The Economist: Tarifa de Trump é “agressão chocante” que fortalece Lula

Segundo a publicação, “raramente desde o fim da Guerra Fria os Estados Unidos interferiram tão profundamente com um país latino-americano”

Paulo Barros

(Foto: Reprodução/The Economist)
(Foto: Reprodução/The Economist)

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A ofensiva tarifária de Donald Trump contra o Brasil é uma “agressão extraordinária” que pode estar gerando um efeito contrário ao desejado, fortalecendo politicamente o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A avaliação é da revista britânica The Economist, que, na última quinta-feira (24), descreveu o gesto como uma “agressão chocante” e apontou que o “bullying” dos apoiadores de Trump está saindo pela culatra.

Desde que Trump prometeu uma tarifa de 50% sobre as exportações brasileiras em 9 de julho, o governo dos EUA intensificou pressões políticas e comerciais. A revista destacou que, além da ameaça tarifária, houve abertura de uma investigação comercial contra o Brasil, revogação de vistos de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e a intenção do secretário de Estado, Marco Rubio, de aplicar sanções ao ministro Alexandre de Moraes, usando a lei Global Magnitsky, geralmente reservada para ditadores e criminosos internacionais.

Segundo a publicação, “raramente desde o fim da Guerra Fria os Estados Unidos interferiram tão profundamente com um país latino-americano”. O texto aponta que o estopim para o ataque teria sido a cúpula do BRICS, realizada em 6 e 7 de julho no Brasil, onde Lula reforçou críticas à ingerência externa.

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Lula, por sua vez, classificou as ameaças como “chantagem inaceitável” e um ataque à soberania nacional. A Economist destaca ainda que o presidente brasileiro ameaçou taxar empresas americanas de tecnologia, enquanto o Congresso brasileiro, controlado por partidos de direita, cogita tarifas retaliatórias.

A publicação também aponta que o gesto de Trump está ajudando Lula politicamente, inclusive entre setores conservadores. “As efígies de Trump foram queimadas nas ruas. A aprovação de Lula, que estava caindo, se recuperou. Agora ele lidera o campo de possíveis candidatos para a eleição do próximo ano”, disse a publicação.

Apesar disso, os efeitos econômicos podem ser significativos e afetar principalmente os redutos bolsonaristas. A publicação aponta que “mais de um terço dos grãos de café não torrados importados pelos EUA vêm do Brasil, assim como a vasta maioria do suco de laranja e uma parcela crescente da carne bovina”. Estimativas da UFMG indicam que até 110 mil empregos podem ser perdidos, principalmente no agronegócio.

A revista ainda menciona que o ataque ao Brasil pode acabar prejudicando Bolsonaro politicamente. A Confederação Nacional da Agricultura, tradicional aliada do ex-presidente, condenou o “caráter político” das tarifas. Até Bolsonaro tentou se afastar, dizendo que “as tarifas não têm nada a ver conosco”.

A reportagem destaca que as tratativas entre o governo Lula e Washington seguem ignoradas desde maio. Enquanto isso, Eduardo Bolsonaro é quem tem mantido acesso direto à Casa Branca. “Trump é alguém que admiro, alguém em quem me espelho”, declarou Eduardo, atualmente morando no Texas, cercado por bonés MAGA e crucifixos.

Paulo Barros

Jornalista, editor de Hard News no InfoMoney. Escreve principalmente sobre economia e investimentos, além de internacional (correspondente baseado em Lisboa)