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Apesar do avanço em 2009, small caps ainda reservam boas oportunidades

Para gestores, ações continuam atrativas; recomendações focam empresas voltadas à baixa renda e economia doméstica

Julia Ramos M. Leite

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SÃO PAULO – O avanço das small caps este ano foi surpreendente – até agora, o SMLL acumula alta de 84,14% em 2009, uma das maiores entre os índices listados na bolsa brasileira. Mas, com essa valorização tão expressiva, ainda existem boas oportunidades em small caps?
Para os gestores especializados no segmento, a resposta é um sonoro “sim”. Apesar da forte valorização vista desde março deste ano, eles lembram que as small caps foram as mais penalizadas com os efeitos da crise – momento em que o mercado opta por liquidez. “Na verdade, a alta desse ano esta sendo proporcional ao quanto a categoria caiu antes”, explica Eduardo Favrin, diretor de Renda Variável da HSBC Global Asset Management.
Paulo Clini, superintendente de investimentos e responsável por small caps da Legg Mason, engrossa o coro a favor das perspectivas das small caps. Ele aponta que a fuga dos investidores pode ser explicada, em grande parte, pela liquidez buscada – especialmente os internacionais, que haviam absorvido os IPOs ocorridos na bolsa brasileira em 2006 e 2007, e que se viram com posições pouco líquidas num cenário de incerteza crescente.”A má performance dos papéis nos últimos dois anos e um desempenho melhor do que a média do mercado agora são indicativos de que ainda há espaço para o segmento andar”, explica o gestor.

Liquidez

Werner Roger, gestor de small caps da Victoire Brasil, explica que, num primeiro momento, com o regresso dos investidores estrangeiros, houve uma busca pelas empresas maiores, mais líquidas – o que aconteceu principalmente nos primeiros 3 ou 4 meses do ano. “Agora, estamos em um processo de garimpagem, com os investidores buscando empresas menores com valor, ou que estejam atrasadas, e menos preocupação por liquidez”, afirma o gestor.

Para Favrin, a liquidez das small caps tende a ganhar dinâmica, porque depois dessa forte alta, é natural que alguns investidores se sintam compelidos a vender parte dessas posições, mesmo que tenham ficado com os papéis mesmo nos momentos mais negativos. “Essas posições que hoje estão encarteiradas na mão de alguns investidores vão acabar vindo ao mercado, em bloc trade ou no dia a dia”, explica ele. Além disso, ele afirma que é natural uma menor aversão ao risco de liquidez – como a que ocorre nos EUA agora, por exemplo – impacte positivamente em algum momento por aqui também, nos mercados emergentes.

Maior alta, maior baixa

Segundo Clini, a busca por liquidez fez com que a queda das ações fosse desproporcional aos resultados das empresas. “As ações dessas empresas, em sua maioria, não caíram porque as companhias estavam numa situação de insolvência financeira devido à crise”, explica. Agora, segundo ele, com um cenário mais claro e as perspectivas de melhora da economia, os investidores voltam a se sentir seguros – e encontraram um mercado em que os preços estavam no mínimo 50% abaixo do pico, sem uma piora significativa nos fundamentos.

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Apesar disso, a performance muito boa no início do ano ainda assusta. “Você tem papéis de empresas que andaram 150%, 200%. A reação do investidor é pensar: as ações já subiram tanto no ano, será que eu não estou atrasado? Em nossa opinião, não – esse é um segmento que deve ter performance superior à média de mercado ao longo do tempo”, explica o gestor.

Economia doméstica

Segundo os gestores, as empresas mais ligadas à economia doméstica têm as melhores perspectivas. “Analisando as vantagens comparativas com as large caps, as small caps são a maneira mais lucrativa de absorver crescimento de economia brasileira.”, explica Favrin. “Em geral, empresas mais ligadas à economia doméstica performaram bem este ano, e tendem a continuar melhor do que a média do mercado”, aponta Clini.

Para Clini, as perspectivas para a economia nacional parecem melhores do que para os mercados globais, já que além de o Brasil ter sido menos afetados, há menos incertezas.

“Lá fora, dá pra apostar que o pior já passou. Mas isso é diferente de dizer que vai crescer de maneira consistente – no Brasil, a chance de existir um segmento ligado à economia local crescendo continuamente é grande”, explica o gestor.

