Lula diz que Mercosul não pode ficar alheio à tensão entre Venezuela e Guiana por Essequibo

Os presidentes dos países do bloco sul-americano devem assinar uma carta na cúpula sobre o tema; Lula ofereceu o Brasil para sediar as conversas

Reuters

(Crédito: David Peterson/Pixabay)

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RIO DE JANEIRO (Reuters) – O Mercosul não pode ficar alheio à disputa entre Venezuela e Guiana sobre a região do Essequibo e está acompanhando com crescente preocupação o tema, disse nesta quinta-feira o presidente Luiz Inácio Lula da Silva na abertura da reunião de cúpula do bloco, que acontece no Rio de Janeiro.

“Nós estamos acompanhando com crescente preocupação os desdobramentos relacionados à questão do Essequibo. O Mercosul não pode ficar alheio a essa situação”, disse Lula. “Não queremos que esse tema contamine a retomada do processo de integração regional ou constitua ameaça à paz e à estabilidade.”

Os presidentes dos países do bloco sul-americano devem assinar uma carta na cúpula sobre o tema em que pedem à Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) e à antiga União de Nações Sul-Americanas (Unasul) que façam a mediação entre Venezuela e Guiana. Lula ofereceu o Brasil para sediar possíveis reuniões para que se tente chegar em um acordo.

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“Eu gostaria de dizer que nós vamos tratar com muito carinho, porque uma coisa que nós não queremos na América do Sul é guerra. Nós não precisamos de conflito, o que nós precisamos é construir a paz”, afirmou.

No domingo, a Venezuela fez um referendo sobre a anexação da região do Essequibo, que foi aprovada por ampla margem, segundo dados do governo venezuelano. Depois da votação, o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, divulgou um mapa novo do país já com o território.

A região, pertencente originariamente à chamada Grande Venezuela, foi ocupada pelos britânicos — então colonizadores da região da Guiana — no século 19. Uma arbitragem no início do século 20, questionada pela Venezuela, manteve o território então com o Reino Unido e, com a independência da Guiana, como parte do país.

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Apesar de inóspita e pouco povoada, a região do Essequibo representa dois terços do território da Guiana e é rica em minerais.

O governo brasileiro vem acompanhando a escalada do discurso venezuelano há várias semanas, e o assessor da presidência Celso Amorim foi enviado por Lula a Caracas, há cerca de duas semanas, para conversar com Nicolás Maduro, mas não teve sucesso em baixar o tom da oratória do presidente da Venezuela.

Do lado brasileiro da fronteira com os dois vizinhos, as Forças Armadas reforçaram sua presença e estão de prontidão. A única estrada que liga a Venezuela ao Essequibo atravessa por 400 quilômetros o território brasileiro no Estado de Roraima. O Brasil já avisou que não permitirá a entrada de militares venezuelanos.

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(Por Lisandra Paraguassu, em BrasíliaReportagem adicional de Fernando Cardoso, em São PauloEdição de Pedro Fonseca)