve lhe dar seis cadeiras, duas a mais do que em 2019. Outra facção de extrema-direita – Se Acabó la Fiesta (SALF) – conquistará três cadeiras, o mesmo número dos parceiros de coalizão do PSOE, da plataforma de esquerda Sumar. Já o Podemos perdeu representação e terá apenas duas cadeiras, contra 6 obtidas cinco anos atrás.

Continua depois da publicidade

Outros destaques

Na Holanda, o partido de extrema-direita PVV de Geert Wilders ficou em segundo lugar, com 17,7% dos votos, atrás de uma aliança Esquerda-Verde, com 21,60% das preferências. Na Polônia, as forças comandadas pelo primeiro-ministro conservador Donald Tusk venceram por pouco o partido de oposição Lei e Justiça, com 37% a 36% das preferências. Na Bélgica, o primeiro-ministro centrista Alexander De Croo renunciou ao cargo, após seu partido VLD obter apenas 5,7% dos votos, ficando bem atrás dos nacionalistas de direita.