Chile deve eleger no domingo seu presidente mais à direita desde Pinochet

Com forte apoio popular e um Congresso dividido, Kast enfrenta o desafio de equilibrar seu discurso duro com a necessidade de negociações para governar um país dividido e ansioso por mudanças rápidas

Reuters

Candidato presidencial chileno José Antonio Kast participa de debate eleitoral em Santiago, Chile
09/12/2025
REUTERS/Pablo Sanhueza
Candidato presidencial chileno José Antonio Kast participa de debate eleitoral em Santiago, Chile 09/12/2025 REUTERS/Pablo Sanhueza

Publicidade

Com liderança dominante nas pesquisas de opinião e um eleitorado que clama por segurança, espera-se que o candidato de extrema direita José Antonio Kast vença o segundo turno presidencial do Chile no domingo, tornando-se o líder mais conservador do país desde a ditadura militar.

Kast concorre contra Jeannette Jara, candidata da coalizão de esquerda do governo e membro do Partido Comunista. Uma vitória de Kast representaria a mudança política mais significativa do país em décadas e se somaria à crescente onda de governos de direita na América Latina, impulsionada por preocupações com criminalidade e migração.

Leia mais: Eleições no Chile: Crise na segurança impulsiona ultradireita no país

Continua depois da publicidade

“Isso levaria ao poder o presidente mais direitista do Chile desde Pinochet”, afirmou Nicholas Watson, diretor administrativo da consultoria Teneo, referindo-se a Augusto Pinochet, ditador que governou o país com mão de ferro entre 1973 e 1990.

Kast, 59 anos, fez campanha como estudante para manter Pinochet no poder durante o referendo de 1988, mas Watson ressalta que ele é um democrata e menos bombástico que outros líderes de direita da região, como o argentino Javier Milei ou o salvadorenho Nayib Bukele.

“Kast não é nenhum Pinochet”, disse Watson. “Uma das grandes questões, caso ele vença, é o quanto ele se mostrará ideologicamente flexível.”

Congresso moderador

Linha-dura ao longo de uma carreira que começou na política local, Kast se afastou do tradicional e conservador Partido da União Democrática Independente em 2016 e fundou seu atual Partido Republicano.

Os republicanos tiveram papel de destaque na segunda tentativa do Chile de reescrever sua constituição, que remonta à ditadura de Pinochet, mas foi rejeitada pelos eleitores por ser considerada polarizadora e mais conservadora que o texto original.

Leia mais: Ações e moeda chilenas disparam após eleição abrir caminho para presidente de direita

Continua depois da publicidade

Agora, Kast promete enviar militares a bairros com alto índice de criminalidade, construir muros e trincheiras na fronteira e criar uma força policial especializada, nos moldes da imigração dos EUA, para rastrear e deportar migrantes ilegais, a maioria venezuelanos, segundo dados do governo.

Embora o Partido Republicano e outros partidos de extrema direita tenham ganhado influência no Congresso nas eleições de novembro, o legislativo está dividido entre direita e esquerda, exigindo negociações para aprovar reformas.

Os parlamentares que Kast precisará para garantir maioria são moderados, afirmou Patricio Navia, professor de estudos liberais da Universidade de Nova York.

Continua depois da publicidade

“Se ele começar a governar pela extrema direita, será um presidente de minoria e não conseguirá fazer nada”, disse.

O presidente que está deixando o cargo, Gabriel Boric, que prometeu transformar o Chile no túmulo do neoliberalismo, enfrentou o mesmo problema com um Congresso dividido. Sua tentativa de reescrever a constituição também foi rejeitada de forma esmagadora.

Os chilenos esperam mudanças rápidas do novo presidente, disse Marta Lagos, fundadora do Latinobarómetro, pesquisa de opinião pública na América Latina.

Continua depois da publicidade

“Não acho que ele terá uma lua de mel no início. Se em uma semana não conseguir impedir roubos de carros e tiroteios, dirão que não foi bem-sucedido”, afirmou.

Investidores já precificaram expectativas de mudança política para a direita, impulsionando uma recuperação do mercado que dura um ano, baseada em políticas e regulações mais favoráveis ao mercado.

Eleitores indecisos

No primeiro turno da eleição presidencial, em 16 de novembro, Jara e Kast obtiveram cerca de um quarto dos votos cada, com Jara à frente por pouco.

Continua depois da publicidade

A maior parte dos outros candidatos era de direita, e espera-se que seus votos se direcionem a Kast, dando-lhe os 50% necessários para vencer.

O outsider populista Franco Parisi ficou em terceiro lugar, com pouco menos de 20% dos votos, e pediu que seus eleitores votassem em branco. A votação no domingo é obrigatória, e pesquisas indicam que cerca de 20% dos eleitores estão indecisos, aumentando a incerteza.

No entanto, a maioria dos analistas considera a chance de vitória de Jara muito pequena e acredita que a principal questão é quanto Kast ganhará e como governará.

“O mais importante no domingo não será se Kast vencerá, isso já sabemos, mas o que ele dirá em seu discurso”, disse Navia. “Será um sinal de unidade ou de divisão?”