Irani lança primeira embalagem de papel que elimina coronavírus: como isso afeta os negócios da empresa?

Com 20% da receita em dólar e a forte demanda por embalagens de delivery, empresa surfa bom momento do setor

Anderson Figo

Sérgio Ribas, CEO da Irani Papel e Embalagem (Divulgação)

Publicidade

SÃO PAULO — Com 20% de suas receitas em dólar e a forte demanda por embalagens de delivery gerada pela pandemia de coronavírus, a Irani (RANI3) está surfando uma onda positiva para o setor. “Sem dúvida, um grande momento”, disse o CEO da empresa, Sérgio Ribas, em entrevista exclusiva ao InfoMoney.

No fim do ano passado, a companhia migrou para o Novo Mercado, segmento da Bolsa brasileira onde estão as companhias com as melhores práticas de governança, transparência e sustentabilidade. Desde então, ampliou os esforços para atingir metas ESG e ser referência no setor.

A iniciativa mais recente foi o desenvolvimento de uma embalagem de papel em parceria com a Nanox Tecnologia que é antiviral, antibacteriana e antifúngica — capaz inclusive de matar o vírus que causa a Covid-19. A empresa diz estar pronta para oferecer o produto aos clientes e vê maior potencial de adesão entre os frigoríficos, as indústrias alimentícias, além dos segmentos de e-commerce e delivery.

Exclusivo para novos clientes

CDB 230% do CDI

Destrave o seu acesso ao investimento que rende mais que o dobro da poupança e ganhe um presente exclusivo do InfoMoney

E-mail inválido!

Ao informar os dados, você concorda com a nossa Política de Privacidade.

Atualmente, o volume mensal de vendas da Irani é de aproximadamente 14 mil toneladas de caixas e chapas de papelão ondulado. Como a companhia vem operando com toda a sua capacidade produtiva, inicialmente a previsão é disponibilizar ao mercado 150 toneladas mensais do papel antiviral.

“Há uma mudança estrutural na demanda por embalagens de papel. A eclosão do e-commerce e do tele-delivery durante a pandemia modificaram a forma de consumo em todos os países”, destacou Ribas. Leia abaixo os principais trechos da entrevista do CEO da Irani ao InfoMoney.

InfoMoney: Como a empresa foi afetada pela pandemia de coronavírus?

Continua depois da publicidade

Sérgio Ribas: Apesar dos desafios que a pandemia trouxe para as empresas de diversos segmentos, 2020 foi um ano de muito aprendizado e crescimento para a Irani e para o nosso setor como um todo em decorrência do aumento do consumo de papel e de embalagens de papelão ondulado no país – momento que ainda vivenciamos em 2021.

Como resposta a este cenário, a Irani Papel e Embalagem, que acaba de complementar 80 anos de trajetória, encerrou 2020 com resultados financeiros históricos e continua a se destacar de forma expressiva no setor neste ano.

Em 2020 e no 1º trimestre de 2021, a Irani registrou alta nos lucros, com resultados superiores aos mesmos períodos anteriores. O volume de vendas do segmento Embalagem de Papelão Ondulado também foi positivo no primeiro trimestre de 2021, com uma alta de 9,9% em relação ao primeiro trimestre do ano passado.

Acreditamos que os resultados positivos foram possíveis devido à estratégia de negócios e a uma série de medidas adotadas nos últimos anos. E um dos fatores que contribuiu para o crescimento da companhia durante a pandemia foi a agilidade em nossas tomadas de decisões para manter as operações em atividade.

Com todo cuidado, cautela e rigorosos protocolos de segurança nossas fábricas não pararam e conseguimos atender com a excelência de sempre todos os nossos clientes e a grande demanda do setor, sempre prestando todo o suporte e segurança aos nossos mais de dois mil colaboradores.

IM: Houve uma procura maior por embalagens especialmente no segmento delivery, já que as pessoas passaram a consumir mais estando em casa?

