Emissões globais devem cair antes de 2030, mas isso não será suficiente, diz ONU

Mesmo com a possibilidade da queda, que ocorre através de novos planos climáticos nacionais, as metas deveriam ser mais agressivas para causar um efeito real

Victória Anhesini

Logotipo da ONU em janela no edifício-sede das Nações Unidas em Nova York
15/08/2014
REUTERS/Carlo Allegri
Logotipo da ONU em janela no edifício-sede das Nações Unidas em Nova York 15/08/2014 REUTERS/Carlo Allegri

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Um novo relatório da ONU divulgado nesta terça-feira (28) indica que as emissões globais de gases do efeito estufa devem começar a cair antes de 2030, algo inédito desde a criação do Acordo de Paris, em 2015.

Apesar do avanço, o ritmo da redução ainda é considerado insuficiente para limitar o aquecimento global a 1,5 °C, meta estabelecida para evitar os piores impactos da crise climática.

O estudo analisou 64 novos planos climáticos nacionais (NDCs) submetidos até 30 de setembro de 2025, que representam cerca de 30% das emissões mundiais.

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Segundo a ONU, a implementação desses objetivos levaria as emissões globais a atingir um pico antes de 2030, com queda média entre 11% e 24% até 2035 em relação aos níveis de 2019. Essa é a primeira vez que as NDCs juntas apontam para um caminho mais claro de queda.

Avanço simbólico

A projeção representa a primeira tendência global de queda efetiva das emissões. Ainda assim, a ONU diz que o progresso não é o suficiente. Para manter o aumento da temperatura dentro do limite de 1,5 °C, seria necessário reduzir as emissões em 60% até 2035, mas as metas atuais trazem uma diminuição média de somente 17%.

Mesmo com as novas metas, o planeta segue rumo a um aquecimento superior a 2°C, o que ampliaria a frequência e a intensidade de eventos extremos como ondas de calor, secas e enchentes.

O relatório da ONU, porém, mostra que 89% dos países agora estabelecem metas que cobrem toda a economia (incluindo energia, transporte e agricultura) e 73% das novas NDCs implementam medidas de adaptação aos impactos climáticos que já estão acontecendo. Além disso, 88% dos planos se baseiam no Global Stocktake, o primeiro balanço global do Acordo de Paris, finalizado em 2023.

Os novos compromissos também incluem temas sociais, como igualdade de gênero, participação de jovens e povos indígenas e transição justa para trabalhadores e comunidades afetadas pela mudança energética.

COP30

Enquanto isso, a União Europeia adiou novamente a definição de suas metas climáticas para 2035 e 2040, ampliando a pressão para que o bloco chegue à COP30, no Brasil, com uma proposta concreta.

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A Comissão Europeia propôs diminuir 90% das emissões até 2040, focando na neutralidade climática em 2050, mas enfrenta resistência de países como França, Alemanha e Itália, que pedem metas mais flexíveis para proteger suas indústrias.

Já Dinamarca e outros países do norte defendem a aprovação conjunta das metas intermediárias, o que reforça a credibilidade europeia nas negociações.

O impasse também envolve o uso de créditos de carbono internacionais, mecanismo que permitiria compensar parte das emissões fora do bloco. Essa opção foi criticada por ambientalistas, que afirmam que isso dilui a responsabilidade dos países desenvolvidos.

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A expectativa é que a COP30, que será realizada em Belém, no Pará, em novembro de 2025, sirva como uma plataforma de aceleração das ações climáticas, de acordo com Simon Stiell, secretário-executivo da UNFCCC.

O encontro será o primeiro desde a adoção das novas NDCs e deve marcar um ponto de virada entre promessas e implementação efetiva de políticas públicas e investimentos verdes.