Juíza dos EUA vai ordenar libertação de salvadorenho deportado por erro judicial

Kilmar Ábrego Garcia foi deportado para El Salvador em março, mas voltou aos Estados Unidos, onde foi preso, em junho

Agência O Globo

Kilmar Ábrego-García, cidadão salvadorenho, conversa com um policial da Patrulha Rodoviária do Tennessee durante uma abordagem na Interestadual 40, no Tennessee, EUA, em 30 de novembro de 2022, em imagem extraída de vídeo de câmera corporal. Departamento de Segurança e Proteção Interna do Tennessee/Divulgação via REUTERS. ESTA IMAGEM FOI FORNECIDA POR TERCEIROS.
Kilmar Ábrego-García, cidadão salvadorenho, conversa com um policial da Patrulha Rodoviária do Tennessee durante uma abordagem na Interestadual 40, no Tennessee, EUA, em 30 de novembro de 2022, em imagem extraída de vídeo de câmera corporal. Departamento de Segurança e Proteção Interna do Tennessee/Divulgação via REUTERS. ESTA IMAGEM FOI FORNECIDA POR TERCEIROS.

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Uma juíza americana informou que prevê ordenar a libertação do migrante salvadorenho Kilmar Ábrego García, deportado por engano, desde que seja realizado seu julgamento por suposto tráfico de migrantes, em um novo revés para o governo do presidente Donald Trump. Ábrego García, de 29 anos, foi deportado pela administração Trump para El Salvador em março e devolvido por avião aos Estados Unidos em 6 de junho, devido, segundo a procuradora-geral Pam Bondi, a uma ordem de prisão apresentada às autoridades salvadorenhas.

No retorno, foi preso imediatamente e acusado, em Nashville, Tennessee, de tráfico de migrantes nos Estados Unidos entre 2016 e 2025. Seu caso se tornou um símbolo da disputa entre o governo republicano de Trump e os tribunais federais.

Ábrego García se declarou inocente das acusações criminais, e uma juíza federal determinou, no domingo, que os procuradores não apresentaram argumentos que justifiquem sua detenção enquanto aguarda o julgamento.

“O governo alega que Ábrego é um membro de longa data e bem conhecido da MS-13”, gangue declarada organização terrorista global por Washington, afirma a juíza Bárbara Holmes em sua decisão de 51 páginas.

“Mas Ábrego não tem antecedentes criminais (…) e a própria evidência do governo contradiz sua suposta participação em uma gangue”, sustenta. E acrescentou: “Os fatores a favor da liberdade superam todos os demais fatores a favor da detenção”.

O governo Trump afirmou que um salvadorenho que foi deportado por engano e depois trazido de volta aos EUA para responder a acusações criminais “nunca ficará livre” em solo americano, mesmo que um juiz tenha ordenado sua libertação.

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Holmes reconheceu que, ainda que ordene a soltura de Ábrego García em um pedido de vista judicial previsto para terça-feira, é provável que ele seja detido imediatamente por agentes federais da imigração. Assim, o veredicto do tribunal é mais “um exercício acadêmico”, admitiu a juíza. “A base da administração da nossa lei criminal depende das bases do devido processo”, ponderou, no entanto.

Ábrego García vivia em Maryland até se tornar um dos 200 migrantes enviados a uma prisão em El Salvador em março, como parte da ofensiva de Trump contra a imigração irregular.

Em 15 de março, o governo americano enviou 238 venezuelanos para El Salvador em vários voos. Entre os enviados estavam supostos membros de gangues como Tren de Aragua e MS-13, em virtude da Lei de Inimigos Estrangeiros de 1798, utilizada desde então somente em tempos de guerra.

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Durante meses, o governo Trump acusou Ábrego García, casado com uma americana, de ser membro da MS-13, o que sua família e advogados negam. García nunca foi condenado por essa acusação. Os advogados do Departamento de Justiça reconheceram que o salvadorenho foi expulso por um “erro administrativo”.

Em 2019, uma corte revogou permanentemente a possibilidade de expulsá-lo para El Salvador.