Sobrou dinheiro e quero guardar para o futuro: coloco no INSS ou na previdência?

Especialistas alertam para os riscos de não ter um planejamento e mostram que previdência e INSS podem fazer parte da mesma estratégia

Carla Carvalho

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Para quem trabalha sem carteira assinada, a dúvida costuma surgir quando sobra algum dinheiro no fim do mês: vale a pena aumentar a contribuição ao INSS ou faz mais sentido buscar outra forma de complementar a aposentadoria? A decisão parece simples, mas envolve regras, limites e riscos que nem sempre ficam claros para quem contribui por conta própria.

O advogado Gabriel Martel, do Fonseca Brasil Serrão Advogados, explica que o INSS funciona como um sistema de seguro, pois apenas quem contribui pode usufruir dos benefícios. O problema começa quando essa contribuição é feita sem planejamento ou com a crença de que pagar mais hoje vai garantir uma aposentadoria maior no futuro automaticamente.

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Na mesma linha, a advogada Daniela Poli Vlavianos, do Arman Advocacia, alerta que pagar o INSS todos os meses não garante, por si só, uma proteção adequada. Segundo ela, contribuições que não foram feitas corretamente podem até existir no histórico, mas não geram o resultado esperado quando se solicita a aposentadoria lá na frente.

É a partir desse ponto que a discussão entre INSS ou previdência privada ganha relevância. Não se trata de uma escolha excludente, e sim de uma estratégia mais ampla de proteção e construção das reservas para o futuro.

Para esclarecer essas questões, o InfoMoney ouviu dois especialistas na área. A seguir, você verá as principais respostas sobre como funciona a contribuição ao INSS para quem trabalha por conta própria e de que forma a previdência privada pode se encaixar no planejamento de longo prazo.

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Quem trabalha sem carteira assinada precisa contribuir para o INSS?

Sim, pois autônomos, profissionais liberais, prestadores de serviço e trabalhadores informais não estão fora do sistema previdenciário. Pela legislação, essas pessoas se enquadram, em regra, como contribuintes individuais e são segurados obrigatórios do INSS.

Na prática, isso significa que a contribuição é o que garante acesso a benefícios como aposentadoria, auxílio-doença, salário-maternidade e pensão por morte. Logo, quem não recolhe não conta com uma cobertura previdenciária, salvo exceções muito específicas previstas por lei.

Dá para escolher quando e quanto contribuir?

Segundo os especialistas, é nesse ponto que mora um dos grandes riscos de quem pensa em INSS ou previdência privada da mesma forma.

Existe alguma liberdade, mas ela é mais restrita, pois o INSS não tem a mesma flexibilidade da previdência quanto aos aportes. O contribuinte individual pode escolher quando começar a contribuir e qual valor vai recolher, desde que respeite o salário mínimo como base mínima e o teto do INSS como limite máximo.

No entanto, o cuidado deve começar na escolha da alíquota e do plano. Há opções de 20%, 11% ou 5%, mas nem todas garantem acesso aos mesmos tipos de aposentadoria, alerta Gabriel Martel.

“Quando a pessoa escolhe uma alíquota menor sem entender as regras, ela pode acabar contribuindo para um tipo de benefício mais limitado, e isso impacta o valor que vai receber no futuro”, explica o advogado. Além disso, erros no código de recolhimento ou no valor informado podem gerar falhas no histórico de contribuições, e é trabalhoso corrigir isso depois.

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Os erros mais comuns de quem contribui sozinho

Na prática, muitos problemas previdenciários não surgem da falta de pagamento, mas de contribuições feitas de forma inadequada. Entre os erros mais frequentes, estão: 

“Muitas vezes, esses erros só aparecem no momento do pedido do benefício e podem gerar indeferimentos ou prejuízos difíceis de reverter”, alerta Daniela Vlavianos.

Posso aumentar a contribuição para “guardar mais” para a aposentadoria?

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Aqui está um ponto central na discussão entre INSS ou previdência privada que nunca é demais lembrar: o INSS não funciona como poupança. Isso significa que não se pode fazer aportes extras fora das regras, reforça Gabriel Martel.

“Não existe contribuição voluntária extra no INSS; a única forma de aumentar o benefício é elevar a base de cálculo dentro dos limites do sistema”, reforça o advogado.

Ou seja, pagamentos acima do teto previdenciário não aumentam o valor da aposentadoria. Quem faz isso, pode facilmente perder dinheiro.

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Para não esquecer: INSS não é poupança

Como o planejamento com previdência ajuda a evitar esses erros

O ponto de convergência entre os especialistas é claro: contribuir para o INSS sem planejamento pode criar uma falsa sensação de segurança. 

Isso porque a legislação previdenciária é bastante técnica, cheia de detalhes e sujeita a mudanças frequentes. Logo, tratar a contribuição como uma obrigação automática, sem estratégia, expõe o trabalhador a riscos que só aparecem quando o benefício se torna necessário.

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Boa parte dessa resistência ao planejamento com previdência vem de uma visão antiga sobre o produto. Durante muito tempo, ele foi associado a altas taxas, pouca flexibilidade e carteiras engessadas. 

Mas esse cenário mudou, como explica Clara Sodré, analista de fundos da XP Investimentos. Segundo ela, hoje a previdência já funciona como um instrumento integrado ao planejamento financeiro, pois há fundos mais modernos e com diferentes níveis de risco.

“Não é mais um impeditivo para o investidor diversificar a carteira por meio da previdência privada”, afirma a especialista.

Outro diferencial da previdência é a disciplina de longo prazo que ela favorece, pois os aportes recorrentes ajudam a transformar o planejamento em hábito. Como resume clara, trata-se de um investimento em que “todo mês vai ter um débito na conta para engordar o patrimônio lá na frente”.

Para quem já faz as suas contribuições ao INSS da forma certa, separar as funções pode ser o caminho mais eficiente. Nesse caso, o INSS entra como proteção básica e a previdência privada, como ferramenta de construção de reserva.

Em todo esse processo, contar com apoio especializado faz toda diferença. A equipe da XP pode ajudar na escolha do fundo de previdência mais adequado, considerando perfil, horizonte de tempo e integração com os demais investimentos.