Influenciadores e games: como alunos querem aprender sobre educação financeira

Evento da Febraban contou também com especialista explicando a importância da psicologia para a educação financeira

Giovanna Sutto

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SÃO PAULO – Os alunos do país que cursam a rede pública de ensino preferem influenciadores e jogos para aprender mais sobre educação financeira, revelou a pesquisa “Pesquisa de Referência em Educação Financeira no País”. O estudo foi divulgado pela Associação de Educação Financeira do Brasil (AEF-Brasil), em evento promovido pela Federação Brasileira de Bancos (Febraban) nesta quarta-feira (18).

Enquanto as formas mais digitais de aprender como administrar contas e investir ganham espaço, mais de 41% desses alunos nunca conversaram com os pais sobre dívidas.

“O dado chamou a atenção porque falta diálogo sobre o que mais atormenta a cabeça dos pais. Muitos alunos não sabem a diferença entre o endividamento e a inadimplência, por exemplo”, afirma Claudia Forte, superintendente da AEF-Brasil. “Por outro lado, 35% dos alunos participantes da pesquisa informaram que falam com os pais sobre contas de consumo, como água, luz e celular. As contas de consumo são mais fáceis de serem abordadas.”

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A maioria dos pais entrevistados (62,6%) afirma que aprender sobre educação financeira é importante. E quando questionados sobre o principal objetivo para considerarem o tema como relevante, 43% deles disseram que uma boa educação financeira vai permitir que seu filho tome decisões melhores.

Fontes preferidas de educação financeira

A pesquisa contou mais com 2,1 mil professores dos ensinos fundamentais e médio, 14,7 mil alunos e 6,7 mil pais ao redor do país. Todos fazem parte do sistema público de ensino.

Cláudia destacou que o principal papel da associação é promover a educação financeira de forma gratuita. Para fazer isso de forma eficaz, é importante entender como os alunos, no caso desta pesquisa, têm interesse em aprender esse tipo de informação.

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Do total de entrevistados, 36% afirmaram que preferem aprender sobre educação financeira com influenciadores digitais. Outros 20,4% dos estudantes afirmaram que preferem aprender sobre finanças por games educativos.

“Não adianta o país trabalhar no fomento da educação financeira se não soubermos como atingir o público-alvo. Ouvir influenciadores é um caminho mais rápido para acessar informação. Mas a CVM [Comissão de Valores Imobiliário] soltou alerta sobre esses profissionais”, lembrou. Em 11 de novembro, a CVM publicou uma nota explicando que os profissionais que atuam de forma profissional nas redes sociais precisam ser certificados e detalhou o que considera atividade profissional.

Esforço de professores

Considerando os professores entrevistados para a pesquisa, 33% afirmaram que a educação financeira não é abordada no projeto pedagógico das escolas nas quais trabalham. Outros 41,4% informaram que o tema é trabalhado na disciplina de matemática.

A pesquisa mostra, no entanto, um esforço dos professores sobre esse tema. 67% dos entrevistados afirmaram que ministram educação financeira de alguma forma. Mas 83,7% do total nunca participou de nenhum tipo de capacitação sobre o tema.

“Você tem professores repassando o pouco que sabem, justamente porque entendem que o assunto é importante. Mas falta endereçar esse tipo de problema”, comenta Cláudia.

Ainda, considerando a Covid-19, 96,2% dos professores indicaram que a pandemia favorecerá a entrada do tema nas escolas. “É o famoso ditado: se não aprende pelo amor, é pela dor. A pandemia tem sido um momento oportuno para revisar hábitos e atitudes”, diz a executiva.

Psicologia e educação financeira

Também no evento da Febraban, a professora doutora Vera Rita de Mello Ferreira, membro do Comitê de Pesquisa da International Network for Financial Education (OECD/INFE), está otimista com a performance do Brasil em termos de iniciativas de apoio à educação financeira. Ela também explicou por que a psicologia deve andar lado a lado da educação financeira.

“Temos boas notícias. O Brasil é pioneiro na combinação entre educação financeira e psicologia econômica. Não estamos muito atrás de outros países em termos de iniciativas para a população. Mas há muitos desafios. O Banco Central e CVM têm iniciativas interessantes e alinhadas com o que acontece em outros países”, diz.

Ela citou as cartilhas sobre vieses econômicos, o blog “Penso, logo invisto?” e as conferências de ciências comportamentais e de educação do investidor que a CVM promove desde 2013. Do lado do Banco Central, ela destacou a plataforma de cidadania financeira, cujo princípio básico é justamente a psicologia econômica.

“Por que introduzir a psicologia nas finanças? Muitas das nossas decisões não são consistentes. Nem sempre escolhemos o melhor para nós. Deveria ser óbvio, mas não é”, diz Vera Rita. “O ser humano funciona com uma espécie de semáforo emocional: tem reações automáticas de curto prazo. Quando lida com o desprazer, situações em que não se sente confortável, há uma luz vermelha que o faz dizer ‘não’ sem nem olhar as consequências. Quando há prazer, a tendência é dizer sim. Por exemplo, quando alguém lhe promete um investimento milagroso que fornece 20% ao mês de rendimento”, explica.

Segundo ela, isso acontece porque o ser humano trabalha com dois sistemas: o primeiro é o rápido e o segundo é o devagar. O tema foi abordado por Daniel Kahneman, psicólogo e vencedor do Nobel de economia, em seu livro “Rápido e Devagar.”

“O sistema rápido é primitivo, lida com o impulso, o curto prazo, a execução. É o que a gente chama de ‘eu-quente’ e não é acessível por meio da educação financeira. Isso porque essa educação, construção de hábito, exige algumas coisas que o ser humano só consegue trabalhar no sistema devagar. Lá encontramos a ponderação, o longo prazo, o planejamento. É o ‘eu-frio’. É nesse aspecto que a educação em si é voltada”, afirma.

No entanto, ela explica que a decisão financeira muitas vezes vem do sistema rápido. “Na hora ‘H’, é o primeiro sistema que age. Precisamos ajustar isso a fim de chegarmos a melhores decisões financeiras. Isso envolve mudar o comportamento, o que exige tempo e novos hábitos”, diz. Para ela, esse é um desafio “em escala nacional.”

Por fim, ela compartilhou o que chama de “quinteto fantástico”. São vertentes que, juntas, podem ajudar a deslanchar a educação financeira no Brasil. “Precisamos de um esforço de todas as frentes para consolidar uma educação financeira sustentável no longo prazo”, avalia. Veja quais são elas:

Piscologia econômica e insights psicológicos
Educação financeira e política públicas
Arquitetura de escolha (maneira organizar o contexto no qual as pessoas tomam decisões, com objetivo de influenciá-las de forma previsível pela ciência)
Proteção ao consumidor financeiro
Regulação, supervisões e sanções (quando necessário) com a ajuda dos reguladores do país

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Giovanna Sutto

Repórter de Finanças do InfoMoney. Escreve matérias finanças pessoais, meios de pagamentos, carreira e economia. Formada pela Cásper Líbero com pós-graduação pelo Ibmec.