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Por que o consumidor brasileiro contrata pouco seguro contra alagamentos?

Num país com eventos climáticos cada vez mais catastróficos, só 1% das casas seguradas tem essa proteção
Bairro de Petrópolis (RJ), após fortes chuvas (Tânia Rêgo/Agência Brasil)

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O seguro residencial tem ganhado tração entre os brasileiros. Levantamento realizado pela FenSeg (Federação Nacional de Seguros Gerais) mostra aumento de 25% no índice de penetração deste seguro entre 2017 e 2021. A participação, que era de 13,6% no primeiro ano da série histórica, saltou para 17%, o que representa 12,7 milhões de residências seguradas em todo país.

Apesar desse crescimento e mesmo o Brasil sendo um país com muitos problemas relacionados a alagamentos e desmoronamentos, ainda é pouca a quantidade de consumidores com esse tipo de proteção. De acordo com o estudo, apenas 10% das apólices contratadas atualmente incluem a cobertura de desmoronamento, enquanto a de alagamento representa menos de 1% do total.

Para Jarbas Medeiros, diretor de ramos elementares e transporte da Porto, a procura pelo seguro residencial ainda se concentra em benefícios com a assistência, roubo, danos elétricos e queima de bens. “As pessoas só lembram de alagamento em janeiro e fevereiro, quando as chuvas se intensificam, e há mais contratação”, diz.

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Medeiros, que também é presidente da comissão de seguros patrimoniais massificados da FenSeg, considera que é um desafio, e, ao mesmo tempo, uma grande oportunidade levar estas coberturas menos contratadas aos clientes.

Arthur Carvalho, diretor de operações e sinistros da Youse Seguros, concorda que o desafio é mostrar ao cliente que há coberturas que podem ser importantes para as suas necessidades. “A procura é mais para os básicos. Raramente o cliente busca por coberturas de alagamentos ou desmoronamentos e isso ocorre, muitas vezes, por falta de entendimento. Temos deixado cada vez mais claro como funciona cada cobertura para que o cliente possa decidir pela qual faz mais sentido para a sua necessidade”, diz.

Coberturas mais comercializadas no seguro residencial:

Vale lembrar que a cobertura de incêndio é obrigatória. Em média, o seguro residencial custa cerca de R$ 500 por ano e para incluir cláusulas que garantam indenizações em caso de alagamento ou desmoronamento o valor é acrescido de mais R$ 400.

Guilherme Krupelis, diretor técnico e comercial da Vokan Seguros, comenta que a cobertura precisa fazer sentido para o cliente. “Entender o risco, pedir mais informações com questionário mais completo, saber se é para um lugar que tem mais risco de alagamento, por exemplo, é fundamental para decidir a melhor cobertura”, diz.

“As pessoas costumam calcular o valor do seguro residencial com base no que é pago no seguro do carro e avaliam que se a casa custa quatro vezes mais do que o automóvel, o valor do seguro será proporcional, mas não é bem assim”, lembra Emerson Nagata, superintendente de negócios e soluções de produtos de danos da Brasilseg, em entrevista recente ao InfoMoney.

O levantamento da FenSeg mostra ainda que os serviços emergenciais ou plano de assistência 24 horas, presentes em todos os contratos desse seguro, são cada vez mais acionados pelos clientes. Entre eles, estão chaveiro, encanador, eletricista, vidraceiro, desentupimento e conserto de aparelhos.

5 respostas sobre seguro residencial

Há diferença entre seguro para casa e apartamento?

Sim, e a principal é que o seguro residencial para casas é geralmente mais caro (por vários motivos). O primeiro é que uma casa é mais vulnerável, não só a desastres naturais mas também a roubos e assaltos (que costumam elevar o valor do prêmio do seguro residencial). Além disso, condomínios são obrigados por lei a contratar um seguro condominial, então, custos estruturais podem ser arcados pela seguradora do prédio, não a sua.

“Casa pode ter vendaval, destelhamento”, elenca Luciano Romano de Ávila, um dos sócios-fundadores do Piquenique Seguros, um clube de assinaturas. ”Via de regra casa é mais caro, principalmente se for casa de veraneio. Se tiver cobertura de roubo, ali que mora o problema.”

Tem diferença para proprietário, locador e locatário?

Todos podem contratar qualquer seguro (e com quaisquer proteções), mas Ávila dá uma dica: “Se você for um locador, você pode fazer só o seguro do ‘prédio’. Porque o ‘conteúdo’ é do locatário. Se você for locatário e morar em apartamento, você pode pegar só ‘conteúdo’. Porque a lei exige que o prédio tenha seguro”.

Como contratar um seguro residencial?

Definido o valor do “prédio” e do “conteúdo” (o que também é conhecido como “declaração de valor em risco”), o próximo passo é procurar um corretor de seguros, uma corretora ou até a própria seguradora — o que ficou muito mais fácil com a internet. Hoje, é possível cotar e contratar um seguro direto no computador ou celular, sem sair de casa nem precisar de atendimento humano.

E a gama de possibilidades é bastante grande, para todos os tipos de cliente: há desde seguradoras, corretoras on-line, clubes de assinaturas e insurtechs. Mas ainda há quem prefira o bom e velho corretor de confiança. Vai do gosto de cada um.

Seguro residencial tem franquia, como o de carro?

Tem, mas depende da cobertura. Assim como o condutor não paga a franquia do seguro de carro em caso de perda total, o cliente não paga taxa no residencial se for a cobertura básica, contra incêndio. Para as demais as seguradoras costumam cobrar uma porcentagem do valor da cobertura (que geralmente varia entre 10% e 15% do valor segurado).

O que não pode ficar de fora?

A cobertura principal e mais importante é para incêndio, sendo, inclusive, obrigatória. “Incêndio, roubo [principalmente em quem mora em casa], danos elétricos e vendaval, para quem está no sul ou em região que venta muito como São Paulo e Minas Gerais; responsabilidade civil e cobertura de home office, que é feita à parte”, aponta Medeiros.

Além disso, Medeiros destaca que ter uma boa assistência também é fundamental, porque há casos em não chegam a ter um sinistro, mas ocorre a queima de um bem e a seguradora também faz o conserto. Medeiros reforça a importância de ter a cobertura contra raios e lembra que o Brasil lidera ranking de países com maior incidência de raios, com mais de 70 milhões de descargas elétricas registradas.

Gilmara Santos

Jornalista especializada em economia e negócios. Foi editora de legislação da Gazeta Mercantil e de Economia do Diário do Grande ABC.