Comum no Brasil, empréstimo de nome pode causar problemas financeiros e emocionais para os envolvidos

Quase 30% dos consumidores fizeram compras ou tomaram empréstimos e financiamentos em nome de outras pessoas

Mariana Amaro

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Em dezembro de 2021, o Brasil apresentava 63,9 milhões de inadimplentes. Mas, mesmo com o “nome sujo” e a restrição de crédito, muitas pessoas precisam continuar consumindo. Para isso, podem recorrer a uma prática informal que, à primeira vista, pode parecer inocente: o empréstimo de nome. 

Uma pesquisa da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC) junto com o Sebrae mostrou que 29% dos consumidores fizeram compras com cheque, cartão de crédito, crediário ou mesmo tomaram empréstimos e financiamentos utilizando o nome de outras pessoas nos 12 meses anteriores à pesquisa. 

A prática, que é vista como uma atitude solidária, é usada, principalmente, por quem está com dificuldades de acesso ao crédito: 23% das pessoas que pegaram o “nome” de outra pessoa emprestado, o fizeram por estar com o próprio nome negativado. Outros 23% o fizeram por terem estourado o próprio limite do cartão de crédito ou cheque especial e 13% recorreram à essa prática por não terem conseguido aprovação de crédito. 

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Na hora de pedir o nome emprestado, as pessoas mais procuradas são os pais (23%), os cônjuges (21%), os irmãos (17%) e os amigos (14%). Outros familiares como tios, sobrinhos, primos, sogros e cunhados formam 20%.

“Quem empresta o nome precisa entender a real necessidade do outro lado. Muitas vezes, a melhor ajuda é orientar esse amigo ou familiar a dar prioridade para o pagamento de dívidas em vez de estimular que a pessoa assuma mais compromissos, sem saber se ela terá condições de arcar com o pagamento mais para frente”, explica José César da Costa, presidente da CNDL.

Quem precisa pegar o nome de alguém emprestado normalmente o faz porque precisa de dinheiro para compras de supermercado (19%), pretende pagar uma dívida (15%), tem a necessidade de comprar roupas, sapatos ou acessórios para si (14%) ou outros itens para os filhos (11%). Também são razões para pedir o nome emprestado a reforma da casa (10%) e a compra de presentes em data especial (8%).

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A maioria dos consumidores (87%) quitou ou tem pagado as parcelas da dívida feita no nome de outra pessoa em dia. Mas 16% deixou atrasar ao menos uma vez por que perdeu o emprego (21%), teve redução na renda (20%), não recebeu o salário (20%), esqueceu-se da dívida (18%), teve outros gastos (17%) ou problemas de saúde (12%). Para pelo menos uma em cada dez pessoas que emprestou seu nome a familiares ou amigos, a consequência foi ter o seu nome negativado.

Quais são os impactos de emprestar o nome?

“O seu nome é o maior bem que você tem”. A afirmação é de Mellissa Penteado, CEO do bureau digital de crédito ProScore. Essa, segundo ela, é a maior razão para pensar muito bem antes de topar emprestar o nome para alguém. Isso porque todo o risco financeiro do empréstimo fica com quem cedeu o nome. “Se seu familiar ou amigo não honrar o pagamento, o CPF que está em perigo é aquele de quem emprestou”, afirma. 

Por outro lado, quem pegou o nome de alguém emprestado e não conseguiu honrar os pagamentos, ficará com o peso da dívida moral. “Isso pode criar constrangimentos familiares”, afirma. 

Para Costa, artifício do empréstimo de nome pode gerar transtornos para ambas as partes, trazendo danos financeiros, emocionais e até mesmo abalando relações de amizade e parentesco. “Pode ser difícil dizer não a um amigo ou familiar, principalmente quando se alega dificuldades financeiras, mas é possível ajudar indicando a renegociação de dívidas, a reorganização das finanças ou mesmo sugerindo a venda de algum bem”, diz Costa.

Impacto no Score de Crédito

Score de crédito é um indicador de perfil financeiro pessoal. Ou seja, ele aponta se uma determinada pessoa é boa pagadora ou não e é calculado por empresas que fazem gestão de dados relacionados ao histórico de pagamento das pessoas.

Buscar crédito em nome de terceiros tem um impacto no Score de Crédito de todos os envolvidos. A pessoa que emprestou o nome, por exemplo, pode ser qualificada como alguém com um poder e uma necessidade de consumo diferentes dos reais. E quem pegou o nome emprestado também não terá o benefício de mostrar que pode ser um bom pagador. 

“No fim do dia, precisamos sinalizar que é um risco para as duas partes. Quem emprestou o nome pode ter problemas financeiros e quem pegou o nome emprestado pode estar mascarando um problema de controle financeiro que precisa de atenção”, afirma Mellissa.

Mariana Amaro

Editora de Negócios do InfoMoney e apresentadora do podcast Do Zero ao Topo. Cobre negócios e inovação.