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Seguros de vida cobrem Covid-19, embora não sejam obrigados; vale a pena contratar?

Sinistros aumentam na pandemia, assim como os prêmios referentes à proteção, e seguradoras mantêm cobertura por conta própria

Anderson Figo

(RomoloTavani/Getty Images)

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SÃO PAULO — Em março de 2020, na primeira onda de Covid-19 no Brasil, as apólices de seguros de vida não previam a cobertura de pandemias, eventos cujos riscos são impossíveis de serem calculados. Em comum acordo, porém, as seguradoras decidiram honrar as indenizações das pessoas acometidas pela nova doença.

De lá para cá, o que se viu foi um já esperado aumento dos sinistros nos seguros de vida, tanto individuais quanto coletivos. Segundo dados do órgão regulador do setor, a Susep (Superintendência de Seguros Privados), eles somaram R$ 1,39 bilhão nos dois primeiros meses deste ano, contra R$ 945,7 milhões no mesmo período de 2020.

O volume de prêmios (valor que o segurado paga à seguradora pelo seguro para transferir a ela o risco previsto nas condições contratuais) também subiu, indicando que mais pessoas contrataram a proteção de um ano para o outro. Nos dois primeiros meses de 2021, os prêmios de seguro de vida individuais e coletivos chegaram a R$ 3,305 bilhões, contra R$ 2,967 bilhões no mesmo período de 2020.

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“Diversas seguradoras optaram por cobrir os eventos decorrentes especificamente de Covid-19 (atualmente representando mais de 80% do mercado), mesmo se tratando de um risco excluído nos contratos firmados. É importante esclarecer que a decisão não faz distinção entre cidades ou estados e já foram pagas diversas indenizações em todo o território nacional”, destacou a Susep em nota enviada ao InfoMoney.

O órgão afirmou ainda que, desde o início da pandemia, intensificou o monitoramento do setor e implementou uma série de medidas de flexibilização de prazos para possibilitar fôlego e adaptações por parte das empresas supervisionadas ao cenário em decorrência do estado de calamidade pública. “A flexibilização de condições contratuais relacionadas à cobertura de Covid-19 por parte das empresas que operam com seguros de vida é um dos avanços obtidos no mercado, com o apoio da Susep.”

Carlos Alberto de Paula, diretor da Fenaprevi (Federação Nacional de Previdência Privada e Vida) acredita que o Brasil está em um processo evolutivo em relação à conscientização securitária. “Essa necessidade de proteção vem aumentando nos últimos anos de forma significativa. Teve um amadurecimento do próprio Estado, como o órgão regulador, a Susep, e das companhias”, disse.

Segundo ele, a Fenaprevi é “um vetor de conscientização da sociedade sobre a necessidade de proteção” e se vê como”protagonista nesta agenda”, realizando uma série de iniciativas para disseminar a educação securitária à população, como lives explicativas, por exemplo. “Nosso relacionamento [com as seguradoras] transcende o relacionamento comercial”, afirmou.

Cobertura de Covid mantida

Entre as principais empresas do setor, embora a Covid tenha representado impacto nas indenizações, a avaliação é de que a decisão de fazer a cobertura dos casos de Covid-19 foi correta e deve ser mantida. É o caso da Prudential do Brasil, que tem 27% de market share no segmento vida individual e é líder entre as seguradoras independentes no país no segmento de pessoas (mais de 2,6 milhões de vidas seguradas).

“A primeira coisa que fizemos [quando a pandemia chegou ao Brasil] foi uma análise sobre retirar essa cláusula de exclusão [da cobertura de pandemia] das apólices”, disse David Legher, CEO da Prudential do Brasil. “Pegamos dados passados, o que tinha acontecido na gripe espanhola, por exemplo, e armamos o cenário do que poderia acontecer. Enviamos ao nosso headquarter e em menos de 24 horas eles aprovaram”, completou.

Segundo o executivo, a pandemia tem sido muito mais impactante do que a seguradora previa anteriormente, não pelo volume de casos individuais de sinistros relacionados à Covid, mas pelo tempo de duração do quadro pandêmico. “Já se passou um ano e acreditamos que ainda falta um período longo para que voltemos ao normal, especialmente nos países em desenvolvimento”, disse.

