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Após cerca de 70 países terem realizado eleições presidenciais ou parlamentares em 2025, com poucas surpresas nos resultados nas urnas, quais as disputas que mais vão chamar a atenção em 2026. E que tipo de mudanças na geopolítica global esses confrontos de ideias pode trazer ou consolidar. Alguns centros de estudos internacionais detalharam suas percepções na últimas semanas e o InfoMoney consolidou essas análises.
O CIDOB, um centro de investigação de relações internacionais com sede em Barcelona, destacou que o ano que vai começar será de um rearranjo global, após o início da segunda gestão de Donald Trump ter inaugurado o que os especialistas do centro classificaram como uma era de instrumentalização da coerção econômica e tecnológica.
“O novo ano testará a capacidade de se adaptar para lidar com a geopolítica brutal: quem vence, quem encontrará acomodação ou momentos favoráveis para influenciar uma ordem caótica, quem resiste e quem se sente deslocado, sem as ferramentas ou a liderança para enfrentar mudanças”, escreveu o CIDOB.
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O think tank também destacou que o intervencionismo militar está aumentando e que até a paz tornou-se um ativo com retornos econômicos. Além da corrida global dos principais atores – como EUA, China e União Europeia — para diversificar alianças em tempos incertos, o centro também observou que um “cansaço geracional” tem abalado metade do mundo.
Outra característica dos últimos anos que deve permanecer em 2026 é que chamada geração Z, os nascidos aproximadamente entre meados da década de 1990 e 2010, está se mobilizando em vários países e continentes para exigir mudanças em sistemas políticos imperfeitos, corruptos e desiguais. Foram citados protestos e distúrbios em locais como Nepal, Madagascar, Marrocos, Peru, Indonésia, Filipinas, Bangladesh e Sri Lanka.
“Todos esses protestos são um sinal da crescente impaciência da população diante da crescente distância que separa as expectativas da realidade. Portanto, a questão é se 2026 trará novos surtos inesperados”, comentou o CIDOB.
Na avaliação do The Council on Foreign Relations (CFR), as eleições marcadas para 2026 certamente repetirão a mistura entre esperado e inesperado. Um exemplo do que não deve trazer surpresas é o resultado da eleições da Duma na Rússia, com o Partido Rússia Unida, pró-Putin, mantendo sua maioria. E as eleições legislativas do Vietnã, por sua vez, quase certamente confirmarão a vitória do Partido Comunista.
Veja abaixo algumas das eleições mais importantes em 2026
América do Sul
Após vitórias importantes das forças da direita no continente em 2025 — casos de Rodrigo Paz na Bolívia, de José Antonio Kast no Chile, da reeleição de Daniel Noboa no Equador e do fortalecimento de Javier Milei na disputa parlamentar na Argentina –, o novo ano pode consolidar essa onda de vez.
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Em 12 de abril, acontecem as eleições gerais no Peru, um país que fez da instabilidade política sua principal marca: foram nada menos que sete presidentes desde 2016 — três deles foram removidos pelo Congresso e dois renunciaram. O episódio mais recente ocorreu em outubro, quando Dina Boluarte foi substituída por José Jerí. Os destaques entre os vários potenciais candidatos à presidência são Rafael López-Aliaga, Keiko Fujimori, Mario Vizcarra, Carlos Álvarez e César Acuña.
A eleição presidencial da Colômbia está marcada para 31 de maio. O presidente Gustavo Petro, um ex-guerrilheiro de esquerda, está impedido constitucionalmente de disputar a reeleição. Mas seria de qualquer forma uma vitória difícil, após uma presidência foi marcada por escândalos de corrupção, problemas em implementar termos do acordo de paz de 2016 com as FARC, e embates verbais diretos com os Estados Unidos.
Em meio à queda de popularidade de Petro, o país ainda está traumatizado pelo assassinato do senador da oposição Miguel Uribe Turbay, um candidato natural para 2026.
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O Partido Pacto Histórico de Petro indicou o senador Iván Cepeda como seu candidato, e ele tem liderado pesquisas, mas sem uma vantagem que possa ser considerada imbatível. Seus principais adversários provavelmente serão Sergio Fajardo, de linha centrista e que concorre pela terceira vez consecutiva, e o conservador de direita Abelardo de la Espriella, advogado que faz campanha contra a corrupção e pelos valores familiares.
Em outubro, será a vez de o Brasil escolher o novo presidente, governadores e de renovar parte do Senado e toda a Câmara de Deputados. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva será candidato pela sétima vez e tentará um inédito quarto mandato.
Embora esteja liderando a maiorias das pesquisas, o cenário político continua muito polarizado. Sem Jair Bolsonaro na disputa, Lula pode ter como principal adversário Flavio Bolsonaro, filho do ex-presidente. Mas ainda estão no páreo os governadores de São Paulo, Tarcísio de Freitas; de Minas Gerais, Romeu Zema; de Goiás, Ronaldo Caiado, e do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite; e do Paraná, Ratinho Jr.
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EUA (meio de mandato)
As eleições de meio de mandato, quando toda a Câmara dos Representantes e um terço do Senado dos EUA estarão em disputa em 3 de novembro e devem servir como um indicador da popularidade do presidente Donald Trump. Para o CFR, os resultados podem mudar drasticamente o rumo da política local.
Segundo lembra o centro de relações internacionais, a votação de meio de mandato para a Câmara geralmente funciona como um referendo sobre o presidente em exercício, com os eleitores historicamente sendo avaliadores rigorosos. O partido do presidente ampliou suas cadeiras na Câmara em apenas duas das últimas quinze eleições de meio de mandato. Enquanto isso, a perda média foi de vinte e quatro assentos.
