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SÃO PAULO – Crédito é um conceito relativamente novo na economia brasileira. Afinal, somente depois da estabilidade da inflação, e conseqüente queda dos juros para patamares, ainda que elevados, mas gerenciáveis, é que as instituições puderam efetivamente se concentrar neste segmento de atividade.
Como era de se esperar, a expansão de crédito gerou algumas vítimas, que acabaram se atolando em dívidas, e fazendo parte das estatísticas oficiais de inadimplência. Neste contexto, a palavra crédito passou a ser sinônimo de algo ruim e negativo para as suas finanças, mas não é preciso ser assim.
Existem o que chamamos de forma simplificada de “crédito bom” e “crédito ruim”. Mas como reconhecê-los? Gostaríamos de reforçar que nosso objetivo não é, em absoluto, incentivar a contratação indiscriminada de crédito, mas sim educar sobre em quais situações levantar um financiamento pode ser algo positivo para a sua vida.
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Capacidade de gerar caixa
O conceito de crédito é bastante complexo e de difícil entendimento mas, desde que usado com moderação e consciência, levantar crédito pode ajudar, inclusive, no crescimento do seu patrimônio. O segredo para isso é ser capaz de diferenciar entre crédito bom e ruim, algo que parece fácil, mas ainda foge ao entendimento da maioria dos brasileiros.
Levantar crédito é positivo, quando esta decisão pode melhorar a sua capacidade de gerar renda, ou seja, quando ajuda na sua geração de caixa. Em contrapartida, levantar crédito para a compra de bens de consumo, a taxas elevadas, certamente é algo negativo.
Quando você levanta dívida para pagar sua faculdade, através de crédito estudantil, este é um exemplo de crédito positivo, pois o estudo lhe abrirá portas para uma melhor colocação no mercado de trabalho. Com isso, eventualmente você poderá receber um salário melhor, o que contribuiu para a sua geração de caixa.
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Já a compra de um vestido com o cartão de crédito só para ir a uma festa, certamente qualifica o crédito como ruim. Basta sair da loja e colocar a roupa, que o preço da mesma cai para cerca de metade! Exagero? Claro que não, se você quiser vender esta roupa, sua alternativa será um brechó, que pagará um preço bem inferior pela roupa do que o que você pagou na loja.
Carro ou casa?
Mesmo quando o crédito é levantado para a compra de bens duráveis, como automóveis, por exemplo, ele tende a ser negativo. Ainda que se possa argumentar que o carro é fundamental para se aceitar um emprego mais distante, ou até funcione como instrumento de trabalho para profissionais que trabalham com vendas, o problema é que, em geral, ocorre exagero.
Que o brasileiro é louco por carro ninguém nega, de forma que, para ir ao trabalho, bastaria um modelo popular novo e econômico, mas a maioria acaba optando por modelos mais potentes, mesmo sabendo que, no trânsito das grandes cidades, esta potência de pouco servirá.
E não é só isso. Ainda que a taxa cobrada nos financiamentos de carros seja relativamente mais baixa com relação a outras formas de crédito ao consumo, cerca de 3% ao mês, ela é sem dúvida maior do que a embutida no financiamento imobiliário, que gira em torno de 1,5% ao mês.
Ao contrário da casa que pode ter seu preço valorizado com o tempo, o mesmo não acontece com o carro, que perde valor logo de cara. Nosso objetivo não é argumentar que crédito imobiliário é sempre bom, mas simplesmente ilustrar que é mais positivo do que aquele levantado para a compra de carro.
Apesar do crédito imobiliário ser mais positivo que o financiamento de um carro, pelas razões mencionadas acima, é preocupante constatar que a maioria dos brasileiros levanta crédito para a compra de um carro, antes mesmo de tentar financiar a sua casa própria. Sem dúvida, a impossibilidade de se abater os juros do crédito imobiliário do imposto a pagar reduz o aspecto positivo deste tipo de financiamento, no confronto com outros países, mas não acaba com ele por completo.
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Tudo tem limite!
Não é porque você está levantando o que definimos acima como “crédito bom”, que não precisa se preocupar. Para tudo na vida existe limite, e isso também vale para crédito. Uma dica de que você está perdendo o controle da situação é quando começa a se preocupar em formas de reduzir o valor da sua dívida!
Mas, de maneira geral, recomendamos como regra básica que o consumidor nunca levante crédito superior a 20% da sua renda. Ainda que seja possível levantar crédito acima deste limite, é provável que os novos recursos sejam concedidos a taxas mais elevadas do que as que inicialmente pagava, mesmo que você nunca tenha atrasado os pagamentos!
Outro erro comum é acabar se iludindo que, por ter vários cartões de crédito, você é visto de forma mais favorável pelas administradoras deste produto. Isso nem sempre é verdade, sobretudo, se você está atrasado em todos eles.
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Mais ainda, não são raros os casos em que as administradoras oferecem taxas mais atrativas no início, mas se permitem – através de cláusulas no contrato de adesão que você assinou, mas não leu com a atenção devida – de reverem estas taxas, de forma que depois de alguns meses a taxa que era de apenas 3% sobe para extraordinários 12% ao mês.
Re-financiar a juros mais baixos?
Em princípio esta é uma forma positiva de levantar crédito, afinal permite que você troque uma linha que te cobra juros de 10% ao mês, por outra com juros mais baixos. Esta estratégia é bastante comum entre as administradoras de cartão de crédito, que aceitam a transferência de saldo devedor, e oferecem a possibilidade de redução dos juros.
Porém, em geral existem cláusulas que garantem que a taxa reduzida irá ser oferecida somente por um determinado período, de até seis meses, depois do que o que não tiver sido quitado sofrerá incidência de juros até mais elevados. Assim, o re-financiamento pode sim ser uma alternativa bastante saudável para a sua situação financeira, e positiva, pois aumenta a sua geração de caixa, na medida em que reduz os gastos com juros, mas é preciso determinação para resolver o problema, senão os riscos de se atolar ainda mais são grandes.
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Educação financeira, quanta falta ela faz
Você está cansado de ouvir falar, mas a verdade é que a maioria dos consultores está ainda mais cansada de mencionar a sua importância sem, contudo, receber a correta atenção por parte dos consumidores. Investir em educação financeira é o primeiro passo para o reconhecimento efetivo das diferenças entre crédito bom e ruim.
Por mais que os conceitos discutidos em nossos artigos pareçam óbvios e bastante simples, a realidade é que, segundo os últimos dados do Banco Central, cerca de 13% das linhas de crédito concedidas aos consumidores estão em atraso, ou, inadimplentes.
Ainda que o baixo poder aquisitivo do brasileiro tenha um peso importante nesta equação, não há como negar que a falta de educação financeira por parte da maioria da população agrava ainda mais a situação. E, nisso não estamos sozinhos, nos EUA, por mais que a discussão sobre o tema seja ainda mais intensa, a realidade é que boa parte da população também levanta financiamento antes de sequer ter um emprego!
E como educação vem de casa, nada melhor do que começar você mesmo a adotar alguns dos princípios básicos na gerência de suas finanças pessoais, e porque não começar por explicar para os seus filhos a diferença entre crédito bom e ruim. Quem sabe não seja a hora de revermos alguns conceitos antigos, que nossos pais e avós tinham, de que poupar é bom e de que crédito exige cautela e cuidado.