Publicidade
A Apple iniciou nesta segunda-feira (9) mais uma edição da sua Worldwide Developers Conference (WWDC) em clima contido. A expectativa por grandes anúncios foi ofuscada por problemas internos no desenvolvimento de inteligência artificial (IA) e por uma crescente pressão do governo dos Estados Unidos para que a empresa relocalize toda sua produção para o território nacional.
O centro da controvérsia é a Siri personalizada, uma versão avançada da assistente virtual da Apple prometida na WWDC de 2024 como parte do pacote chamado Apple Intelligence. À época, a empresa prometeu entregar o recurso até o fim daquele ano. No entanto, nenhuma das funcionalidades anunciadas foi lançada até agora, e a companhia acabou sendo alvo de ações por propaganda enganosa.

Califórnia vai processar Trump por envio da Guarda Nacional, diz governador
Líderes da Califórnia exigiram que o presidente Trump retirasse as tropas de Los Angeles, após confrontos entre a polícia e manifestantes

Ordem de Trump: Guarda Nacional enfrenta manifestantes ao chegar em Los Angeles
Confronto ocorreu quando centenas de pessoas se reuniam em frente ao Centro de Detenção Metropolitana, no centro da cidade dos Estados Unidos
Segundo o jornalista John Gruber, a apresentação da nova Siri no evento de 2024 “não foi uma demonstração, foi um vídeo conceitual”. A Apple, inclusive, retirou do ar o comercial com a atriz Bella Ramsey, que mostrava a assistente agindo como uma espécie de secretária inteligente com “consciência de tela”, capaz de interagir com e-mails, mensagens e fotos em tempo real.
Bastidores expõem crise de gestão interna
Uma investigação do portal The Information revelou que o recurso de fato nunca existiu em forma funcional. A empresa teria criado equipes paralelas que não se comunicavam entre si: enquanto o time de IA, liderado por John Giannandrea, corria para desenvolver novas funções, a equipe da Siri, comandada por Robby Walker, focava em pequenas melhorias e sequer tinha conhecimento dos planos anunciados publicamente.
Com o avanço da concorrência no setor de IA — em especial da Microsoft, OpenAI, Google e Amazon — a Apple teria acelerado anúncios com base em conceitos não finalizados, na tentativa de preservar sua imagem de inovação, mesmo com o atraso técnico.
Jornalistas especializados já antecipam que o WWDC de 2025 não trará nenhuma revolução em IA, e que as promessas do Apple Intelligence foram “entregues ao mercado muito antes de estarem prontas”.
Continua depois da publicidade
Pressão de Trump: tarifas, ameaça à produção e perda de valor
Além da crise tecnológica, a Apple enfrenta pressão direta do governo Donald Trump, reeleito em 2024. Em seu segundo mandato, o republicano lançou uma nova onda de tarifas sobre produtos fabricados fora dos EUA, com foco em empresas de tecnologia como Apple, Microsoft e Nvidia.
Trump quer que toda a produção de iPhones ocorra nos EUA, sob a justificativa de fortalecer a indústria nacional e reduzir o déficit comercial. Como a Apple fabrica a maior parte de seus dispositivos na China — que foi taxada em 30% — a empresa mudou parte da produção para a Índia, onde a tarifa foi de apenas 10%. Mas Trump já ameaçou impor 25% de taxa sobre todos os produtos da Apple, inclusive os feitos na Índia.
A pressão afetou diretamente a posição da empresa no mercado. A Apple perdeu o posto de empresa mais valiosa do mundo, sendo superada por Microsoft (US$ 3,50 trilhões) e Nvidia (US$ 3,46 trilhões). Atualmente, o valor de mercado da big tech gira em torno de US$ 3,05 trilhões.
Continua depois da publicidade
EUA não têm capacidade de absorver produção da Apple
Mesmo que a Apple decidisse atender à exigência de Trump, os Estados Unidos não têm hoje capacidade técnica e educacional para absorver toda a cadeia produtiva dos dispositivos da empresa.
Segundo dados do CSET (Centro de Segurança e Tecnologia Emergente), 41% dos graduados na China atuam em áreas STEM (Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática), enquanto nos EUA o índice é de apenas 20%. A montagem do iPhone exige mão de obra altamente especializada — algo que a infraestrutura americana ainda não oferece em escala suficiente.
Além disso, boa parte dos componentes eletrônicos usados pela Apple não é fabricada nos EUA, o que torna impossível a nacionalização total da produção sem reformas estruturais e investimentos de longo prazo. A ameaça de tarifas pode, portanto, ter efeito inverso ao desejado, elevando ainda mais os preços para o consumidor americano e acirrando a disputa geopolítica com a China e a Índia.