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A revista americana The Atlantic publicou nesta quarta-feira (26) o histórico completo de mensagens trocadas por autoridades do governo Trump em um grupo no aplicativo Signal, revelando detalhes sensíveis sobre planos militares dos EUA contra alvos Houthi no Iêmen.
O material, que inclui capturas de tela da conversa, escancara que o então secretário de Defesa, Pete Hegseth, compartilhou os horários exatos das decolagens de jatos americanos que participariam dos ataques. Informações desse tipo são normalmente discutidas sob profundo sigilo para evitar retaliações ou fuga dos alvos — o que torna o vazamento ainda mais grave (veja mensagens mais abaixo).
O grupo de mensagens foi criado por Michael Waltz, conselheiro de segurança nacional à época, e incluía figuras-chave da administração, como John Ratcliffe (então diretor da CIA) e Tulsi Gabbard (diretora de inteligência nacional). Jeffrey Goldberg, editor-chefe da The Atlantic, foi adicionado ao grupo por engano e teve acesso a todas as mensagens.

Embora tenha inicialmente retido partes do conteúdo, a revista decidiu publicar a íntegra após autoridades do governo afirmarem publicamente que não havia informações classificadas nas conversas. Apenas o nome de um agente da CIA foi removido a pedido da agência.
O conteúdo pode beneficiar Ratcliffe, que foi mais cuidadoso ao mencionar atividades da CIA, evitando dados operacionais. Já Hegseth compartilhou detalhes como horários de lançamento dos aviões, aumentando a pressão política sobre ele e demais envolvidos.
Leia mais: O que é Signal? Conheça o app onde cúpula de Trump vazou planos de guerra
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Desde 15 de março, os EUA realizam ataques diários contra os Houthis, mas o Pentágono não atualiza os dados oficiais desde o dia 17. O Comando Central, via X (ex-Twitter), publica apenas imagens genéricas, sem divulgar números de alvos atingidos ou líderes mortos.
O caso deve ter repercussão imediata no Congresso. A Comissão de Inteligência da Câmara dos EUA convocou Ratcliffe e Gabbard para depor ainda nesta quarta-feira. A crise pode reabrir o debate sobre o uso de aplicativos pessoais por autoridades para tratar de temas sensíveis e a eficácia da nova estratégia militar dos EUA no Oriente Médio.

Karoline Leavitt, secretária de imprensa da Casa Branca, postou no X que ao divulgar a transcrição, “The Atlantic admitiu: estes NÃO eram ‘planos de guerra’”, acrescentando: “Toda essa história foi outra farsa escrita por um hater de Trump que é bem conhecido por seu sensacionalismo.”
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Em uma declaração enviada ao The Atlantic, entretanto, Leavitt admitiu que as mensagens tratavam de “informações sensíveis”, motivo pelo qual o governo Trump se opôs à publicação da transcrição pela revista.
Veja algumas das mensagens reveladas pela The Atlantic:
- Hegseth, ex-secretário de defesa, confirma lançamento da missão
“11:44: O clima está FAVORÁVEL. ACABEI DE CONFIRMAR com o CENTCOM que estamos prontos para o lançamento da missão.”
O Centcom, ou Comando Central, é o comando de combate militar para o Oriente Médio. O texto de Hegseth continua:
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“12:15: DECOLAGEM de F-18s (1º pacote de ataque)”
“13:45: Inicia a janela de 1º ataque do F-18 ‘baseada em gatilho’ (o terrorista alvo está em sua localização conhecida, então DEVE CHEGAR NA HORA – também, lançamento de drones de ataque (MQ-9s)”
A revista ressalta que a mensagem, enviada duas horas antes do início do ataque, tivesse sido recebida por inimigos dos EUA, os Houthis teriam tido tempo para se preparar para o ataque, que deveria ser surpresa.
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- Hegseth anuncia mais decolagem de jatos e drones
“1410: Mais F-18s DECOLAM (2º pacote de ataque)”
“1415: Drones de ataque no alvo (ESTE É QUANDO AS PRIMEIRAS BOMBAS DEFINITIVAMENTE CAIRÃO, pendentes alvos anteriores ‘Baseados em gatilhos’)”
“15:36: 2º ataque do F-18 começa – também, os primeiros Tomahawks baseados no mar são lançados.”
“MAIS A SEGUIR (por linha do tempo)”
“Estamos atualmente limpos em OPSEC” — isto é, segurança operacional.
“Boa sorte aos nossos guerreiros.”
- Waltz fala sobre fim do ataque
13:48: “VP. Prédio desmoronou. Tinha várias identificações positivas. Pete, Kurilla, o IC, trabalho incrível.”
Waltz estava se referindo a Hegseth; General Michael E. Kurilla, o comandante do Comando Central; e a comunidade de inteligência, ou IC. A referência a “várias identificações positivas” sugere que a inteligência dos EUA havia averiguado as identidades do alvo Houthi, ou alvos, afirmou a The Atlantic.
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(com informações do New York Times e The Atlantic)