Governo Trump já avalia “dia depois” de queda de Maduro, diz jornal

Documentos obtidos pelo Washington Post mostram que o governo Trump discute cenários para uma eventual transição na Venezuela enquanto Maduro reforça segurança e evita negociar sua saída

Paulo Barros

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O governo Trump analisa possíveis cenários para o “dia depois” caso Nicolás Maduro seja removido do poder, segundo reportagem do Washington Post. Cinco meses após o início do reforço militar dos Estados Unidos no Caribe, o líder venezuelano segue no poder, mas sente maior pressão e restringe aparições públicas.

O Post relata que documentos internos da administração Trump indicam preocupação sobre a reação das Forças Armadas da Venezuela em um eventual colapso do regime. Esses papéis, obtidos pelo jornal, incluem planos da oposição para um governo de transição e avaliações sobre o grau de lealdade de oficiais militares.

O presidente venezuelano tem reforçado sua segurança, limitado deslocamentos e cancelado compromissos, de acordo com pessoas próximas ao governo citadas pelo Post. Elas afirmam que Maduro teme um ataque dos EUA a instalações estratégicas ou contra sua própria integridade, mas acredita que seu círculo interno permanece coeso.

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A oposição venezuelana discute planos para as primeiras horas e os primeiros 100 dias após uma eventual saída de Maduro, com eleições previstas no prazo de um ano. Esses documentos, segundo o jornal, incluem uma análise do corpo militar que classifica como “irrecuperáveis” apenas 20% dos oficiais.

Apesar disso, interlocutores citados pelo Post afirmam que ainda não está claro qual tipo de acordo poderia convencer Maduro a deixar o poder. Ele e seus aliados avaliam que permanecer no país é menos arriscado do que buscar exílio. O jornal lembra que a trajetória de líderes latino-americanos que deixaram seus países sob pressão costuma envolver riscos de segurança.

A reportagem aponta também que Cuba e Rússia ampliaram seu apoio a Maduro. Analistas ouvidos pelo Post avaliam que esses aliados podem dificultar qualquer negociação, já que Havana depende do petróleo venezuelano e teria muito a perder com uma eventual mudança de governo.

Trump e Maduro tiveram uma conversa telefônica no mês passado, e três pessoas com contato com o governo venezuelano disseram ao Post que o diálogo foi cordial e que Trump expressou desejo de ver Maduro deixar o cargo, mas sem ultimatos. Ambos teriam concordado em manter canais abertos.

Enquanto isso, intermediários tentam estimular alguma forma de negociação. Um deles foi o empresário Joesley Batista, que se reuniu com Maduro em Caracas em 23 de novembro para sondar possibilidades de diálogo com Washington, segundo informações do Financial Times.

Paulo Barros

Jornalista, editor de Hard News no InfoMoney. Escreve principalmente sobre economia e investimentos, além de internacional (correspondente baseado em Lisboa)