Carro ganha ainda mais protagonismo entre meios de transporte na pandemia

Receio de pegar coronavírus fez uso de transporte público e carona caírem, segundo pesquisa da Webmotors

Giovanna Sutto

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SÃO PAULO – A pandemia trouxe uma série de mudanças nos hábitos das pessoas, como aumento das compras online e home office. A mobilidade urbana também sofreu impacto: o isolamento social e o fechamento de fronteiras fez com que, pelo menos durante os primeiros meses de pandemia, as pessoas circulassem bem menos.

E os efeitos disso se refletiram em uma pesquisa feita pela plataforma de venda de carros Webmotors, compartilhada com exclusividade com o InfoMoney. O estudo mostra que, em 2021, 56% dos brasileiros estão usando carros com frequência para se locomover, acima dos 50% observados em 2019.

O estudo foi realizado com cerca de 1.300 pessoas em agosto de 2019 e depois em abril de 2021 e conta com resultados de frequência de uso de vários modais e não apenas de carros. Veja:

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(Reprodução/Webmotors)

Eduardo Campos, diretor comercial da Webmotors, ressalta que a única forma de locomoção que cresceu foi o carro, enquanto as outras ficaram estáveis ou apresentaram reduções.

“Em 2019 vivíamos um outro cenário, não só pela pandemia que se iniciou em 2020, mas também pelo perfil dos consumidores nos últimos 2 anos, onde mais pessoas buscavam por carros via aplicativo, e a febre dos patinetes e bicicletas espalhados pelas grandes capitais”, afirma.

Com a chegada da pandemia, outras prioridades foram ganhando espaço como a preocupação com aglomerações, o que pode explicar a queda do uso do transporte coletivo e de carona compartilhada, afirma o executivo.

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A pesquisa é apenas quantitativa, mas o InfoMoney contatou os especialistas para entender o que levou a esse aumento do uso do carro, afinal os preços dos modelos novos e usados estão mais altos neste ano diante das turbulências com a falta de peças.

Por que as pessoas estão usando mais carros?

Rafael Constantinou, Diretor de Marketing da Webmotors, explica que é preciso considerar alguns tipos de públicos ao olhar esse aumento no uso de carros.

“Tem a pessoa que mesmo antes da pandemia poderia ter carro, mas escolheu não ter e agora viu a necessidade para ter mais segurança; uma outra fatia da população de classe alta comprou carros mesmo durante a pandemia, em alguns casos carros de luxo. A Porsche, por exemplo, bateu recorde de vendas ano passado”, diz.

Milad Kalume Neto, diretor da consultoria automotiva Jato Dynamics, acrescenta que como a pesquisa não tem recorde de compra de carros é preciso lembrar que essa parcela de entrevistados não necessariamente comprou um carro.

“Podem estar usando mais o carro do que em 2019, às vezes a pessoa tem o carro e usava só de fim de semana, porque ia trabalhar de transporte público e agora o carro voltou a ser mais essencial, por exemplo. Ou mesmo pessoas que usam carros emprestados, do marido, esposa, mãe, etc”, diz.

Kalume Neto destaca que a crise sanitária acendeu o alerta em muitas pessoas sobre ter um transporte individual.

“Quem tem condições pode ter optado por modais que não envolvem mais pessoas. A pandemia não acabou e as pessoas não querem correr risco, há uma relação entre a queda no transporte público e aumento do uso de carros”, sugere.

Inclusive, segundo um estudo da Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU) o prolongamento da pandemia coloca a saúde financeira do transporte público coletivo urbano sob ameaça já que toda a malha foi fortemente afetada com redução média de 40,8% de passageiros.

Situação do setor automotivo

Apesar das possibilidades que os especialistas levantam, a verdade é que o setor automotivo não atravessa uma fase boa – nem barata. No geral, o consenso é que os preços estão altos devido a falta de oferta de carros novos, e a consequente aumenta na demanda por carro usados. O InfoMoney explicou essa dinâmica em uma reportagem recente. 

Mas isso ainda não parece assustar os consumidores. A Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores) e a Webmotors realizaram um outro estudo sobre intenção de compra de veículos para o segundo semestre de 2021. Realizado em junho com 4.240 usuários, o estudo mostra que 75% dos entrevistados têm a intenção de compra ou troca do veículo ainda neste ano.

Do total, apenas 7% informaram desistência de compra, e 18% prorrogaram a compra para 2022.

Ainda, do grupo que pretende comprar: 74% das pessoas já têm um carro e 26% ainda não. Entre os que já têm um carro, a intenção de compra ou troca é de 73%, enquanto a intenção sobe para 80% no perfil que não tem o veículo.