Além disso, as empresas voltadas ao mercado local se isolam da crise global, evitando problemas como a diminuição das importações nos países desenvolvidos. “O mundo inteiro está importando menos, as exportações se tornam muito onerosas”, explica Roger. Para ele, as medidas de proteção das economias locais – como o BNDES fez no Brasil – e a variação do câmbio, que trouxe ganhos no início, mas que com a valorização do real está evaporando ganhos com exportações, trazem vantagens às empresas que atuem localmente.
Com isso, as small caps voltam ao foco. “O Brasil está se destacando do resto do mundo, e essas empresas vão capturar o movimento positivo, oferecendo uma forma de diferenciar o retorno”, explica Eduardo Cavalheiro, gestor do RVI small caps. Para Roger os destaques são as empresas ligadas a consumo interno e indústria local.

Potencial

“Mesmo com a grande alta, existem papéis que ainda estão muito abaixo do ponto máximo de 2007, que foi um momento de incorporação das expectativas mais otimistas. Agora, com perspectivas menos pessimistas, há diversas excelentes oportunidades”, explica Favrin.
Clini concorda que alguns papéis ainda estão muito baratos. “As métricas de valor nos dizem que apesar da alta forte nesse segmento, existem alguns papéis que ainda são descontados em relação às maiores”. Para ele, a melhora do resultado de algumas small caps mais do que compensa a alta recente. “Por isso, mesmo que a ação já tenha avançado 100%, continua mais barata que a média do mercado”.

“Algumas small caps – que são tão boas quanto as outras – ficaram pra trás, mas cujo único pecado é serem pequenas. Para nós, quanto menos o pessoal estiver olhando, melhor”, explica Roger. Para Favrin, esse menor acompanhamento das small caps justifica os saltos de desempenho das ações dessas empresas.

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Além do potencial de valorização, Cavalheiro aponta que as small caps muitas vezes atuam em nichos nas quais elas são muito competitivas: a Rodobens, em imóveis de preço mais baixo, é um exemplo disso.

Oportunidades

Apesar de apontarem oportunidades em diversos setores, os gestores ressaltam novamente as empresas ligadas à economia local, como varejo, construção civil, saúde, bens de capital, bancos, logística. “São setores com menor expressão nos índices IBX e Ibovespa, e são os setores com maiores oportunidades”, explica Favrin.

Para Cavalheiro, existem small caps com boas perspectivas em diversos setores – e com perspectivas de crescimento bem superiores à de empresas já maduras. Apesar de citar empresas que podem ser promissoras em diversos setores, ele aponta duas companhias como destaques – que têm bom retorno previsível, e com fundamentos sólidos: no setor de construção, a Ez Tec, e em agronegócios, a Açúcar Guarani.

Ele destaca também que alguns setores não estão favoráveis nem pra as small caps nem pra large caps. “Bens de capital e autopeças são dois exemplos onde a recuperação está mais atrasada”. Mas segundo ele, isso não significa que não haja boas alternativas mesmo nesses setores “A Iochpe-Maxion pode ser uma boa opção nesse segmento”, explica Cavalheiro.

Mantendo sempre o foco em empresas voltadas ao mercado doméstico, Roger aponta o Grupo Saraiva, a Alpargatas, e a General Shopping como boas oportunidades. Ele também lembra que o setor de construção civil tem tido um desempenho acima da média, devido também ao pacote do governo de incentivo à moradia.

Roger ressalta também as boas perspectivas para setores voltados para baixa renda, que deve ter um ganho real de renda maior, e crédito mais acessível. “Os bancos devem incrementar operações de crédito com baixa renda, o que deve melhorar o desempenho do segmento”, explica o gestor.

Além disso, Favrin destaca que os efeitos do investment grade do Brasil ainda não foram sentidos pelas small caps. “Na prática, isso significa um menor custo de captação. Depois que o mercado superar o nervosismo do ano passado, vamos ver diversas companhias se aproveitando do Brasil ser investment grade, o que deve ser sentido no desempenho da empresa”, explica ele.
Apesar disso, Favrin ressalta que as ações de small caps têm características específicas de investimento, e que é uma classe de ativos que em qualquer situação demanda mais cuidados – por isso, elas devem ser uma parcela dos seus investimentos a titulo de diversificação, nunca uma parte preponderante do seu capital. Devido a grande disparidade das empresas, mesmo dentro de um mesmo setor, Cavalheiro destaca também que é essencial saber escolher onde investir, selecionando empresas com fundamentos sólidos e nos setores de melhor desempenho.