IPVA à vista ou parcelado: como escolher a opção que pesa menos no seu bolso

É preciso considerar outros fatores além do desconto à vista, explica especialista

Carla Carvalho

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Janeiro costuma pesar financeiramente para todo mundo, pois os gastos comuns de início de ano se juntam com os que transbordaram de dezembro. No meio desse aperto, costuma surgir nas conversas a dúvida sobre pagar o IPVA à vista ou parcelado.

Não existe uma resposta pronta, e é justamente isso o que torna a decisão mais sensível, segundo a planejadora financeira Andressa Siqueira, CFP pela Planejar. 

“A regra matemática nem sempre é a que funciona melhor no dia a dia, pois a forma como a pessoa lida com o dinheiro conta muito na escolha entre pagar à vista ou parcelar”, diz a especialista.

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É a partir da combinação entre números, rotina e comportamento que cada pessoa decide o que é melhor para o seu momento. Nesta conversa com o InfoMoney, Andressa trouxe a visão prática de quem acompanha a vida financeira das pessoas de perto, e deu dicas para quem ainda não decidiu se quita ou se parcela o tributo.

O dilema do IPVA no início do ano: pagar à vista ou parcelar?

O ponto de partida é sempre olhar o cenário da família no momento específico, e não apenas o valor do IPVA em si, observa Andressa.

Para a especialista, entender as prioridades de janeiro ajuda a evitar decisões impulsivas. Por exemplo, o desconto só vale quando não compromete outras despesas inevitáveis do período.

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“Começo de ano é complicado, principalmente para quem tem filhos, pois tem matrícula escolar, material, seguros e todas as despesas comuns dessa época. Por isso, entender quanto o pagamento à vista mexe no caixa é tão importante quanto calcular o abatimento do imposto”, alerta.

Para confirmar que o desconto nem sempre é uma vantagem, Andressa usa o exemplo de um IPVA de R$ 4.000 com abatimento de 3%. Nesse caso, a economia imediata seria de R$ 120, e só faz diferença se a pessoa tiver caixa para assumir esse pagamento sem travar o mês.

Por outro lado, quem tem folga no orçamento muitas vezes prefere pagar logo a dívida para seguir o ano sem esse compromisso e facilitar o controle financeiro. Nessa situação, o que pesa é o hábito e o impacto emocional, lembra Andressa.

“Se a pessoa não consegue dormir tranquila sabendo que tem uma dívida em aberto, mesmo que seja pequena e planejada, pagar logo pode ser a melhor escolha”, avalia.

Há também a possibilidade de investir o total e deixar o dinheiro render enquanto paga o imposto parcelado. Segundo a especialista, isso pode funcionar especialmente em momentos de juros altos, mas exige disciplina: a pessoa precisa ter o dinheiro disponível e resistir à tentação de usá-lo antes da última parcela.

Fluxo de caixa e perfil emocional importam na decisão

Antes de optar por aplicar o dinheiro para obter um retorno maior do que o desconto do IPVA, é preciso entender o próprio fluxo de caixa. O motivo é simples: as parcelas devem caber no orçamento sem sacrificar despesas fixas ou importantes.

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Para ilustrar, Andressa propõe o seguinte exercício: pense em um IPVA de R$ 2.500 parcelado em cinco vezes de R$ 500. O orçamento suporta mais R$ 500 por mês durante cinco meses? Se sim, o parcelamento pode ser tranquilo; se não, a escolha vira risco.

A especialista aponta ainda um comportamento que costuma atrapalhar quem escolhe dividir o imposto: o hábito de gastar o dinheiro que sobra. Para quem tem esse perfil, segundo ela, pagar antecipadamente costuma ser mais seguro, para não comprometer o orçamento quando a parcela chegar.

Como decidir entre IPVA à vista ou parcelado

Pergunta-chaveO que significa na prática
Tenho caixa para pagar à vista sem travar outras despesas de janeiro?Se não tiver, o desconto perde relevância e o pagamento total pode desorganizar seu mês.
O desconto é maior do que o rendimento que eu teria ao aplicar?Se o rendimento supera o abatimento, parcelar tende a ser mais vantajoso.
As parcelas cabem no orçamento pelos próximos meses?Se apertar demais, o risco de atraso cresce. nesse caso, pode ser melhor pagar à vista.
Meu perfil emocional lida bem com compromissos mensais?Se as dívidas tiram seu sono, quitar de imediato pode valer mais do que a vantagem financeira.

Situações especiais: cheque especial, autônomos e freelancers

Para quem está no cheque especial ou no rotativo do cartão, a discussão muda. 

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Nesse caso, IPVA não é a prioridade principal, pois os juros do banco são altíssimos e consomem grande parte do dinheiro da família. Logo, eliminar essa despesa cara é mais urgente do que decidir entre pagar o imposto à vista ou parcelado.

Se não houver dinheiro para isso, a saída é parcelar o IPVA em valores pequenos que caibam com folga no orçamento, evitando novos juros e mantendo estabilidade enquanto a pessoa tenta sair da dívida.

No caso de autônomos e freelancers, existe um outro desafio, que é a renda irregular. Como o fluxo financeiro varia a cada mês, assumir compromissos longos pode ser arriscado. 

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Andressa reforça que quem não sabe exatamente quanto vai ganhar no curto prazo deve evitar usar reserva para pagar o imposto e priorizar parcelas curtas, ou mesmo quitação imediata se houver caixa. O objetivo é minimizar o risco de um mês fraco desencadear uma bola de neve financeira.

Usar a reserva de emergência para o IPVA é uma opção?

A resposta é não, e esse é um dos erros comuns que muita gente comete, afirma Andressa. 

“A reserva de emergência serve para eventos imprevisíveis, como desemprego, gasto inesperado, reparo, ou alguma emergência médica. O IPVA não entra nessa categoria, pois ele acontece todo ano e deve ser tratado como uma despesa planejável, não como urgência”, reforça a especialista.

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A solução mais inteligente, segundo ela, é criar uma reserva anual programada. Por exemplo, em dezembro ou no início de janeiro, a pessoa lista todas as despesas típicas do começo do ano, e com isso em mente, distribui o valor ao longo dos meses, em pequenas parcelas.

“Essa rotina tira o peso emocional do começo do ano e impede que o orçamento fique sobrecarregado. E ajuda a definir prioridades: contas com bom desconto à vista vêm primeiro; o restante pode ser parcelado desde que caiba no fluxo de caixa e não provoque estresse”, conclui a especialista.