SR: Sim. Com uma grande parcela das pessoas em casa devido ao isolamento social, o setor de papel e embalagem vivenciou e vive um impacto relevante com o aumento do consumo via e-commerce e delivery de alimentos — segmentos que tipicamente consomem mais embalagem de papel e papelão ondulado do que o varejo tradicional.

Somente no ano passado, a Irani registrou alta de 115% no volume de papel destinado para fabricação de sacolas e sacos para delivery. Além do e-commerce e delivery, setores de higiene e limpeza também passaram a nos demandar mais neste período.

Outra relevante mudança de comportamento dos brasileiros que vem contribuindo positivamente para o setor e para a Irani é a preferência dos consumidores por alternativas sustentáveis para as embalagens.

A Irani que historicamente segue os critérios ESG mesmo antes de o tema ficar tão em evidência, oferece diversas opções de embalagens responsáveis do ponto de vista da sustentabilidade, como por exemplo, o papel para sacos e sacolas que apresenta ampla penetração no varejo físico, crescente expansão no varejo online e no segmento de food delivery.

IM: Como funciona a embalagem de papel com tecnologia antiviral, antibacteriana e antifúngica, que vocês acabaram e lançar?

SR: A embalagem de papel antiviral da Irani conta com micropartículas de prata responsáveis por um processo de inativação de agentes patógenos, criando, portanto, uma barreira de proteção antiviral, antibacteriana e antifúngica que elimina 99,9% dos vírus, incluindo o SARS-CoV-2, bactérias e fungos da superfície da embalagem em um prazo de até cinco minutos.

Importante ressaltar que a proteção antiviral permanece ativa durante toda a vida útil do papel e da embalagem, mesmo se entrar em contato com o álcool ou outras substâncias. Além disso, o produto não é tóxico e nem nocivo ao meio ambiente, submetido a testes em laboratório NB-3 (Nível de Biossegurança 3), seguindo uma adaptação da ISO 21702 — “Measurement of antiviral activity on plastics and other non-porous surfaces” — e produzido com fibras recicláveis em linha com os padrões de sustentabilidade da Irani.

IM: O que pesou na decisão de investir nisso?

SR: O lançamento da nossa nova categoria de produto está alinhado à estratégia de negócios que tem como objetivo investir e inovar em soluções e materiais sustentáveis e de segurança alimentar e que atendam às necessidades atuais dos brasileiros.

Já produzimos o papel Finekraft (aquele do saquinho de pão) que é adequado para contato direto com alimentos e muito utilizado em padarias. A decisão de investir no desenvolvimento e lançamento da primeira embalagem de papel antiviral do país nasceu do nosso olhar para as novas necessidades e hábitos de consumo dos brasileiros.

Cada vez mais, o papelão e as embalagens estão presentes na vida das pessoas e em suas casas, seja quando fazemos o pedido de uma refeição via delivery, seja quando compramos algo pela internet ou vamos ao mercado.

Por que não oferecer ao mercado uma embalagem totalmente segura contra vírus, fungos e bactérias e com os nossos padrões de sustentabilidade? Foi isso que pensamos quando tomamos a decisão de investir neste produto, garantindo cuidado e segurança à saúde de todos.

IM: Como tem sido a demanda das empresas pelas embalagens antivirais? Qual o potencial esperado para esse tipo de produto na receita da Irani?

SR: O papel está em fase de lançamento e em negociação comercial para entrada no mercado brasileiro. Por se tratar de uma embalagem exclusiva e inédita no Brasil, com grande valor agregado, estamos otimistas em relação à comercialização ao mercado nacional e acreditamos que inúmeros segmentos possam ter interesse no lançamento pelo fato da embalagem cumprir uma importante função dentro da cadeia logística.

Entre aqueles com maior potencial de adesão estão os frigoríficos, as indústrias alimentícias, além dos segmentos de e-commerce e delivery. Atualmente, o volume mensal de vendas da Irani é de aproximadamente 14 mil toneladas de caixas e chapas de papelão ondulado.

Como a companhia vem operando com toda a sua capacidade produtiva, inicialmente a previsão é disponibilizar ao mercado 150 toneladas mensais do papel antiviral. Dessa maneira, será possível identificar o interesse e aderência dos clientes sem comprometer a produção atual da empresa.

