Saiba o que muda para quem usa o Pix após as novas medidas do Banco Central

O InfoMoney ouviu especialistas financeiros e advogados para explicar como vão funcionar as novas regras

Anna França Maria Luiza Dourado

Pilar Olivares / Reuters
Pilar Olivares / Reuters

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Depois de uma série de incidentes de segurança em integrações críticas do Pix, o Banco Central (BC) anunciou nesta quinta-feira (5) um pacote de medidas que muda as regras do sistema de pagamentos instantâneos e pressiona fintechs e prestadores de tecnologia a se regularizarem rapidamente.

Segundo especialistas ouvidos pelo InfoMoney, para a maioria das pessoas nada vai mudar na hora de fazer uma transferência pelo Pix. Os novos limites de R$ 15 mil por operação atingem apenas as instituições de pagamento ainda não autorizadas pelo Banco Central ou que funcionam com infraestrutura terceirizada (os chamados PSTIs). Se a pessoa faz suas transações em bancos tradicionais ou fintechs já autorizadas, poderá continuar movimentando valores normalmente.

Para o usuário final, pouco muda no dia a dia: o limite de R$ 15 mil por operação é uma medida preventiva, especialmente após a recente Operação Carbono Oculto, que revelou que fintechs foram usadas como ‘bancos paralelos’ para lavagem de dinheiro e pulverização de recursos ilícitos, conforme especialistas. “A intenção é clara: proteger o consumidor e fortalecer os mecanismos de controle financeiro. Essa limitação pode ser removida rapidamente se a instituição de pagamento e seu parceiro tecnológico implementarem bons controles de segurança da informação”, avalia Fábio Magalhães, fundador da Ideen.

Mas há novidades importantes que impactam diretamente a segurança das operações. A partir de outubro, o processo de contestação automática em casos de fraude, golpe ou coação ficará mais ágil, sendo possível abrir a contestação diretamente pelo aplicativo da instituição, sem burocracia, o que aumenta as chances de reaver o dinheiro antes que ele seja dissipado. Além disso, o Banco Central ampliou os mecanismos de rastreabilidade e padronizou etapas entre os participantes do sistema, tornando a resposta mais rápida e transparente.

Dessa forma, o usuário final ganha mais proteção contra golpes, enquanto o mercado financeiro passa a operar sob regras mais rígidas de governança e capital, o que tende a reduzir riscos estruturais e a fortalecer o ecossistema de pagamentos no Brasil.

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Veja quais são as medidas

Entre as novidades, está a fixação de um teto de R$ 15 mil para transferências via Pix e TED em instituições de pagamento não autorizadas pelo BC e em prestadores de tecnologia (PSTIs). Além disso, o prazo para que essas empresas solicitem autorização foi antecipado de dezembro de 2029 para maio de 2026.

A decisão ocorre após tentativas de fraude de grande porte — como a registrada contra a Sinqia/Evertec, estimada em R$ 420 milhões — que expuseram vulnerabilidades em mensageria, autenticação e liquidação imediata.

“O BC entendeu que estava diante de uma ameaça sistêmica que exigia resposta rápida. A era da regulamentação permissiva chegou ao fim”, avalia o advogado Arthur Lobo, sócio-fundador do escritório Wambier, Yamasaki, Bevervanço e Lobo.

De acordo com Juan Soto, general manager da Nuvei para a América Latina, a maioria dos clientes não verá mudanças imediatas. “A limitação às fintechs é uma medida temporária, que cairá assim que a instituição comprovar segurança adequada”, explica.

Outra melhoria é a contestação de operações suspeitas. Segundo Luís Molla Veloso, especialista em finanças, agora é possível iniciar pedidos de contestação diretamente pelos canais digitais, de forma mais ágil e padronizada. “Isso aumenta as chances de bloquear recursos antes que sejam enviados, fortalecendo a confiança no sistema”, afirma.

Anna França

Jornalista especializada em economia e finanças. Foi editora de Negócios e Legislação no DCI, subeditora de indústria na Gazeta Mercantil e repórter de finanças e agronegócios na revista Dinheiro