Macron reconduz Lecornu como primeiro-ministro em meio à crise política da França

Nomeação enfrenta forte oposição da esquerda e direita; prioridade é aprovar orçamento de 2026 em Parlamento dividido

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REUTERS/Stephane Mahe/Pool
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O presidente da França, Emmanuel Macron, reconduziu Sébastien Lecornu ao cargo de primeiro-ministro nesta sexta-feira, apenas alguns dias após sua renúncia, uma medida que enfureceu alguns dos mais ferrenhos opositores políticos do presidente, que prometeram votar contra o novo governo.

Macron, 47 anos, espera que o leal Lecornu consiga obter apoio suficiente de um Parlamento profundamente dividido para aprovar o orçamento de 2026. Diante da pior crise política da França em décadas, muitos rivais de Macron exigem que ele convoque novas eleições parlamentares ou renuncie.

A reação imediata à nomeação de Lecornu por parte da extrema-direita e da extrema-esquerda foi contundente, sugerindo que seu segundo mandato como primeiro-ministro não será mais fácil do que o primeiro, que terminou na segunda-feira, quando ele renunciou após apenas 27 dias no cargo.

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“O governo Lecornu 2, nomeado por Emmanuel Macron, que está mais isolado e desconectado do que nunca no Palácio do Eliseu, é uma piada de mau gosto, uma desgraça democrática e uma humilhação para o povo francês”, postou no X o presidente do partido Reunião Nacional, Jordan Bardella.

Prioridade de Lecornu é aprovar o orçamento para 2026

Não houve reação imediata da liderança dos socialistas e dos republicanos conservadores, grupos cruciais para a sobrevivência de Lecornu.

A tarefa mais urgente de Lecornu será entregar um orçamento ao Parlamento até o final da próxima segunda-feira.

“Aceito — por dever de ofício — a missão que me foi confiada pelo presidente da República de fazer todo o possível para fornecer à França um orçamento até o final do ano e abordar as questões da vida cotidiana de nossos concidadãos”, escreveu ele no X.

“Devemos pôr fim a essa crise política que exaspera o povo francês e a essa instabilidade que prejudica a imagem da França e seus interesses.”

Lecornu acrescentou que quem se juntar ao seu governo terá que renunciar às ambições pessoais de suceder Macron em 2027, uma disputa que tem gerado instabilidade nos fracos governos minoritários e no Legislativo fragmentado da França. Ele prometeu que seu gabinete “incorporaria renovação e diversidade”.

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O entorno de Macron afirmou que Lecornu tem “carta branca”, sinalizando que o presidente está dando ao primeiro-ministro ampla liberdade para negociar o gabinete e o orçamento.

Partidos de esquerda irritados com Macron

Macron convocou mais cedo uma reunião com líderes dos partidos tradicionais para buscar apoio à sua escolha, mas irritou as legendas de esquerda ao revelar que nenhum deles seria nomeado primeiro-ministro.

A França enfrenta uma crise política em espiral, com uma série de governos minoritários lutando para aprovar orçamentos de austeridade em um Parlamento profundamente dividido.

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Após a reunião desta sexta-feira, os líderes dos partidos de esquerda disseram que Macron afirmou não planejar nomear um primeiro-ministro de esquerda, cargo que eles consideram seu por direito, após as escolhas anteriores de Macron, de centro, terem sido rejeitadas por parlamentares contrários aos cortes orçamentários propostos.

“Não buscamos a dissolução do Parlamento, mas também não temos medo dela”, disse o chefe do Partido Socialista, Olivier Faure, aos repórteres após a reunião.

Destino da reforma previdenciária é fundamental

O esforço do país para equilibrar as finanças, exigindo cortes orçamentários ou aumentos de impostos com os quais nenhum partido concorda, aprofundou o mal-estar.

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Se a Assembleia Nacional não conseguir consenso sobre o orçamento no prazo, poderá ser necessária legislação de emergência para manter o país funcionando com um orçamento de transição no próximo ano.

O chefe do banco central, François Villeroy de Galhau, previu que a atual incerteza política custaria 0,2 ponto percentual do PIB. O sentimento empresarial está abalado, mas a economia, em termos gerais, permanece estável, disse ele.

As difíceis negociações orçamentárias custaram a Macron três primeiros-ministros em menos de 12 meses.

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O ponto central das negociações recentes tem sido o desejo da esquerda de revogar as reformas previdenciárias de 2023, que aumentaram a idade de aposentadoria, e de tributar mais os ricos. Essas demandas têm sido difíceis de conciliar com os conservadores, cujo apoio Macron também precisa para aprovar o orçamento.

Na reunião desta sexta-feira, Macron ofereceu adiar o aumento da idade de aposentadoria para 64 anos em um ano, até 2028. A líder dos verdes, Marine Tondelier, considerou a concessão insuficiente.

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