Irã sinaliza trégua com Israel em troca de negociação sobre programa nuclear

Teerã busca diálogo com EUA e Israel via países árabes, mas Netanyahu mantém ofensiva; guerra já afeta energia e estabilidade regional

Paulo Barros

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Após quatro dias de conflito com Israel, o Irã tem sinalizado, por meio de intermediários árabes, que deseja encerrar as hostilidades com os israelenses e retomar negociações sobre seu programa nuclear — desde que os Estados Unidos se mantenham fora dos ataques. A informação é do Wall Street Journal, que ouviu autoridades do Oriente Médio e da Europa envolvidas nas conversas.

Segundo a reportagem publicada nesta segunda-feira (16), Teerã enviou mensagens diplomáticas tanto a Israel quanto a Washington, indicando que estaria disposto a voltar à mesa de negociações. A principal exigência: que os EUA não participem diretamente dos ataques, mesmo com o suporte logístico e defensivo já em andamento.

Ainda segundo o WSJ, o Irã indicou que pode acelerar seu programa nuclear e expandir o escopo do conflito caso não haja perspectiva de diálogo com os EUA. Até o momento, porém, não há indício de que Teerã esteja disposto a ceder em pontos-chave, como a interrupção do enriquecimento de urânio, condição mínima exigida por Israel antes do início das atuais ofensivas.

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Pouco depois, a agência Reuters disse ter confirmado com fontes que Teerã pediu a Catar, Arábia Saudita e Omã que pressionassem o presidente dos EUA, Donald Trump, a usar sua influência sobre Israel para concordar com um cessar-fogo imediato com o Irã em troca da flexibilidade nas negociações nucleares.

Os mesmos países estavam pressionando por um cessar-fogo imediato e um retorno às negociações, em meio ao receio de que uma expansão do conflito pudesse colocar ativos energéticos em risco, com potenciais efeitos significativos sobre os mercados globais de petróleo.

O petróleo, que havia subido, mas voltou a ficar no zero a zero nesta segunda, passou a cair forte logo após vir à tona a notícia de que o Irã está buscando desescalar o conflito com Israel. Às 11h43 (de Brasília), o barril do WTI para julho cedia 4,80%, a US$ 69,46, e o do Brent para agosto perdia 4,62%, a US$ 70,95.

Israel mantém ofensiva

Mesmo diante dos sinais de desescalada por parte do Irã, Israel não demonstrou disposição de interromper os ataques. O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu afirmou que os bombardeios continuarão até que o programa nuclear iraniano e seus mísseis balísticos sejam eliminados. “Mudança de regime não é o objetivo, mas pode ser uma consequência”, disse.

Fontes israelenses citadas pelo WSJ afirmam que o país está preparado para ao menos duas semanas adicionais de bombardeios. Desde sexta-feira, Israel já matou figuras centrais do alto comando militar iraniano, especialmente da Força Aérea, deixando o aiatolá Ali Khamenei cada vez mais isolado politicamente. No entanto, analistas ouvidos pelo jornal afirmam que os danos às instalações nucleares foram limitados até agora, e que seria necessária uma longa campanha aérea para desmantelar completamente o programa nuclear iraniano.

Paulo Barros

Jornalista, editor de Hard News no InfoMoney. Escreve principalmente sobre economia e investimentos, além de internacional (correspondente baseado em Lisboa)