Do ponto de vista de negócio, o CEO da Prudential destacou que 2020 foi um ano positivo. A empresa teve faturamento recorde de R$ 3,3 bilhões — cerca de 1,2% da receita total do setor no período, de R$ 273,7 bilhões. Em indenizações relacionadas à Covid, a companhia pagou R$ 60 milhões em 2020. Nos três primeiros meses de 2021, já foram mais de R$ 30 milhões. “Vai ter um impacto no nosso negócio, mas não vai desestabilizar nossas finanças.”

Sobre a conscientização das pessoas, ele afirmou que o mercado está muito mais interessado em ter coberturas não somente de vida, mas também em vida, como o seguro prestamista (proteção contra perda de renda), por exemplo. “A penetração de seguros de vida no Brasil é baixa. A pandemia trouxe uma consciência às pessoas de proteger seu patrimônio, seus entes queridos”, disse Legher.

O mercado de seguros de vida ainda representa menos de 1% do PIB do Brasil, segundo dados da CNseg (Confederação Nacional das Seguradoras), desconsiderando VGBL. Nos EUA, a penetração é de 2,9% do PIB, e no Japão, de 6,7%. Cerca de 90% das famílias japonesas contam com seguro de vida, segundo a consultoria Ernst & Young. De acordo com uma pesquisa da Prudential do Brasil realizada em parceria com o IBOPE em 2019, apenas 15% dos brasileiros possuem seguro de vida.

Na Porto Seguro, o seguro de vida cresce a dois dígitos e segundo o CEO, Roberto Santos, “as pessoas estão mais preocupadas com as suas vidas, por isso passaram a contratar mais seguros. O seguro de vida individual é o produto que mais vai crescer no futuro”, disse. A empresa tem cerca de 800 mil vidas seguradas.

“Na pandemia, cada seguradora fez suas contas e chegaram à conclusão de que poderiam cobrir Covid. Aqui, nós identificamos que seria algo que não colocaria em risco a saúde financeira da companhia. Mas o impacto é relevante. Tivemos um aumento de 3 a 4 pontos percentuais no nosso índice de sinistralidade (relação percentual entre prêmios, que são as apólices contratadas, e as indenizações)”, afirmou o CEO da Porto.

O impacto negativo da pandemia sobre a sinistralidade dos seguros de vida, segundo Santos, é compensado em partes pelo aumento da demanda por outros tipos de proteção. “As pessoas estão em casa, então houve um aumento na necessidade de proteção residencial, especialmente por causa da cobertura de serviços”, destacou.

Quando vale a pena ter um seguro de vida?

O seguro de vida no Brasil está muito relacionado a algo compulsório, quando a pessoa não tem escolha sobre a proteção. Quando você é contratado com carteira assinada, no regime CLT, por exemplo, a empresa que te contratou faz automaticamente um seguro de vida em seu nome, prevendo uma indenização a você ou à sua família caso aconteça morte ou invalidez durante a vigência do seu contrato com a companhia.

Ainda são poucas as pessoas que por conta própria procuram um corretor de seguros para contratar uma apólice de seguro de vida por conta própria, mas não deveria ser assim. Especialistas consultados pelo InfoMoney disseram que o produto deve fazer parte do planejamento financeiro pessoal — e engana-se quem acha que o produto é coisa de rico ou se refere apenas à morte.

“Seguro de vida vai além da morte. Ele cobre diversas outras situações, por exemplo doenças graves. O simples diagnóstico de doença grave já prevê indenização. (…) Outro tipo de cobertura que é bastante procurada é de diárias por internação hospitalar, ou incapacidade temporária. Por exemplo, um cirurgião que quebre o braço vai ficar meses sem exercer sua atividade, o seguro vai indenizá-lo por isso”, disse Bruno Kelly, professor da ENS (Escola de Negócios e Seguros).

Outra vantagem do seguro de vida é que ele não é herança, portanto não entra em inventário em caso de morte do segurado. Neste caso, a indenização é garantida aos beneficiários da apólice — inclusive pode ser usada para pagar os custos do inventário, que geralmente são altos quando há bens. Além disso, o seguro de vida é isento de dívidas e penhoras, ou seja, a indenização não pode ser confiscada para pagar eventuais dívidas que o segurado contraiu antes de morrer.

