Casa, carro, carteira de investimentos: como obter juros menores nos empréstimos com garantia

No chamado crédito colateralizado, quem toma empréstimos oferece uma garantia real ou financeira. Em troca, consegue condições mais vantajosas

José Carlos Videira

Ilustração (Pollyana Ventura/Getty Images)

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SÃO PAULO – Embora a Selic, taxa básica de juros da economia, esteja há meses no menor patamar da história, de 2% ao ano, no dia a dia, quem precisa de crédito ainda encontra juros nas alturas.

No comércio, o custo das compras parceladas gira em torno de 72% ao ano. Um empréstimo pessoal nos bancos tem juros acima de 45% ao ano. No cheque especial, as taxas se aproximam de 128% ao ano e no cartão de crédito, passam de 257%, segundo a pesquisa de juros mais recente da Associação Nacional dos Executivos de Finanças (Anefac).

Para conseguir um custo mais acessível, quem busca dinheiro tem recorrido a opções como o crédito com garantia real – ou crédito colateralizado, no jargão do mercado financeiro.

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O crédito colateralizado, na definição clássica, é a modalidade em que o tomador do empréstimo deixa uma garantia real ou financeira para a instituição que oferece o crédito.

Isso diminui o risco assumido pela instituição, pois ela pode lançar mão da garantia para cobrir o débito em caso de inadimplência do tomador. Assim, os juros cobrados são menores que os de linhas de crédito pessoal (veja exemplos abaixo).

O crédito com garantia real não é inédito, mas tem se popularizado nos últimos anos. O surgimento dos empréstimos consignados – em que os salários dos tomadores funcionam como a garantia real – ajudou nesse processo.

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Atualmente, o rol de ativos que podem ser acionados no crédito colateralizado envolve imóveis, veículos, restituição do Imposto de Renda e até a carteira de investimentos mantida pelo tomador.

Investimentos como garantia em empréstimos

Usar a carteira de investimentos como garantia em empréstimos foi, por tempos, uma opção reservada pelos grandes bancos a seus clientes preferencias em operações grandes. Hoje, o acesso a esse tipo de negócio está mais fácil.

O Banco XP, por exemplo, oferece esse produto aos clientes que têm investimentos na XP Investimentos, com um valor mínimo de R$ 50 mil para o crédito.

Os juros cobrados são, em média, equivalentes à taxa do CDI mais 3,5% ao ano, com prazos que podem variar de um a cinco anos. A liberação do recurso se dá em torno de quatro dias.

“É um crédito para quem não quer parar de investir”, diz Pedro Testa, head de Sales e Crédito da XP Investimentos.

Faz sentido, segundo o executivo, para quem tem boa rentabilidade na carteira e, ao mesmo tempo, precisa levantar dinheiro. Em vez de resgatar as aplicações, pode usá-las para tomar empréstimo barato, sem mexer na aplicação.

A primeira operação colateralizada do Banco XP, diz Testa, foi realizada em janeiro de 2020, e o produto passou a ser oferecido ao público em abril. Até o fim do ano, as operações somaram R$ 4 bilhões.

“Grandes bancos não se interessavam em fazer operações colateralizadas para pessoas físicas porque elas dão muito trabalho e o operacional é caro”, afirma o professor George Sales, do Mestrado Profissional da Fipecafi.

Segundo ele, costuma ser mais vantajoso para essas instituições manter os juros altos, no lugar de pedir garantias e diminuir as taxas.

Fintechs e plataformas de investimentos têm estrutura mais leve do que os bancos, e por isso estão puxando a fila da popularização. “Isso aumenta a concorrência na área de crédito”, afirma Sales.

Por isso, já se veem mudanças no mercado. Quem possui investimentos no Itaú Unibanco e não quer resgatar dinheiro, por exemplo, também pode conseguir crédito com garantia dos ativos mantidos na instituição. O banco não informou os juros cobrados.

Imóveis e carros em troca de juros mais baixos

Outra forma de crédito colateralizado que tem ganhado terreno é o empréstimo com garantia em imóveis, também conhecido como “home equity”.

Várias fintechs estão apostando no segmento. A mais conhecida é a Creditas, acompanhada por outras como CashMe, CrediHome, Pontte e Kenlo.

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Dados da Associação Brasileira de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip) mostram que a concessão de empréstimos com garantia de imóvel saltou 25% no ano passado. As operações totalizaram R$ 4,1 bilhões em 2020, contra R$ 3,3 bilhões em 2019. O saldo em carteira dessas operações está em R$ 11,7 bilhões, com 95 mil contratos.

“O potencial de crescimento desses produtos é muito grande”, diz Fabio Zveibil, vice-presidente de Soluções para Clientes da Creditas, plataforma online de crédito com garantia de imóveis, veículos e salários.

Segundo ele, o valor de imóveis no Brasil soma cerca de R$ 10 trilhões. O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, já chegou a estimar em R$ 500 bilhões a injeção de recursos na economia com o home equity.

A fintech Creditas e os bancos Santander e Itaú são algumas instituições que oferecem empréstimos com garantia de imóveis. É possível contratar financiamentos no valor de R$ 30 mil a até R$ 3 milhões, e os juros cobrados variam de 0,65% a cerca de 1% ao mês, dependendo do prazo da operação.

Em algumas instituições financeiras, também é possível oferecer veículos como garantia de empréstimos.

Em geral, esse tipo de crédito colateralizado é usado para trocar linhas caras por outras mais baratas, além de custear pequenas reformas, tratamento médico e odondológico, investimento em negócio próprio, entre outros.

Os juros mensais mínimos variam de 0,89% a 1,5% em instituições como BV, Creditas e Santander.

Vantagens e riscos

As vantagens de oferecer uma garantia para conseguir melhores condições para obter crédito são grandes. Os especialistas alertam, porém, que é preciso ter disciplina financeira para não perder o bem, um risco real nesse tipo de operação.

Para Zveibil, é importante investir em educação financeira, para mostrar para as pessoas que a qualidade do crédito é vantajosa. “O medo é desproporcional em relação ao custo de não deixar um bem em garantia”, afirma.

Como o crédito colateralizado tem taxas mais baixas e prazos mais longos, as parcelas são menores – e mais fáceis de pagar. “Dói ver o cliente pagando 5% ao mês num crédito pessoal, tendo um apartamento de R$ 1 milhão e um carro de R$ 100 mil”, diz Zveibil.

José Carlos Videira

Jornalista colaborador do InfoMoney