“O mercado de novos ainda está sofrendo os impactos da falta de peças, especialmente semicondutores, e a previsão de normalização é para o ano que vem. Até lá, os preços vão estar em patamares altos, devido à baixa oferta e alta demanda. Há fabricantes pedindo seis meses para entregar o carro”, diz Kalume Neto (entenda o atual cenário do mercado).

Os carros usados, por sua vez, sobem em decorrência da falta de oferta no mercado novo. A alta da demanda também impulsiona o preço para cima, explica. “Então, se não há urgência na troca ou compra de carro, a recomendação mais prudente é esperar para não gastar mais dinheiro do que o necessário”, afirma o diretor da Jato Dynamics.

Outros modais

Alguns meios de locomoção permaneceram estáveis em termos de uso: o deslocamento a pé (12%) e patinetes (1%). Enquanto o deslocamento a pé se manteve por ser uma possibilidade possível para manter a segurança e executar alguma necessidade, como ir ao mercado, por exemplo, o uso dos patinetes representa muito pouco do total e atende um público muito específico e quem tem acesso a esse tipo de transporte geralmente mora em locais mais centralizados e em pontos mais corporativos das capitais.

Outro destaque é a queda no uso dos carros por aplicativo (8% para 7%), e também as motos (13% para 12%).

“Carros por aplicativo podem ter tido ainda menos demanda no início da pandemia quando ninguém se arriscaria mesmo, hoje em dia o fluxo está voltando. Algumas pessoas já retomaram o uso eventual. Mas a lógica é a mesma, as pessoas têm dado preferências pelas opções individuais para correrem menos riscos”, diz Kalume Neto.

No caso das motos, o resultado da pesquisa não reflete exatamente o mercado. Segundo dados da Fenabrave, a Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores, no mês de abril, 94.696 motocicletas 0km foram comercializadas no mercado nacional. Se comparado ao mês de março, que teve 62.286 unidades emplacadas, o crescimento foi de 52,03%.

“Essa redução no uso de motos pode ser considerada praticamente estável porque foi muito tímida, o mercado de motos está em bom momento, inclusive impulsionado pelo delivery que cresceu durante a pandemia”, afirma Constantinou.

Interesse por carros elétricos e híbridos

Além de abordar os meios de transporte mais usados, o estudo também mostra o interesse dos entrevistados por outros tipos de modais:

Transporte que você tem interesse em conhecer/ter  2019 2021 
Moto 36% 20%
Carros por app 27% 8%
Bicicleta própria 18% 11%
Patinente 12% 5%
Bicicleta compartilhada 6% 3%
Carros elétricos 26%
Carros híbridos 27%

Os carros elétricos e híbridos apareceram como novidade na pesquisa de 2021 e já foram mencionados por 26% e 27% dos entrevistados, respectivamente.

“O interesse pelos elétricos e híbridos vem aumentando e se a ideia vem se popularizando, mas os custos ainda são a barreira de entrada”, avalia Kalume Neto.

No exterior, cada vez mais montadoras vêm anunciando que vão encerrar a produção á combustão. Empresas como Jaguar (2025), Volkswagen, Volvo (até 2030), Ford Europa (até 2026), Chevrolet (até 2035), Mercedes-Benz (até 2039), entre outras já anunciaram o compromisso público de redução de emissão de carbono.

“Lá fora é muito mais comum, é um caminho sem volta. No Brasil, dois anos atrás a oferta era muito baixa, mas hoje muitas montadoras já têm suas versões e isso vai popularizando o conceito e criando a consciência ambiental”, avalia Constantinou.

E embora o caminho seja longo, as expectativas são positivas. “Os custos e o tempo de recardas estão diminundo e a autonomia aumentando. Esse é o tripé crucial quando pensamos na viabilidade de veículos elétricos/híbridos.

“Porém, o custo ainda é muito alto e esse tipo de frota ainda representa menos de 0,1% do total do país”, diz Kalume Neto (saiba mais sobre o futuro dos carros aqui). 

Ainda, ele ressalta que especialmente no Brasil há desafios complexos, já que os investimentos na frota desse tipo ainda são baixos, o país é intercontinental o que complica a circulação de elétricos já que seria preciso muitos postos de recargas ou autonomias muito eficientes para a pessoa se locomover.

“O custo-benefício não vale ainda, a média de autonomia hoje chega a 350 km mais ou menos, o que não dá para ir voltar de alguns pontos no interior de São Paulo, por exemplo”, diz.

Giovanna Sutto

Repórter de Finanças do InfoMoney. Escreve matérias finanças pessoais, meios de pagamentos, carreira e economia. Formada pela Cásper Líbero com pós-graduação pelo Ibmec.