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Colunista InfoMoney: O poder da visão e a força da concepção

Procura-se um visionário com capacidade de realizar concepções em território brasileiro; investimentos do PAC em foco

Ingo Plöger

O aniversário de 50 anos de Brasília nos faz lembrar Juscelino Kubitschek, quando mostrou à nação brasileira a importância de seu plano de desenvolvimento rumo ao interior do Brasil. Analisando os mapas rodoviários do Brasil desde 1950 em períodos decenais – portanto seis mapas – fica evidente a força indutora que a nova capital exerceu em nosso país naquele período.

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A malha de meios de transporte, antes litorânea, se transformou em uma extensa malha com a força centrípeta em Brasília. Se na época do planejamento tivéssemos realizado um cálculo de retorno de investimento, jamais teríamos construído Brasília. Mas, a Visão de Juscelino não teria se tornado realidade se não fosse a força da concepção de Lúcio Costa e Oscar Niemeyer, apoiados intensamente pelo presidente Juscelino.

Outros exemplos anteriores podem ser destacados, como o de D. Pedro I, o imperador inovador e industrializador que fez uma malha ferroviária sem precedentes no Brasil e trouxe ao nosso país as inovações daquele momento histórico, como o telégrafo e a fotografia, entre outros.

O poder da Visão moveu o Barão de Mauá e o Coronel Prost Rodovalho, pioneiros e lançadores de realizações inéditas para a época. Mas nem sempre os tempos lhes foram propícios e muitos revezes tiveram que assumir.

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Empreendedores desta grandeza nós também tivemos em outros países. Cito aqui o Barão de Zeppelin que, ao construir seu dirigível, quebrou a empresa e, somente com a força dos cidadãos de Friederichshaven, conseguiu reerguer seu empreendimento, que depois recebeu a atenção internacional.

“Cerca de 80% dos
investimentos nos
próximos três anos
tem como destino
commodities”

No Brasil, estamos passando por tempos que poucas vezes presenciamos ao longo de nossa história. Politicamente estabilizados, com a economia crescendo fortemente, a inserção social acontecendo em ritmo acelerado e o alicerce para um desenvolvimento sustentável sendo formado.

Olhando por esta perspectiva, estamos seguros de nosso futuro? O que nos falta? Falta-nos justamente o Poder da Visão e a Força da Concepção. Ora, temos o PAC, temos os investimentos em infraestrutura, petróleo e gás; e uma missão estrangeira atrás da outra, chegando ao Brasil e querendo aqui investir. O que nos falta?

Analisei com muita atenção o material publicado pelo BNDES, pelo Doutor Fernando Puga e pela Doutora Beatriz Meirelles, desenvolvendo o cenário de investimentos 2010 a 2013. E, certamente, o cenário descrito tem alta probabilidade de acontecer. Os investimentos crescerão dos atuais R$ 311 bilhões para R$ 499 bilhões em 2013. Um crescimento de 60%! Ou seja, 9% ao ano!

O racional colocado indica que, desses quase R$ 500 bilhões, R$ 295 bilhões irão para o Petróleo e Gás; R$ 52 bilhões para a extração mineral, R$ 44 bilhões para siderurgias e R$ 36 bilhões para a petroquímica. O restante irá para o setor de veículos, R$ 32 bilhões (3 montadoras, 9 autopeças), para o setor eletroeletrônico, com R$ R$ 21 bilhões, e para o de papel e celulose, com R$ 19 bilhões.

Considerando o primeiro grupo como as commodities energéticas e minerais, estaremos concentrando mais de 80% de nossos investimentos nestes setores; e nos de manufatura e tecnologia embarcada menos de 20%.

O mais interessante é que a dinâmica desses investimentos é a de que o primeiro grupo, o das commodities, cresce na razão entre 9% a 13% e o grupo de manufatura e tecnologia embarcada, menos de 7%. Outra informação de relevância que os dois experts nos fornecem é que a maior parte dos investimentos é destinada ao mercado interno, 56%, sendo que para o mercado externo serão 17%, excluídos o petróleo e gás, neste período.

A probabilidade disto acontecer é muito alta porque as estruturas envolvidas nestas concepções já estão formadas e dificilmente serão modificadas. Observando a dinâmica desses três anos, não fica difícil imaginar que, para os próximos 10 anos, esses setores manterão esta dinâmica.

Recordemos que, no âmbito externo, tivemos um crescimento nas relações com a China que, de 13º parceiro comercial no início da década, passou a ser o 1º colocado em 2010. É o maior país destinatário na exportação, absorvendo as commodities minerais e nutricionais e oferecendo tecnologia, máquinas, equipamentos e eletrônica.

A continuar assim (o que não nos parece mal porque, afinal de contas, estamos crescendo, gerando emprego e renda, aumentando nosso bem estar), o que seremos dentro de 10 ou 20 anos? Seremos os grandes provedores mundiais de commodities, ainda que beneficiados e provedores energéticos, produtores de bens de média tecnologia para os mercados domésticos e importadores de alta tecnologia?

O que necessitamos neste momento é repensar nossas Visões e desenvolver Concepções, para imaginar e conceber o país que queremos em 20 anos. O momento nos é excepcionalmente propício, porque na competição internacional somos a bola da vez. No ano eleitoral para a presidência e o congresso, temos partidos e candidatos abertos a novas alternativas, ainda temos tempo de modelar uma integração sul-americana, que cada vez mais tem o Brasil como um indutor do desenvolvimento regional.

Quisera lançar um anúncio de página inteira, em um jornal de abrangência nacional, tendo como texto “Procura-se um visionário com capacidade de realizar Concepções”. Levaria o visionário a escolher as maiores e melhores personalidades do Brasil e de países vizinhos e os deixaria trabalhando por alguns meses, para oferecerem às sociedades suas Visões e Concepções; pois quem acredita em Visões e sabe fazer Concepções, constrói mais do que uma Brasília Sulamericana, constrói uma nova realidade para este continente.

Quo vadis Brasil?

Ingo Plöger é empresário, engenheiro economista, conselheiro de empresas nacionais e internacionais e presidente da IP Desenvolvimento Empresarial Institucional. Escreve mensalmente na InfoMoney.

ingo.ploger@infomoney.com.br