Em breve, teremos caixas e sacos de papel antiviral disponíveis para compra online em nossos canais digitais.

IM: Quais são os investimentos previstos para 2021 e 2022?

SR: A Irani enxerga muitas oportunidades de inovação sobretudo em iniciativas sustentáveis e que promovam a economia circular. Também acreditamos que as compras pela internet, seja via e-commerce ou delivery, já fazem parte da rotina e jornada de compra da população e, portanto, são movimentos que vieram para ficar e que o mercado deve se manter próspero e aquecido, o que possibilita um campo ainda mais amplo para novos projetos.

Para 2021 e os próximos anos, a Irani seguirá investindo e direcionando os seus esforços na pesquisa e no desenvolvimento de novas aplicações para os papéis, de forma a torná-los cada vez mais resistentes e adaptáveis às diversas situações, proporcionando a substituição de forma eficiente de outros materiais não sustentáveis.

Também daremos sequência ao nosso plano de expansão, chamado Plataforma Gaia — que compreende cinco projetos com um investimento estimado em R$ 743 milhões —, o qual se encontra em execução. Os investimentos objetivam também ampliar a competitividade, a capacidade de produção e a suficiência energética da Irani.

IM: Como a empresa avalia o atual cenário competitivo no Brasil dentro do setor de papel e embalagens?

SR: De fato, o setor vive um momento de grande demanda. Há uma mudança estrutural na demanda por embalagens de papel. A eclosão do e-commerce e do tele-delivery durante a pandemia modificaram a forma de consumo em todos os países e principalmente no Brasil que vinha atrás das principais economias nas compras online.

Esta diferença vem diminuindo e os prognósticos de crescimento robusto para os próximos anos é consenso entre especialistas. Há, ainda, uma demanda da sociedade por produtos mais sustentáveis.

O papel é considerado um dos materiais mais sustentáveis por ter origem em florestas plantadas, ser reciclável e biodegradável. Sem dúvida, um grande momento do setor.

IM: A exportação ajudou a companhia na crise? O que esperar para o dólar daqui para frente em termos de impacto nas receitas e custos?

SR: Sim, especialmente no início da pandemia, quando o mercado interno reduziu bruscamente o consumo de embalagens. Com o dólar alto, pudemos redirecionar os volumes de produção de papel ao mercado externo, de forma a não afetar os resultados.

O fato de aproximadamente 20% das receitas da Irani serem em dólar é uma proteção natural a variações de cenário, garantindo maior resiliência de resultados frente a adversidades.

IM: Como está o caixa e o perfil de endividamento da empresa? Podemos ver um movimento de M&A ou o foco é no crescimento orgânico?

SR: A realização da oferta pública de ações com melhoria das condições de liquidez e a melhoria da governança pela adesão ao Novo Mercado da B3 está permitindo que a Irani melhore o fluxo de caixa e o perfil de endividamento.

No primeiro trimestre deste ano, o fluxo de caixa livre ajustado da companhia, que desconsidera os investimentos na Plataforma Gaia e em outros projetos, bem como dividendos e juros sobre capital próprio pagos aos acionistas, foi de R$ 41.492 mil, o que representa um aumento de 286,1% em relação ao mesmo período do ano anterior.

O perfil do endividamento bruto em 31 de março de 2021 era de 4% com vencimento no curto prazo e 96% com vencimento no longo prazo. Já a relação dívida líquida/EBITDA foi de 0,79 vezes em março de 2021, contra 1,07 vezes do final de 2020.

Mantemos nossa estratégia de investir na modernização e na automação dos seus processos produtivos. Estamos direcionando nossos investimentos basicamente para reflorestamento, manutenção e melhorias das estruturas físicas, software, máquinas e equipamentos.

As estratégias dos melhores investidores do país e das melhores empresas da Bolsa, premiadas num ranking exclusivo: conheça os Melhores da Bolsa 2021

Anderson Figo

Editor de Minhas Finanças do InfoMoney, cobre temas como consumo, tecnologia, negócios e investimentos.