“É preciso se planejar para o futuro e não apenas para os próximos 4 anos”, defende diretor da Planejar

Para Giuliano De Marchi, diretor da Planejar, o brasileiro deve basear seus investimentos pensando no longo prazo

Tarcisio Alves

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SÃO PAULO — O momento do Brasil pós-eleições é de definição e expectativa. Definição porque, finalmente, após uma conturbada campanha eleitoral, todos sabem quem assumirá a cadeira da Presidência da República em 1º de janeiro. Já a expectativa se volta para a confirmação de que a linha econômica do governo de Jair Bolsonaro, capitaneada por Paulo Guedes, será positiva para o crescimento do país — desde que aprovadas as reformas necessárias e mantida a taxa de juros em um patamar baixo, entre outras medidas, que, se espera, deverão ser tomadas.

É assim que Giuliano De Marchi, diretor da Planejar (Associação Brasileira de Planejadores Financeiros), avalia o atual momento do Brasil. Mas, ao mesmo tempo, ele emenda uma ressalva: “É muito difícil fazer uma projeção do que vai acontecer nos próximos quatro anos e é preciso se planejar para o futuro”.

Mais do que isso, na visão dele, é preciso diversificar os investimentos. E não se trata de investir em diferentes ativos somente mas ter uma posição fora do Brasil. “Somos consumidores globais e devemos ser, também, investidores globais”, diz.

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Quando De Marchi fala em “se planejar”, faz menção a algo que vai além do que as pessoas, em geral, entendem sobre o tema. Ele está falando sobre planejamento financeiro, atividade exercida por um profissional CFP (Certified Financial Planner) que, acredita, será tão comum no Brasil quanto a de personal trainer, daqui a 10 ou 15 anos. “Todo mundo vai ter um”, decreta.

Não por acaso, pela primeira vez em sua história, o congresso anual da Planejar reservará uma data (dia 9 de novembro) para a participação de investidores e do público em geral (veja detalhes no final do texto). “O objetivo é mostrar o papel do planejador financeiro pessoal como transformador na vida das pessoas”, comenta Giuliano De Marchi, frisando que o brasileiro deve pensar na realização de seus sonhos, mais do que em ganhar dinheiro. Leia a entrevista completa, abaixo:

Como as pessoas devem refletir sobre sua realidade financeira e seu perfil de investidor, na hora de pensar em estratégias para o futuro, neste momento pós-eleição?
No curto prazo, temos um momento de definições no Brasil. Mas, em termos de planejamento financeiro, devemos que pensar a longo prazo e mais estrategicamente do que taticamente. Quando se fala de futuro, temos que pensar o que cada um de nós quer fazer com seu dinheiro — quais são seus objetivos, seus sonhos, suas preocupações a longo prazo —, independentemente da idade. Isso vale para uma pessoa de 20 anos e também para uma de 70. Existe uma chance muito alta, estatisticamente, de você chegar aos 90, 95 anos e até 100, em alguns casos. E você precisa que o seu dinheiro, ao menos, dure até lá, para que você mantenha uma qualidade de vida mínima nesse período. E o CFP pode ajudar muito nesse processo, criando um plano personalizado.

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Além de diretor da Planejar, o sr. é head do JPMorgan Asset Management na América Latina. O que o banco está indicando para os clientes com a eleição de Jair Bolsonaro?
A nossa estratégia é muito focada em ativos globais, e gerimos mais de US$ 1,7 trilhão de ativos no mundo. E a nossa recomendação é que todo indivíduo deve ser globalizado. Hoje em dia, nós já somos consumidores globais e devemos ser, também, investidores globais. Então, uma parte dos seus recursos tem de estar em ativos não brasileiros. Se vão ser 10% ou 40%, vai depender do tamanho do seu patrimônio. Se ele for de R$ 10 milhões, vai ter que ter uma parte importante dos ativos fora do Brasil ou diversificados globalmente. Já para uma pessoa cujo patrimônio é de R$ 1 milhão essa exposição será muito menor. O importante é fazer um plano financeiro. Ressalto que o Brasil é uma parte importante, mas representa 1% da capitalização do mundo. Ou seja, 99% da capitalização estão fora do Brasil. Como diziam nossas avós, não se deve colocar todos os ovos na mesma cesta. Temos que diversificar.

Já é possível fazer uma projeção da economia brasileira para os próximos quatro anos? Que medidas deveriam ser tomadas, por parte do governo, no sentido de estimular o desenvolvimento do País e facilitar tanto o trabalho do planejador financeiro quanto do investidor?
É muito difícil fazer uma projeção do que vai acontecer nos próximos quatro anos. A economia funciona em ciclos e torcemos para que essa nova administração seja positiva. Acho que, do ponto de vista do planejamento financeiro, o importante é a transparência. Taxa de juros baixa é muito importante para fomentar investimento real. Controle da inflação é fundamental para que as pessoas consigam se planejar a longo prazo. Além disso, reformas, como a fiscal e a previdenciária, são fundamentais para que o Brasil tenha um crescimento mais estruturado, inclusive do mercado acionário. O país tem um potencial muito grande para os próximos anos, mas é preciso ver o que vai acontecer.

