Polícia de LA inicia “prisões em massa” após toque de recolher no 6º dia de protestos

Juiz federal negou ação do governador da Califórnia contra ordens de Donald Trump sobre Guarda Nacional e fuzileiros navais, mas uma nova audiência foi marcada para esta quinta-feira

Agência O Globo

Policiais montam guarda após toque de recolher, enquanto os protestos contra as medidas federais de imigração continuam, no centro de Los Angeles, Califórnia, EUA, em 10 de junho de 2025. REUTERS/Leah Millis
Policiais montam guarda após toque de recolher, enquanto os protestos contra as medidas federais de imigração continuam, no centro de Los Angeles, Califórnia, EUA, em 10 de junho de 2025. REUTERS/Leah Millis

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A polícia de Los Angeles iniciou “prisões em massa” de manifestantes depois que um toque de recolher entrou em vigor em parte do centro da cidade, segundo anunciou a CNN. O número de detenções já é de pelo menos 378 pessoas nos últimos quatro dias – incluindo quase 200 prisões somente na terça-feira – de acordo com o chefe de polícia, Jim McDonnell.

O Departamento de Polícia de Los Angeles divulgou o início das prisões, enquanto vários grupos de protesto continuam a se reunir na zona designada para toque de recolher.

“Vários grupos continuam a se reunir na 1st St entre Spring e Alameda”, escreveu o departamento no X. “Esses grupos estão sendo abordados e prisões em massa estão sendo iniciadas”.

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Segundo relato de repórteres da CNN, cerca de 10 a 20 pessoas foram vistas sendo presas na área do toque de recolher, à noite. Uma pessoa foi vista sendo fisicamente contida no chão, com as mãos amarradas atrás das costas.

Um policial fala com um membro da imprensa após o toque de recolher, enquanto os protestos contra as medidas federais de imigração continuam, no centro de Los Angeles, Califórnia, EUA, em 10 de junho de 2025. REUTERS/Leah Millis

Um helicóptero da Patrulha Rodoviária da Califórnia foi deslocado para o local e está sobrevoando principalmente a área de Little Tokyo, no centro de Los Angeles.

Para o capitão da Patrulha Rodoviária Estadual Ron Johnson, ouvido pela CNN, o toque de recolher vai servir para “separar a multidão entre manifestantes pacíficos e agitadores”.

“Os manifestantes que estão lá pacificamente irão para casa. São agitadores que ainda estão por aí. E assim vai separar a multidão e dar uma chance para a polícia”, disse ele.

Pequenos protestos ocorreram na terça-feira, concentrando-se em frente a um prédio federal que se tornou o epicentro do descontentamento social contra as operações de detenção e deportação de imigrantes irregulares.

No meio da tarde de terça, a polícia começou a dispersar as pessoas com bombas de efeito moral e gás lacrimogêneo.

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A prefeita de Los Angeles, Karen Bass, destacou o controle sobre a cidade:

“Acho importante não minimizar o vandalismo e a violência que ocorreram lá: foram significativos”, disse Bass na entrevista coletiva. “Mas é extremamente importante saber que o que está acontecendo neste quilômetro quadrado não está afetando a cidade. Algumas das imagens dos protestos e da violência dão a impressão de que se trata de uma crise que atinge toda a cidade, mas não é.”

A mão pesada de Trump

Os protestos em Los Angeles começaram pacificamente na sexta-feira, dia 6, motivados por operações dos agentes de imigração do ICE (Serviço de Imigração e Alfândega, na sigla em inglês) para prender imigrantes em situação irregular na cidade.

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No entanto, a adesão crescente de manifestantes nas ruas acabou gerando episódios de violência e enfrentamento contra agentes federais, além de depredação de carros e prédios públicos. Segundo Karen Bass, apenas na segunda-feira 23 empresas foram saqueadas durante a onda de protestos.

Em resposta, o presidente Donald Trump anunciou, ainda no sábado, o envio de dois mil soldados da Guarda Nacional, que chegaram no dia seguinte com a função de proteger agentes federais e prédios públicos.

A decisão foi considerada “propositalmente inflamatória” pelo governador da Califórnia, o democrata Gavin Newsom, e algo que não era visto há décadas, segundo a imprensa americana.

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“É intencionalmente provocativo e só aumentará as tensões. Estamos em estreita coordenação com a cidade [Paramount] e o condado [Los Angeles]”, postou no X o governador Newson, apontado como um potencial candidato à sucessão de Trump.

A Guarda Nacional, uma força de reserva militar, é mobilizada em situações de emergência, como desastres naturais, mas seu envio é incomum em casos de protestos. Em 2020, foi mobilizada após os distúrbios provocados pela morte de George Floyd em uma ação da polícia.

Ignorando as críticas e os riscos, Trump dobrou a aposta na segunda-feira, com o envio de mais dois mil militares da Guarda Nacional e 700 fuzileiros navais, cujas funções não ficaram claras, segundo Bass.

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Newsom entrou com uma ação de inconstitucionalidade e uma outra medida, exigindo que as tropas em Los Angeles não exerçam funções de aplicação da lei, como atuar em operações migratórias. Mas um juiz federal rejeitou o pedido, e uma nova sessão foi marcada para esta quinta-feira.

Oponente à altura

Enquanto o presidente Donald Trump intensifica sua retórica contra as manifestações, o governador Gavin Newson chegou a acusar o atual chefe da Casa Branca de tirania.

“Enviar combatentes para as ruas é algo sem precedentes e ameaça os fundamentos da nossa democracia. [Trump] está agindo como um tirano”, disse o democrata.

De fato, os reservistas da Guarda Nacional não eram mobilizados por um presidente, contra a vontade de um governador, desde 1965, no auge do movimento dos direitos civis.

A lei americana proíbe, em grande parte, o uso do Exército como força policial, salvo em caso de insurreição. E Trump não descartou invocar a Lei de Insurreição, o que lhe daria autorização para usar tropas regulares em todo o país.

Na prática, o que o presidente dos EUA conseguiu fazer, em termos políticos, ao enviar sem aviso soldados para Los Angeles, foi dar a oportunidade de Newson assumir o posto ainda vago de líder da oposição, tornando-se, inclusive, um potencial presidenciável democrata.