França oficializará reconhecimento da Palestina e desafia EUA e Israel na ONU

Anúncio ocorre em meio à 80ª Assembleia Geral, marcada por tensões sobre Gaza, Ucrânia e risco de retaliações diplomáticas

Marina Verenicz

24.09.2024 - Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, durante a Abertura do Debate Geral da 79ª Sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas, no Salão da Assembleia Geral, da Sede das Nações Unidas (ONU). Nova York - Estados Unidos.
Foto: Ricardo Stuckert / PR
24.09.2024 - Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, durante a Abertura do Debate Geral da 79ª Sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas, no Salão da Assembleia Geral, da Sede das Nações Unidas (ONU). Nova York - Estados Unidos. Foto: Ricardo Stuckert / PR

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A 80ª Assembleia Geral das Nações Unidas começa nesta segunda-feira (22) em Nova Iorque sob o peso de crises simultâneas: a guerra na Ucrânia, a violação do espaço aéreo da Estônia e, sobretudo, o impasse no Oriente Médio.

O primeiro dia já foi marcado por um gesto de grande impacto político: a França anunciou que fará o reconhecimento oficial do Estado da Palestina, numa decisão que confronta diretamente a posição de Israel e dos Estados Unidos.

O movimento francês ocorre em conjunto com Arábia Saudita, Bélgica, Luxemburgo, Malta, Andorra e San Marino. Somados a países que formalizaram apoio no domingo, como Reino Unido, Portugal, Canadá e Austrália, já são mais de 145 dos 193 membros da ONU a reconhecerem a Palestina como Estado.

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A Argélia, primeira a tomar essa decisão em 1988, abriu caminho para a adesão de países africanos, parte do Leste Europeu e da Rússia.

Resistência e represálias

Israel e EUA mantêm firme oposição ao reconhecimento, e Berlim e Roma também descartam a iniciativa no curto prazo. O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu reafirmou que “nunca haverá um Estado palestino” e ameaçou ampliar a colonização da Cisjordânia em resposta.

Washington indicou que poderá adotar medidas de retaliação diplomática contra Paris e outros governos europeus que aderirem ao movimento.

Para o secretário-geral da ONU, António Guterres, o risco de retaliação não deve travar a decisão. Ele classificou a política israelense como uma “anexação insidiosa” e lembrou que especialistas das Nações Unidas acusaram o governo Netanyahu de “genocídio” em Gaza, onde mais de 65 mil palestinos, em sua maioria civis, morreram desde o início da guerra em outubro de 2023.

Abbas fala por vídeo

Impedido de viajar a Nova Iorque após não receber visto, o presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, discursará por videoconferência. Em comunicado, chamou os reconhecimentos de “um passo essencial para uma paz justa e duradoura”.

A expectativa agora se volta para a terça-feira, quando o presidente americano, Donald Trump, subirá à tribuna. Já Netanyahu deve falar na sexta-feira, num discurso aguardado pela promessa de defender a estratégia militar israelense quase dois anos após o ataque do Hamas, que deixou mais de 1,2 mil mortos em Israel.