Como a queda do preço do petróleo pode afetar seu bolso

O InfoMoney conversou com dois professores para entender os efeitos da queda no dia a dia do consumidor

Giovanna Sutto

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SÃO PAULO – Na última segunda-feira (20), o contrato do petróleo WTI para maio caiu fortemente e fechou em queda de 305,97%, a US$ 37,63 negativos o barril. Ou seja, na prática, os operadores estavam pagando para se livrarem do contrato.

O movimento aconteceu dado o cenário atual: com o avanço do coronavírus pelo mundo e com a economia mundial operando de forma reduzida, a demanda por derivados de petróleo caiu e os estoques de petróleo aumentaram a ponto de os operadores não terem onde estocar a produção.

Mas esse processo também pode afetar o consumidor pessoa física. Segundo Rina Xavier Pereira, economista e gerente geral Ibmec DF, a reação que as pessoas podem esperar é uma queda no preços de todos os produtos derivados de petróleo.

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“Partindo do princípio de que a queda do petróleo permaneça por um tempo maior, outras áreas da economia serão afetadas, como todo produto derivado do mesmo, por exemplo. Incluindo gasolina, gás de cozinha, produtos de limpeza, cosméticos, entre outros. Mas isso não é imediato, o mercado precisa absorver o episódio ainda”, diz.

Outros produtos que usam petróleo no processo de fabricação incluem tecidos sintéticos, medicamentos, embalagens e até alimentos – considerando corantes e fertilizantes, por exemplo.

Sobre os combustíveis, Rafael Schiozer, professor de finanças da FGV EAESP, diz que, no Brasil, o preço vai depender da política de repasses da Petrobras.

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“Acho que a Petrobras não vai tomar nenhuma decisão correndo, vai acompanhar como o mercado se comporta ao longo dos próximos dias ou semanas antes de repassar uma queda grande. Deve demorar para uma edução efetiva chegar nas bombas do posto de gasolina, ainda mais em um momento em que os estoques dos postos estão maiores devido à quarentena”.

Segundo ele, para os outros produtos é mais complexo saber se haverá mudança de preço, já que há uma queda de demanda generalizada por conta da crise. “Possivelmente teremos queda de preços. Em alguns casos raros, vamos ter queda de oferta, principalmente nos produtos que têm componentes importados, como eletroeletrônicos, por exemplo”. Vale lembrar que, para itens importados, há contribuição do dólar, que vem batendo recordes de alta.

Para Schiozer, a queda de segunda-feira foi bem específica de alguns contratos e representa um desequilíbrio entre oferta e demanda, mas deve ser corrigida.

“A recessão causada pelo coronavírus é o pano de fundo dessa queda de preços, e a oferta não foi ajustada rapidamente. Tecnicamente, não é trivial fechar um poço [parar a produção de petróleo], isso é normalmente feito de forma gradual, especialmente em campos marítimos. As empresas também relutam em tomar essa ação, pois a abertura também precisa ser feita de maneira gradual. Então, provavelmente essa não será uma saída para equilibrar oferta e demanda e precisaremos aguardar uma correção nos preços ao longo do tempo”, analisa.

Passagens aéreas

As passagens aéreas são produtos que, em condições normais, podem vir a cair quando o preço do barril cai, já que o combustível do avião, o querosene, é derivado de petróleo.

No entanto, no atual momento, em que o setor de turismo está em colapso com a quarentena e cerca de 80% de voos nacionais foram cancelados, essa derrocada de preços não deve impactar as passagens aéreas como aconteceria em um cenário sem coronavírus – basicamente, o preço do combustível é o menor dos problemas neste momento.

Por isso, Rina, do Ibmec, explica que hoje a queda do petróleo tem uma relação direta mais fraca com a passagem mais barata porque uma série de fatores impacta as passagens antes da commodity.

“Mas se, de fato, houver uma redução no preço do combustível e as empresas decidirem repassá-la para o consumidor final, a possibilidade [da queda de preço da passagem] existe”, diz a professora. Ela pondera que, se a redução acontecer, não deve ser no curto prazo, porque esse repasse de preços ao consumidor final geralmente demora para acontecer – ainda mais no atual cenário.

“Certamente, as viagens aéreas serão uma das últimas atividades a serem retomadas, pois, mesmo com a liberação gradual da quarentena, as viagens devem ser restritas, principalmente as internacionais. Acho que o preço do combustível é um dos componentes menos importantes no preço das passagens nesse momento. A demanda é a chave aqui”, complementa Schiozer.

Giovanna Sutto

Repórter de Finanças do InfoMoney. Escreve matérias finanças pessoais, meios de pagamentos, carreira e economia. Formada pela Cásper Líbero com pós-graduação pelo Ibmec.