Parlamentares neozelandeses são suspensos por fazer dança maori de guerra em sessão

Os três políticos, que são da etnia originária maori, dançaram o 'haka' no ano passado como forma de protesto

Agência O Globo

Reprodução/X
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O Parlamento da Nova Zelândia aprovou a suspensão de três membros que fizeram o ‘haka’, dança de guerra tradicional do povo indígena maori, durante uma sessão no ano passado. De acordo com a decisão, publicada por uma comissão disciplinar nesta quinta-feira, foram punidos por “intimidação dos demais” os deputados Hana-Rawhiti Maipi-Clarke, do Te Pãti Mãori (Partido Maori, em tradução livre) e os co-líderes da legenda, Rawiri Waititi e Debbie Ngarewa-Packer; todos da etnia maori.

Maipi-Clarke, que “puxou” a dança, será afastada por sete dias, enquanto Waititi e Ngarewa-Packer ficarão suspensos por 21 dias, maior punição já dada a parlamentares desde a fundação da casa legislativa, em 1854. O recorde anterior era de três dias.

A dança, cuja gravação viralizou nas redes sociais, foi feita em novembro do ano passado enquanto era discutido um projeto de lei que buscava redefinir o tratado fundador do país com o povo maori.

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O projeto foi posteriormente rejeitado em votação, mas gerou protestos em todo o país. Durante uma das leituras do texto no Parlamento, também em novembro de 2024, uma marcha composta por mais de 40 mil pessoas e que atravessou o país protestou do lado de fora da casa legislativa.

— Fomos punidos por sermos maoris — disse Ngarewa-Packer à BBC. — Assumimos a postura de sermos maoris sem pedir desculpas e de priorizar o que nosso povo precisa ou espera de nós.

Durante o debate sobre as punições, o ministro das Relações Exteriores da Nova Zelândia, Winston Peters, foi solicitado a se desculpar por chamar o Te Pāti Māori de “bando de extremistas” e por dizer que o país “já está farto deles”.

O primeiro-ministro neozelandês, Christopher Luxon, rejeitou as acusações de que a decisão da comissão era “racista”, e acrescentou que a punição não era sobre o “haka”, mas sobre o partido “não seguir as regras do Parlamento”.

Entenda a discussão

A Nova Zelândia é reconhecida internacionalmente por defender os direitos e a representatividade dos povos indígenas, mas as relações com a comunidade maori têm estado tensas recentemente sob o atual governo conservador liderado por Luxon.

O chanceler tem sido criticado por cortar o financiamento de programas que beneficiam os povos originários, incluindo planos de desmantelar uma organização que visa melhorar os serviços de saúde para a comunidade.

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Luxon, no entanto, defendeu o histórico de seu governo em relação às questões maoris, citando planos para melhorar a alfabetização na comunidade e tirar crianças de abrigos de emergência.

O projeto de lei que gerou o protesto dos parlamentares buscava definir legalmente os princípios do Tratado de Waitangi, pacto assinado entre a Coroa Britânica e líderes maoris em 1840 durante a colonização da Nova Zelândia.

Os defensores da medida, como o Act, partido de direita que protocolou o texto, argumentam que o acordo de 1840 precisa ser reinterpretado porque não representar a sociedade multicultural atual.

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Críticos, no entanto, dizem que é o projeto proposto que seria divisivo e levaria ao desmantelamento de proteções essenciais para o povo maori.