Polônia: eleição de aliado de Trump pode alterar políticas da UE e guerra na Ucrânia

Eleição na Polônia destaca polarização política e possíveis mudanças na postura do país em relação à Ucrânia e à UE

Estadão Conteúdo

Candidato presidencial polonês Karol Nawrocki, apoiado pelo principal partido de oposição Lei e Justiça (PiS), reage às pesquisas de boca de urna do segundo turno da eleição presidencial, em Varsóvia, Polônia, 1º de junho de 2025. REUTERS/Aleksandra Szmigiel
Candidato presidencial polonês Karol Nawrocki, apoiado pelo principal partido de oposição Lei e Justiça (PiS), reage às pesquisas de boca de urna do segundo turno da eleição presidencial, em Varsóvia, Polônia, 1º de junho de 2025. REUTERS/Aleksandra Szmigiel

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A Polônia elegeu Karol Nawrocki, um historiador conservador e fervoroso nacionalista, como seu próximo presidente em uma votação de grande interesse que sinaliza um ressurgimento do populismo de direita no coração da Europa. Espera-se que Nawrocki, que está programado para assumir o cargo em 6 de agosto, molde a política interna e externa do país de maneiras que podem tensionar os laços com Bruxelas, enquanto alinha a nação da Europa Central, de quase 38 milhões de habitantes, mais de perto com a administração do presidente Donald Trump nos Estados Unidos.

O populismo conservador em ascensão

A vitória de Nawrocki sublinha o apelo duradouro da retórica nacionalista entre cerca de metade do país, ao longo da margem oriental da Otan e da União Europeia, e suas profundas divisões sociais. O historiador de 42 anos, que não tinha experiência política anterior, construiu sua campanha em temas patrióticos, valores católicos tradicionais e uma promessa de defender a soberania da Polônia contra a UE e grandes nações europeias, como a Alemanha.

Sua vitória também reflete o apelo do nacionalismo de direita em toda a Europa, onde preocupações sobre migração, soberania nacional e identidade cultural levaram ao aumento do apoio a partidos de direita — até mesmo à extrema direita nos últimos tempos. Candidatos de extrema direita se saíram muito bem na primeira rodada de votação na Polônia, duas semanas antes, sublinhando o apelo das visões nacionalistas e conservadoras. Nawrocki conquistou muitos desses votos.

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Enquanto seus apoiadores comemoram sua vitória, aqueles que votaram no candidato liberal derrotado, o prefeito de Varsóvia Rafal Trzaskowski, preocupam-se que isso acelere a erosão das normas democráticas liberais.

“A Polônia permanece um país profundamente dividido”, disse Jacek Kucharczyk, presidente do Instituto Polonês de Assuntos Públicos. “Embora a participação eleitoral tenha sido a maior da história das eleições presidenciais, a margem de vitória de Nawrocki é muito pequena, o que significa que metade da Polônia estará comemorando sua presidência, enquanto a outra metade permanece profundamente preocupada ou mesmo perturbada”, acrescentou.

Os problemas do primeiro-ministro Donald Tusk

A presidência de Nawrocki apresenta um desafio direto ao primeiro-ministro Donald Tusk, que retornou ao poder no final de 2023 se comprometendo a consertar as relações com a UE e restaurar a independência judicial que Bruxelas disse ter sido erodida pelo partido Lei e Justiça, que apoiou Nawrocki.

Mas a coalizão de Tusk — uma aliança frágil de centristas, esquerdistas e conservadores agrários — tem lutado para avançar com promessas-chave, incluindo uma lei de união civil para casais do mesmo sexo e uma lei de aborto menos restritiva. Nawrocki, que se opõe a tais medidas, terá o poder de vetar legislações, complicando a agenda de Tusk e potencialmente desencadeando um impasse político.

Laços com a administração Trump

A eleição de Nawrocki pode indicar um relacionamento mais forte entre a Polônia e a administração Trump. A Polônia e os EUA são aliados próximos, e há 10.000 tropas dos EUA estacionadas na Polônia, mas Tusk e seus parceiros no passado foram críticos de Trump. Nawrocki, no entanto, tem uma visão de mundo estreitamente alinhada com Trump e seu ethos “Make America Great Again”. Trump recebeu Nawrocki na Casa Branca um mês atrás, e sua administração deixou claro de outras maneiras que ele era seu candidato preferido.

Um foco mutante na Ucrânia

Embora Nawrocki tenha expressado apoio à defesa da Ucrânia contra a agressão russa, ele não apoia a adesão ucraniana à Otan e questionou os custos de longo prazo da ajuda — particularmente o suporte para refugiados. Sua retórica às vezes ecoou a de Trump, por exemplo, acusando o presidente ucraniano Volodimir Zelenski do que ele disse ser gratidão insuficiente pela assistência da Polônia.

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Com o crescente cansaço público em ajudar refugiados ucranianos, a abordagem de Nawrocki poderia mudar a postura da Polônia de aliado forte para parceiro condicional, se a guerra se arrastar por muito mais tempo.

Laços com a UE

O resultado da eleição é um revés para a UE, que havia recebido o retorno de Tusk em 2023 como um sinal de engajamento pró-europeu renovado.

“Isso é muito má notícia para a União Europeia, bem como para os principais parceiros europeus da Polônia, tanto a Alemanha quanto a França, bem como a Ucrânia”, disse Kucharczyk, o analista. “Nawrocki é bem conhecido por sua postura eurocética. Ele se opõe à intensificação da integração e cooperação europeia. Ele também é contra a adesão da Ucrânia à Otan”, acrescentou.

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Nawrocki e o partido Lei e Justiça criticaram o que os nacionalistas veem como excesso de intervenção da UE nos assuntos nacionais da Polônia, especialmente em relação a reformas judiciais e política de migração. Embora o presidente não controle a diplomacia do dia a dia, os poderes simbólicos e de veto de Nawrocki poderiam frustrar os esforços de Bruxelas para trazer a Polônia de volta à conformidade com os padrões do bloco, particularmente sobre questões do estado de direito.

Preocupações no mercado

Embora seja membro da UE, a Polônia tem sua própria moeda, o zloty, que enfraqueceu ligeiramente nesta segunda-feira de manhã, refletindo as preocupações dos investidores sobre a potencial instabilidade política e tensões renovadas com as instituições da UE. Bilhões de euros em financiamento da UE foram vinculados a reformas judiciais que o governo de Tusk agora terá dificuldades em promulgar sem cooperação presidencial.