Agricultores bloqueiam cidades na França contra acordo UE-Mercosul

Setor agrícola teme concorrência desleal e cobra garantias de padrões sanitários e ambientais

Bloomberg

Agricultores franceses se reúnem com seus tratores em frente à Prefeitura de Vendee durante um dia de protestos convocados pelo sindicato agrícola francês FNSEA para protestar contra o acordo de livre comércio UE-Mercosul com os países sul-americanos e as tarifas dos EUA, em La Roche-sur-Yon, França, 26 de setembro de 2025. O slogan diz "Origem França, apoio à transparência da origem". REUTERS/Stephane Mahe
Agricultores franceses se reúnem com seus tratores em frente à Prefeitura de Vendee durante um dia de protestos convocados pelo sindicato agrícola francês FNSEA para protestar contra o acordo de livre comércio UE-Mercosul com os países sul-americanos e as tarifas dos EUA, em La Roche-sur-Yon, França, 26 de setembro de 2025. O slogan diz "Origem França, apoio à transparência da origem". REUTERS/Stephane Mahe

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Agricultores realizaram protestos em várias regiões da França para pressionar o governo a barrar um acordo de livre comércio da União Europeia com países da América do Sul, alegando risco de concorrência desleal.

Centenas de tratores ocuparam dezenas de cidades e vilarejos no maior produtor agrícola da Europa, atendendo a convocação de sindicatos rurais para um dia de manifestações contra o pacto com o Mercosul. Um grupo de cerca de 20 veículos estacionou em frente aos portões do Palácio de Versalhes, sob a estátua de Luís XIV, informou o site France Info.

As manifestações, organizadas por sindicatos de forte influência — que no ano passado bloquearam cidades em protesto contra importações baratas — ampliam o cenário de turbulência política na França, após três quedas de governo em 12 meses. O novo primeiro-ministro, Sébastien Lecornu, tenta há semanas elaborar um orçamento de austeridade.

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Arnaud Rousseau, presidente da FNSEA, disse em entrevista ao Le Journal du Dimanche em 14 de setembro que o protesto foi convocado principalmente contra o acordo com o Mercosul, mas também em resposta às tarifas impostas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e à entrada de produtos que não respeitam os padrões franceses, como ovos ucranianos.

Agricultores franceses vestindo coletes verdes com os logotipos FNSEA e FDSEA protestam durante um dia de ações convocadas pelo sindicato agrícola francês FNSEA para protestar contra o acordo de livre comércio planejado entre a UE e o Mercosul com os países sul-americanos e as tarifas dos EUA, em La Roche-sur-Yon, França, 26 de setembro de 2025. REUTERS/Stephane Mahe

A Comissão Europeia publicou neste mês o texto final do tratado, que precisa de aprovação do Parlamento Europeu e de maioria qualificada entre os 27 países-membros. A UE tem acelerado negociações para diversificar acordos comerciais diante da guinada protecionista dos EUA sob Trump.

Associações que representam produtores franceses de carne, aves, beterraba, açúcar, etanol e grãos afirmaram em comunicado conjunto que Paris deve se recusar a assinar o tratado e buscar formar uma coalizão com outros países da UE para barrar a ratificação. O setor teme a entrada de produtos mais baratos e pede garantias de que concorrentes latino-americanos cumpram regras sanitárias e ambientais europeias, inclusive sobre antibióticos e pesticidas.

Os sindicatos afirmaram que as cláusulas de salvaguarda incluídas no texto final são “apenas uma cortina de fumaça”, por serem lentas e complexas de acionar, sem oferecer proteção real contra as importações do Mercosul. A ministra da Agricultura, Annie Genevard, elogiou a inclusão dessas salvaguardas, mas disse que ainda são necessárias medidas adicionais para proteger plenamente agricultores franceses e europeus.

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