Renda regular dos idosos ganha peso no Brasil

Por conta do peso dessa renda é que a morte dos entes queridos por causa da covid-19 leva ao empobrecimento das famílias

Estadão Conteúdo

Notas de Real na carteira (Rmcarvalho/Getty Images)

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Os idosos, sobretudo os aposentados e pensionistas, são considerados uma elite no país do ponto de vista de ter uma renda fixa regular. Quase 63% da renda dos idosos vem de pensões e aposentadorias, o que garante a regularidade do ganho e estabilidade das famílias. Por conta do peso dessa renda é que a morte dos entes queridos por causa da covid-19 leva ao empobrecimento das famílias.

Segundo estudo da FGV Social, os idosos são 17,44% dos 5% mais ricos do Brasil e 1,67% dos 5% mais pobres. “Os idosos têm uma função de bons provedores na sociedade brasileira”, diz o economista Marcelo Neri, diretor da FGV Social, destacando que a família de quem mora com pessoas com mais de 60 anos é pequena. Em média, tem 2,68 pessoas por domicílio.

Outro dado que demonstra como a renda dos idosos ganhou peso na sociedade brasileira vem da Serasa Experian. Com mais estabilidade nos ganhos, os aposentados passaram a ter mais acesso ao crédito – muitas vezes para atender às necessidades dos filhos. O resultado disso foi o avanço da inadimplência entre os mais velhos.

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Segundo o economista da Serasa, Luiz Rabi, o idoso tem uma taxa de inadimplência menor, mas é a que mais cresce entre todas as faixas etárias. Em 2018, 32% dos idosos acima de 60 anos estavam inadimplentes. Hoje, esse número está em 37%. Enquanto isso, na faixa etária entre 41 e 60 anos, essa fatia subiu de 40% para 42%; e na de 26 a 40 anos, ficou em 45%.

Dependência

Thaynnara Valetim Batista e o irmão moravam com o pai, de 56 anos, até o fim de abril, quando ele morreu de coronavírus. Segurança, Francisco Alberto Batista trabalhou vários dias sem saber que havia contraído a doença. Achava que estava apenas cansado, mas os sintomas pioraram e ele teve de ser internado e entubado. Resistiu apenas poucas horas.

Desempregados na época, Thaynnara, 25 anos, e o irmão, de 27 anos, dependiam financeiramente do pai. Com a morte, ficaram sem nenhuma renda. “Não conseguimos o auxílio do governo e acabamos sendo socorridos pela Cufa (Central Única das Favelas), que nos ofereceu cestas básicas por mais de dois meses”, diz ela. Além disso, eles ganharam R$ 120 por mês do movimento Mães da Favela para pagarem algumas despesas.

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Hoje, Thaynnara está trabalhando e ganha um salário mínimo por mês. “Estou tentando colocar as contas acumuladas ao longo dos meses em dia, mas ainda não consegui.” A preocupação é ter água e luz cortadas por falta de pagamento. “Devo ter umas oito faturas vencidas em casa”, diz ela.

Ajuda

A situação de Claudia Corrêa, de 45 anos, é parecida. Sua mãe, Eneide Corrêa, de 79 anos, era o alicerce financeiro da família. A idosa morava com Claudia e um neto, de 24 anos. A renda de cerca de R$ 3 mil, como pensionista, garantia o aluguel do apartamento, o pagamento da energia elétrica e parte da alimentação da casa. Com sua morte, em março, em função das complicações do novo coronavírus, Cláudia tem se desdobrado para dar conta das despesas mensais, sem a ajuda do salário da mãe.

Ela chegou a receber o salário de abril, já que a mãe faleceu no fim do mês anterior. “O último salário foi para pagar parte das despesas com os medicamentos e o aluguel de casa. A renda era mais do que uma contribuição no orçamento, ela supria quase metade das despesas de casa”, disse.

Para driblar a falta do salário da mãe, Claudia mudou-se de casa e hoje vive com a ajuda do filho e as encomendas de doces e salgados. “Estou sem trabalhar com carteira assinada. A pandemia também fez eu fechar a minha loja de roupas e agora faço bolos, tortas e comidas sob encomenda para ajudar nas contas de casa. Por outro lado, meu filho se formou em julho e parei de pagar a faculdade dele. É uma despesa a menos.”