Você usa Open Finance? Se não, culpa pode ser do banco, aponta Google Cloud

Estudo revela que instituições financeiras ainda engatinham na oferta de serviços para os clientes, o que pode explicar baixa adesão ao sistema de compartilhamento de dados

Maria Luiza Dourado

Publicidade

Um número ainda baixo de bancos brasileiros exploram de maneira satisfatória as vantagens que o Open Finance possibilita, segundo dados revelados nesta terça-feira (27) pelo Google Cloud no Brasil, em parceria com a R/GA.

O “FinFacts – descobertas e oportunidades que valorizam os serviços financeiros”, que está em sua quarta edição, considerou 19 instituições financeiras, entre bancos tradicionais e fintechs, com análises foram coletadas no período de 20 de fevereiro a 31 de março de 2025.

Segundo o levantamento, 11 instituições financeiras não exibem saldos bancários de outros bancos via Open Finance; 6 ainda não oferecem a possibilidade de realizar transações com o saldo de outra conta; e apenas 4 oferecem algum produto financeiro ou benefício logo após o opt-in (aceite) do Open Finance.

Tecnologia

50 prompts para organizar sua vida financeira

Preencha o campo corretamente!
E-mail inválido!
Preencha o campo corretamente!

Ao informar os dados, você concorda com a nossa Política de Privacidade.

Os buracos deixados pelas instituições financeiras podem ser uma explicação para o baixo entendimento da população brasileira sobre os benefícios do sistema de compartilhamento de dados entre bancos – uma pesquisa recente mostrou que 34% dos clientes de bancos afirmam conhecer ou conhecer muito sobre o Open Finance, mas somente 27% entendem que o sistema compartilha dados entre instituições financeiras; além disso, 17% dos entrevistados admitiram não saber nada sobre o tema.

Motivos do “corpo mole”

O medo de perder a principalidade, ou seja, de ser o principal banco do cliente – já que o brasileiro tem, em média, seis contas – certamente é um fator relevante por trás de um possível boicote velado dos bancos ao Open Finance, segundo Alex Hoffmann, CEO e cofundador da PagBrasil, empresa de tecnologia especializada em pagamentos digitais.

Ainda assim, Hoffmann destaca os desafios técnicos para a adoção do sistema. Ele explica que, embora o Open Finance seja regulado pelo Banco Central, sua operação é descentralizada, o que acaba gerando inconsistências que prejudicam a experiência do usuário e desaceleram a tração do ecossistema como um todo.

Continua depois da publicidade

“Diferente do SPI (Sistema de Pagamentos Instantâneos), usado no Pix, que é regulado e operado pelo próprio Banco Central, no modelo de Open Finance, os bancos se conectam diretamente entre si por meio de APIs padronizadas. Porém, como cada instituição é responsável por sua própria implementação, há variações na interpretação desses padrões. Isso gera incompatibilidades que, muitas vezes, não recebem a prioridade necessária para serem resolvidas. O resultado é que o Open Finance nem sempre funciona como deveria — e, em alguns casos, funciona melhor em uma instituição do que em outra”, explica.

Já para D’Ávila, do Google Cloud, a alta regulação do setor financeiro no Brasil acaba impactando na adoção de novas tecnologias como um todo, sobretudo o Open Finance, que traz grandes alterações, já que estabelece um novo modelo de negócio no setor.

“Entender [os motivos por trás do atraso de algumas instituições financeiras no sistema] é complexo. Passa por repensar o modelo de negócios, já que, até então, o cliente era meu e boa parte das receitas eu, banco, fazia por meio de tarifas. E agora passo a abrir o nome desse cliente e a disputar sua atenção com outras instituições, porque existe a portabilidade. E ainda é preciso conciliar essa questão com as demais agendas, de regulação”, pontuou D’Ávila.

Continua depois da publicidade

No limite, o atraso também pode estar ligado à estrutura do sistema financeiro, segundo Marisa Kinoshita, Head de Marketing do Google Cloud no Brasil. “Os bancos sempre foram voltados ao produto e se estruturam dessa forma. A pesquisa mostrou que 4 dos 19 bancos ainda exigem um novo formulário para o cliente quando ele pede um cartão de crédito. Isso mostra a dificuldade de integrar as áreas, que se dividem em produtos. O Open Finance coloca o cliente totalmente no centro, e os sistema financeiro não se estruturou assim”, explica.

Contratação de serviços financeiros nos apps tem espaço para evolução

O FinFacts também analisou a experiência de contratação de produtos e serviços financeiros e o onboarding de novos clientes nos aplicativos. Entre os insights descobertos, destaca-se que:

Além disso, em relação ao uso da inteligência artificial na experiência do cliente, o estudo apontou que 5 das 19 instituições ainda não utilizam linguagem natural em seus chatbots, 6 entregaram resultados para buscas semânticas dentro de seus aplicativos e mais da metade (11) instituições ficaram sem oferecer produtos a novos clientes no primeiro mês de conta.

Continua depois da publicidade

Os resultados demostram uma dissonância diante do cenário competitivo atual e da busca dos bancos por incremento orgânico de receitas. “Os consumidores estão mais exigentes, querendo mais rapidez e agilidade e com uma preferência cada vez maior pela contratação de serviços financeiros online”, disse Rafael D’Ávila, head de Serviços Financeiros no Google Cloud, no evento.

IA pode lidar com os desafios

Para Marisa Kinoshita, Head de Marketing do Google Cloud no Brasil, o estudo FinFacts reforça a importância de as instituições financeiras olharem, cada vez mais, para a IA como uma ferramenta capaz de ajudar a promover as transformações necessárias.

“Diante de todos esses desafios e a competição crescente no setor financeiro, a IA atua como uma grande aliada para oferecer experiências cada vez mais intuitivas, personalizadas e seguras, o que pode ser um diferencial para definir o nível de relacionamento que o cliente terá com seu banco ou fintech”, conclui.

Continua depois da publicidade

Já segundo D’Ávila, a IA é capaz de auxiliar a interação dos os clientes, por meio dos agentes de IA, além de auxiliar na busca de dados e obtenção de insights com menos atrito, por meio da busca assistida, e na detecção de padrões ameaças e no embasamento de ações de prevenção a golpes, e, internamente, na automação e aumento da eficiência das operações de middle e back office e na gestão de riscos.

Maria Luiza Dourado

Repórter de Finanças do InfoMoney. É formada pela Cásper Líbero e possui especialização em Economia pela Fipe - Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas.