Em meio à guerra, Rússia prepara lançamento de piloto do rublo digital

Se o projeto for sancionado pelo presidente Vladimir Putin, o Banco da Rússia pode começar a testar a moeda em agosto

Bloomberg

o presidente da Rússia, Vladimir Putin (Kremlin/Divulgação)

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A Rússia está avançando com os planos para lançar o rublo digital, uma moeda digital de banco central (CBDC, na sigla em inglês), enquanto luta contra o isolamento internacional devido à guerra na Ucrânia.

A legislação para aprovar a “criptomoeda nacional” chegará ao Conselho da Federação, a câmara alta do parlamento da Rússia, nesta quarta-feira (19). Supondo que seja aprovada e sancionada pelo presidente Vladimir Putin, o Banco da Rússia pode começar a testar o rublo digital já no próximo mês.

Mais da metade dos bancos centrais do mundo estão considerando ou desenvolvendo moedas digitais, de acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI). Pelo menos 20 trabalham em pilotos, como Brasil, Índia, Japão, China, cujo projeto atinge 260 milhões de pessoas e está sendo testado em áreas como transporte público e comércio eletrônico, segundo pesquisa publicada pelo think tank norte americano Atlantic Council.

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Enquanto criptomoedas como o Bitcoin (BTC) fazem uso de sistemas de pagamentos descentralizados que não dependem de governos, as moedas digitais emitidas por bancos centrais são emitidas e reguladas por seus respectivos estados.

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Os defensores dizem que as CBDCs facilitam o fornecimento de serviços bancários a grupos sociais mal atendidos, aumentam a eficiência dos pagamentos e reduzem os custos das transações. Os céticos, por outro lado, alertam para as preocupações com a privacidade e os riscos de segurança dos ataques cibernéticos.

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O Banco da Rússia planeja executar um projeto piloto com 15 instituições financeiras do país. Isso permitirá que indivíduos e empresas abram uma carteira digital na plataforma do banco central que será acessível por meio de qualquer instituição russa. As transações com o rublo digital serão gratuitas para pessoas físicas, enquanto as empresas terão que pagar uma taxa de 0,3% sobre as transações, segundo orientação do banco.

Fuga de sanções

O banco central está prosseguindo com o projeto depois das amplas sanções impostas pelos Estados Unidos e de seus aliados cortarem os bancos russos do sistema financeiro global em resposta à invasão da Ucrânia pelo presidente Vladimir Putin em fevereiro de 2022.

Os bancos estrangeiros também aplicaram políticas cada vez mais restritivas aos pagamentos vindos da Rússia, que busca enfraquecer o impacto das sanções impulsionando o comércio em moedas diferentes do dólar com países como China e Índia, que têm sido mais neutros na guerra.

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O rublo caiu 18% em relação ao dólar até agora este ano, o pior desempenho entre as moedas de mercados emergentes atrás apenas da lira turca e do peso argentino.

E o cenário pode se agravar, com a queda nas receitas de energia e a recuperação das importações possivelmente reduzindo o superávit em conta corrente da Rússia, enquanto os gastos ligados à guerra drenam o orçamento.

Diante disso, alguns legisladores veem o rublo digital como uma possível maneira de a Rússia facilitar os pagamentos internacionais.

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“No ambiente atual, é importante ter instrumentos de pagamento independentes e canais de informações financeiras que possam ser usados em nosso comércio com parceiros estrangeiros”, disse Nikolay Zhuravlev, vice-presidente do Conselho da Federação, durante um debate sobre o rublo digital na Congresso Financeiro do Banco da Rússia, em São Petersburgo, no início deste mês.

Longo caminho

Essas esperanças podem ser prematuras, pois o rublo digital primeiro teria que ser vinculado a plataformas de moeda de outros países para que as transações internacionais ocorressem, mas não há sinal disso até agora, de acordo com Alexandra Prokopenko, ex-assessora do banco central russo que atualmente é bolsista do Carnegie Russia Eurasia Center, em Berlim.

“Até agora, o rublo digital se assemelha a um sistema de pontos de programa de fidelidade da ‘Fortress Russia’ (estratégia do país para lidar com sanções)”, disse Alexandra, reforçando que a característica pode ser mais focada em transações dentro do país. “Também possivelmente tornará as transações mais transparentes nos territórios anexados da Ucrânia, já que agora tudo é feito em dinheiro”.

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