Os republicanos atualmente têm apenas uma margem de sete cadeiras na Casa. Esse foi um dos motivos pelos quais Trump pressionou estados como Texas, Missouri, Carolina do Norte, entre outros, para redesenharem seus mapas eleitorais para conquistar mais assentos republicanos. Alguns estados democratas estão tentando fazer o mesmo atualmente.
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No Senado, as chances republicanas estão maiores: há 35 cadeiras em disputa e o Partido Republicano precisa defender 24 vagas, mas em 22 desses estados, Trump venceu por 10 pontos porcentuais ou mais na eleição de 2024.
O maior problema está na insatisfação do eleitorado. Cerca de 60% deles dizem que o país está indo na direção errada e afirmam que a ansiedade econômica está alta. Há uma crise de acessibilidade, sensação de aumento do custo de vida, salários estagnados e medos crescentes de que a inteligência artificial possa destruir mais empregos do que gera.
Bangladesh
A eleição de 12 de fevereiro em Bangladesh será a primeira desde que a primeira-ministra Sheikh Hasina e seu governo da Liga Awami foram destituídos do poder em agosto de 2024 devido a protestos liderados por estudantes. O campo eleitoral de 2026 está fragmentado, e os partidos discordam sobre as regras eleitorais e sua aplicação. Dois partidos nacionalistas conservadores disputam a liderança: o Partido Nacionalista de Bangladesh (BNP), sob comando de Tarique Rahman, e o Jatiyo, liderado por GM Quader. O BNP era o principal partido de oposição quando Sheikh Hasina estava no poder e era alvo de sua repressão. A Jamaat-e-Islami busca liderar uma coalizão de partidos islamistas que pressionam por reformas constitucionais e apresenta uma lista de novos candidatos para sinalizar mudança geracional. Enquanto isso, o Partido Nacional do Cidadão está fazendo campanha com a promessa de criar uma “Segunda República” baseada em uma nova constituição.
Hungria
Viktor Orbán, primeiro-ministro da Hungria e líder com mais tempo de mandato na União Europeia, deve enfrentar seu primeiro desafio sério nas urnas em 12 de abril, após ter obtido por quatro vezes seguidas maiorias absolutas para seu partido de direita, o radical e eurocético Fidesz. Liderando as pesquisas desde o outono de 2024 está o Respect and Freedom (TISZA), um partido conservador pró-europeu fundado em 2020 e que ganhou destaque sob a liderança do eurodeputado Péter Magyar, ex-membro do Fidesz que agora chama Orbán de “ditador” e “mafioso”. A campanha provavelmente se concentrará na inflação, nos custos de energia e no crescimento econômico lento. A questão é se a oposição, que entrou em desordem após a eleição de 2022, pode aproveitar a insatisfação pública.
Suécia
As eleições gerais na Suécia em 13 de setembro têm sido tratadas como um indicador da força da política populista na Europa, além de um medidor do impacto das campanhas de influência estrangeira. O país é governado desde 2022 por uma coalizão de centro-direita liderada pelo primeiro-ministro Ulf Kristersson e composto pelos partidos Moderado, Democratas da Suécia, Democrata Cristão e Liberal. Mas o governo tem enfrentado um aumento da violência de gangues, bem como debates sobre regras de imigração e cidadania, temas que foram responsáveis por levar Kristersson ao poder. As principais questões da campanha devem ser o rápido rearmamento militar após a entrada do país na Otan (2024), a política fiscal, o aumento do narcocrime e o controle da imigração.
Israel
A não ser que ocorra uma votação antecipada, em 27 de outubro os israelenses devem eleger a nova Knesset, a assembleia legislativa unicameral de Israel. Mesmo após enfrentar uma forte crise de reputação pela condução errática da situação dos reféns do Hamas, o primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, e seu partido de direita Likud, são os favoritos. Com o apoio incondicional de Donald Trump e uma gestão de mão firme na guerra em Gaza, além de da condução do conflito armado com o Irã, Netanyahu ainda deve usar o atual acordo de cessar-fogo ao seu favor. Nem seu julgamento por corrupção, nem o mandado de prisão emitido pelo Tribunal Penal Internacional (TPI) por crimes de guerra e crimes contra a humanidade têm conseguido prejudicar o apoio majoritário dos israelenses às opiniões do primeiro-ministro.
França e Reino Unido
Estão marcadas para 15 e 22 de março as eleições locais na França quando serão escolhidos os prefeitos e os integrantes de conselhos municipais e, no caso das grandes cidades, conselhos metropolitanos ou de distrito. Em cidades como Paris, Marselha ou Lyon, mudanças serão feitas para separar o voto entre os conselhos central e distrital, rompendo com o sistema anterior. Espera-se que isso provoque uma maior divisão entre o poder metropolitano e o local. Os resultados serão um indicativo antes das próximas eleições nacionais, marcadas para 2027.
No Reino Unido, mais de 4.000 cadeiras de conselhos municipais na Inglaterra estarão em disputa em 7 de maio, incluindo os assentos dos 32 distritos de Londres. Existe uma expectativa de que possa haver uma repetição dos resultados das eleições locais de maio de 2025, que trouxeram uma vitória ao Reform UK, o partido nacional-populista de direita de Nigel Farage. Derrotados, os conservadores de Kemi Badenoch e o Partido Trabalhista do primeiro-ministro Kier Starmer, estão sofrendo nas pesquisas.