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Colunista InfoMoney: Riscos Assimétricos

Fundos com riscos assimétricos podem agradar clientes arrojados, mas podem penalizar investidores mais conservadores

Jurandir Sell Macedo Jr

Vamos imaginar que alguns jovens talentosos decidam ganhar a vida no mercado financeiro. Montam, então, uma pequena gestora de investimentos. Alugam uma bela sala, compram mobílias caras, dão um belo nome em inglês como “Alguma Coisa Asset Management” e se lançam a captar recursos.

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Como jovens inteligentes, sabem que se forem conservadores e colocarem todo o dinheiro dos clientes em títulos públicos obterão uma rentabilidade muito próxima daquilo que os grandes bancos de rede oferecem. Também sabem que precisarão cobrar taxas de administração elevadas para cobrir seus custos, muito maiores do que os dos grandes bancos – levando em conta a proporção do volume de dinheiro captado.

Os jovens precisarão correr riscos elevados para ter chances concretas de ganhar muito acima do mercado e atrair clientes. O risco que devem correr pode ser o de crédito ou os riscos assimétricos. Os fundos que correm riscos de crédito geralmente trabalham com crédito privado. Os fundos de arbitragem de riscos são chamados fundos de arbitragem ou long/shorts.

“Caso lhe ofereçam um fundo que rende 130% do CDI, questione a forma de se obter esse ganho”

Fundos com riscos assimétricos podem ser interessantes para os clientes com elevada propensão ao risco, mas podem dar prejuízos a investidores com perfil mais conservador. Devido ao elevado risco, a CVM só permite que os gestores vendam esses fundos para investidores qualificados. Mas qualquer pessoa que possua mais de R$ 300 mil aplicados é tratada como um investidor qualificado e pode receber ofertas de fundos alavancados.

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O risco assimétrico pode ser compreendido a partir de um simples exercício de imaginação. Pense que você é o gestor um fundo de R$ 1 milhão. Compra, então, Letras Financeiras do Tesouro Nacional, que vão render um pouco menos que a taxa SELIC. Descontando os custos de administração, você teria um rendimento medíocre para seu fundo e nunca receberia qualquer taxa de performance.

Um amigo seu compra uma Ferrari e resolve fazer um seguro, que vai custar R$ 50 mil. Ele é extremamente cuidadoso e vai usar o carro muito pouco. Então, você resolve assumir o risco, em nome do fundo, em troca dos R$ 50 mil. Se não houver sinistro em um ano, ótimo. Seu fundo vai poder cobrar uma taxa de administração de 3%, mais taxa de performance e ainda sobra um rendimento de 110% do CDI para seu cliente.

Mas se o seu amigo destruir a Ferrari em um acidente, pode ser que você tenha que gastar todo o dinheiro do fundo e mais um pouco para recuperar o prejuízo. Seus clientes iriam ver suas popanças virando pó. Já você, no máximo, perderia o emprego. Claro que se você não corresse riscos, também ficaria desempregado.

Evidentemente, os fundos são proibidos de fazer seguros de carro ou qualquer seguro, mas podem reproduzir uma situação semelhante nos mercados futuros e de derivativos. O mercado futuro compra e vende expectativas. Nesse mercado não são negociados títulos ou bens, mas o direito de comprar ou vender algo em data futura, por um determinado preço.

Você pode, por exemplo, garantir que venderá dólares a R$ 1,80 no final do ano. Do outro lado dessa negociação pode estar um empresário que possui uma dívida de um milhão de dólares. Digamos que o débito vença no final de 2008 e que o empresário queira garantir que o dólar não esteja custando mais de R$ 1,80 em dezembro. Você poderia vender ao empresário o direito, mas não a obrigação, de comprar um milhão de dólares seus na data combinada. Em troca, você ganharia um prêmio por assumir o risco.

No final do ano, se o dólar estiver abaixo de R$ 1,80, você fica com o prêmio e o empresário compra os dólares onde ele quiser. Mas se o dólar estiver custando mais de R$ 1,80, você terá que pagar ao empresário o valor que exceder. O sistema é parecido com o mercado de seguros. Quem bate o carro recebe da seguradora a indenização pelo prejuízo. Mas se o segurado não tiver nenhum sinistro, a empresa fica com o dinheiro.

Por isso, caso lhe ofereçam um fundo que rende 130% do CDI, questione seu gestor sobre a forma como ele consegue esse ganho. Cuide-se para não assumir riscos maiores do que você pode e, principalmente, para não correr esses riscos sem saber.

Jurandir Sell Macedo Junior é doutor em Finanças, professor da UFSC e escreve mensalmente na InfoMoney, às quartas-feiras.
jurandir.macedo@infomoney.com.br

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