É caro ter um seguro de vida?

O preço médio de um seguro de automóvel gira em torno de R$ 2 mil por ano. A maioria dos brasileiros não cogitaria deixar seu carro desprotegido. Mas o que pouca gente sabe é que por um valor muito menor que isso, às vezes menos de 10% do valor da proteção de um carro, é possível proteger a sua família com um seguro de vida.

Em consulta às principais seguradoras do país, o InfoMoney constatou que há opções que custam menos de R$ 1 mil por ano, ou menos de R$ 100 por mês, por apólices básicas de seguro de vida. Os orçamentos consideram o perfil de um homem de 30 anos, não obeso e sem doenças preexistentes, casado e não fumante.

Uma cobertura básica inclui, no mínimo, indenização por morte natural, por morte acidental e por invalidez permanente por acidente. Algumas coberturas básicas das seguradoras pesquisadas já incluem coberturas adicionais no preço. Aumentando a indenização para R$ 100 mil, há opções por menos de R$ 300 por mês para o mesmo perfil.

Quanto mais jovem e saudável você é, mais barato é o seguro de vida. Ao contratar uma apólice, é preciso fornecer informações verdadeiras sobre o seu estilo de vida e estado de saúde. Para calcular o preço, a seguradora considera a probabilidade do consumidor morrer durante o período de vigência do produto, normalmente de um ano.

O seguro de vida é mais caro para mulheres, por causa da expectativa de vida maior. É preciso considerar também que o preço do seu seguro de vida será reajustado a cada ano, pela sua idade e por um índice de correção monetária que acompanha a inflação, determinado no contrato.

“Os tickets de contratação de seguro cabem em todos os tipos de bolso, das pessoas mais simples até as pessoas com condição financeira mais privilegiada. Obviamente que quanto melhor a condição financeira do segurado, maior será a necessidade de cobertura dele, e maior também será o custo da proteção”, explicou Kelly, da ENS.

Como saber o valor da indenização e quais cuidados tomar?

Não existe uma fórmula mágica para fazer a conta do tamanho da indenização que você deve contratar. Comece calculando todos os gastos que você tem na vida. Quanto custa por mês para manter todas as pessoas que dependem de você financeiramente?

A partir disso, estime por quanto tempo sua família precisaria desse dinheiro para se manter sem você, até se reestruturar. Você pode escolher, por exemplo, que quer ter uma indenização que pague a educação dos seus filhos até o fim da faculdade.

Se não tem tanto dinheiro assim para bancar um seguro com uma indenização tão alta, invista em um produto que pague, pelo menos, um ano de despesas. E é importante incluir na conta sua renda investida em aplicações financeiras, se tiver, e suas dívidas que ficarão para a sua família pagar.

O corretor de seguros ajuda a fazer o cálculo. Também é imprescindível fazer uma revisão de tempos em tempos para entender se a cobertura contratada continua adequada para a sua necessidade.

O tamanho da indenização que você precisa pode aumentar ou diminuir com o tempo, conforme o que acontecer na sua vida. Quando os seus filhos se tornarem independentes financeiramente, por exemplo, você poderá pagar um seguro mais barato, com uma indenização menor.

Ao contratar o seguro, você tem que saber exatamente que pacote de coberturas está contratando, pois eles podem ser muito diferentes um do outro. O corretor apresentará a você produtos de diferentes seguradoras. Essa pesquisa de mercado é essencial para comparar preços e coberturas.

No contrato, observe as exclusões, que são todos aqueles riscos que não serão cobertos pelo seguro que você escolheu. Algumas apólices possuem carência, um período em que não se pode usar o seguro, mesmo estando em dia com o pagamento. No caso das coberturas relacionadas à Covid, por exemplo, a carência média que tem sido praticada pelo mercado é de três meses.

Ao preencher o documento com todas as informações sobre a sua condição de saúde, seja o mais sincero possível, mesmo que corra o risco do seu seguro ficar mais caro. Em caso de má-fé, a seguradora pode recusar o pagamento da indenização.

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Anderson Figo

Editor de Minhas Finanças do InfoMoney, cobre temas como consumo, tecnologia, negócios e investimentos.