Dentro do atual contexto, de mudança de governo, pode-se dizer que um profissional qualificado, como é o caso do planejador financeiro (CFP), ganha ainda mais importância? De que maneira ele pode auxiliar o investidor neste processo? E, do lado do investidor, dá para afirmar que há uma demanda crescente nesse sentido?
É fundamental estar bem assessorado neste momento. Infelizmente, o brasileiro ainda é um pouco mimado com a indústria de investimentos. Nós, brasileiros, nos acostumamos a investir com alto retorno e pouca volatilidade, em um ativo considerado livre de risco no Brasil, que são seus títulos soberanos. Quando você investe em renda fixa, em fundos DI, investe em papéis do governo. Ou seja, você empresta dinheiro para o governo, que é o emissor mais seguro do país, com retorno altíssimo, em médias mundiais, e risco baixo. O investidor via sua carteira balançar muito pouco e ganhava muito com aquele investimento. E mesmo com a taxa de juros baixa, ainda se ganha acima da média mundial, com uma volatilidade menor. O que a gente vai ver nos próximos anos, se o governo tiver sucesso — e eu tenho certeza que todo mundo torce para isso —, será um ambiente de juros mais baixos. Daí a importância de ter alguém do seu lado, um planejador financeiro, para mostrar o caminho a ser seguido no longo prazo. Vai ter um risco maior para chegar ao seu objetivo, justamente porque não haverá mais essa previsibilidade que existe hoje. O planejador financeiro não vai fazer você ganhar dinheiro, e sim ajudá-lo a chegar a esses objetivos. Esse é o grande diferencial. Ninguém conhece melhor os seus sonhos do que você.

A propósito disso, o Congresso Planejar 2018, promovido pela Associação Brasileira de Planejadores Financeiros —, de maneira pioneira, terá uma data aberta ao público em geral, incluindo investidores, além dos profissionais de planejamento financeiro. Qual é a importância dessa medida, do ponto de vista da educação financeira para o brasileiro?
Esse é o maior congresso que a Planejar já fez aqui no Brasil, na história. É um grande mercado, com grande potencial, e vamos ter palestras que falam de diversos temas ligados ao planejamento financeiro. Para quem está interessado no assunto, este é o melhor fórum no Brasil e, mesmo, na América Latina. Planejamento financeiro é um tema já muito desenvolvido em alguns países, como os Estados Unidos. Hoje em dia, todo mundo lá tem um planejador financeiro. Pense na questão do personal trainer 20 anos atrás. Era uma figura que, se você sugerisse a alguém, essa pessoa acharia desnecessário. “Como assim ter alguém para me ensinar a fazer exercício direito?”. Hoje, é normal lidarmos com a profissão de personal trainer. Todo mundo entende que se trata de um profissional capacitado para isso e que vai orientar você dentro das suas necessidades. É claro que nem todo mundo tem um personal trainer, mas é assim que eu enxergo a profissão de planejador financeiro no Brasil. Nos EUA foi assim e, hoje, mais de 160 mil profissionais fazem isso. Até nas pequenas comunidades, hoje, existe alguém que ajuda as pessoas a alcançar seus objetivos de vida. É uma questão de mudança de mentalidade para que o brasileiro comece a utilizar esse serviço também. Já temos 3,5 mil profissionais, aproximadamente, atuando nesse segmento. Então, temos um campo gigantesco a ser percorrido. Nossa expectativa é que, daqui a 10 ou 15 anos, todo mundo — ou quase todo mundo — vai ter um planejador. A Planejar segue um padrão internacional de qualidade e o congresso é um centro de troca de ideias e para ter todas as informações sobre planejamento financeiro.

Qual é o custo de contração de um planejador financeiro? É preciso ter muito dinheiro para contratar esse serviço?
Não. Aliás, é como contratar um personal trainer. Você pode até pagar por hora para que ele o auxilie a planejar seu futuro ou, se quiser, remunerá-lo por um plano. Há dois modelos principais de cobrança: um é o fee-based e o outro é o comission-based. O primeiro é como pagar por uma consulta médica ou por um pacote de consultas com um nutricionista. No segundo caso, o planejador recebe comissão sobre um ou mais produtos que ele recomenda. Pode parecer conflito de interesses, mas não é, porque o planejador deve trabalhar com transparência. Existe um código de ética a ser seguido, e o próprio cliente tem todo o direito de saber quanto o planejador está ganhando. De alguma forma, esse trabalho será remunerado e as pessoas precisam entender isso como algo normal, assim como um médico, um advogado ou um professor são importantes na vida delas. O planejador financeiro é quem vai cuidar do futuro das pessoas, assim como um médico cuida da saúde. O futuro vai chegar e é preciso se planejar para isso.

Serviço
O Congresso Planejar 2018 acontece nos dias 8 e 9 de novembro, no Hotel Transamérica, em São Paulo, sendo que o segundo dia será aberto à participação de investidores e do público em geral.

Dentro do ciclo de palestras estarão presentes nomes como Marcos Lisboa (presidente do Insper), William Waack (jornalista), Zeina Latif (XP Investimentos), Aquiles Mosca (BNP Paribas), João Braga (XP Gestão), Bill Santos (Franklin Templeton) e Gabriela Santos (J.P. Morgan Asset Management).

Eles e outros palestrantes vão debater o Brasil após as eleições, o que esperar da economia no novo governo, as estratégias de investimento nesse cenário e a importância das finanças comportamentais.

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