Bancos criam grupo de trabalho para discutir piloto do real digital

Iniciativa da Febraban pretende ajudar Banco Central a pensar o piloto da moeda digital, que começa neste mês

Paulo Barros

(Getty Images)

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Os bancos brasileiros estão se organizando para ajudar no desenvolvimento do projeto-piloto do real digital, previsto para começar ainda em março. A Febraban (Federação Brasileira de Bancos) criou um novo grupo de trabalho dedicado ao tema, com o objetivo de contribuir com o Banco Central na criação da moeda digital brasileira, anunciou a entidade nesta terça-feira (14).

Inicialmente, participarão cerca de 15 representantes de bancos associados que focarão seus debates técnicos em questões como segurança, resiliência, interoperabilidade e escalabilidade da moeda digital.

A participação das instituições financeiras é apontada como crucial pelo BC para o desenvolvimento do real digital. A nova apresentação totalmente virtual da moeda será utilizada apenas entre participantes do mercado financeiro e o regulador, mas bancos terão a possibilidade de criar tokens próprios representando depósitos de clientes – o desenho é elogiado por especialistas.

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O modelo será testado no piloto, anunciado na semana passada. O plano prevê descobrir se a moeda digital poderá alimentar um marketplace digital de Títulos Públicos Federais envolvendo clientes de bancos diferentes.

Para isso, o BC irá simular se o cliente de um banco poderá comprar um título de um cliente de outro, com a transação conciliada nos bastidores utilizando o real digital e tokens emitidos pelas instituições.

“Em um primeiro momento, o real digital provavelmente terá mais aplicabilidade para a pessoa jurídica. Não será utilizado em larga escala por pessoas físicas. O mercado ainda vai se desenvolver. O que estamos construindo é uma infraestrutura que permita a tokenização desses depósitos. E a partir daí, você abre um leque de oportunidades para outros produtos e serviços no sistema financeiro”, avalia Leandro Vilain, diretor executivo de Inovação, Produtos e Serviços Bancários da Febraban.

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O diretor explica que o projeto estará embasado em uma plataforma de blockchain – uma inovação em tecnologia da informação que, usando criptografia, permite criar registros, sem controle centralizado, encadeados e dependentes entre si (não há como alterar um registro sem modificar todas a cadeia de informações). Essa capacidade permite operações mais eficientes e seguras no sistema bancário.

“Se você pensar em uma transferência bancária simples, o Pix já supre essa necessidade. A questão é que a tecnologia em blockchain abre um portal para outras transações mais complexas que chamamos tecnicamente de DvP, que só se concretizam mediante a entrega de um serviço – você reserva um pagamento, mas só se efetiva quando o serviço da contraparte estiver feito”, destaca o diretor.

DvP é sigla em inglês para “entrega contra pagamento”, algo visto como uma aplicação óbvia para as moedas digitais, e com a qual a Febraban já vem experimentando. No ano passado, como parte da criação de provas de conceito do real digital, a Federação apresentou um projeto de DvP direcionado a grandes transações no atacado, em que o dinheiro da transação sai da conta do pagador só é liquidada após a entrega do ativo financeiro.

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“A tokenização da economia pode significar uma mudança muito significativa para o sistema financeiro, porque o cliente sai de um mundo onde está acostumado a ter dinheiro numa conta corrente e passa a ter dinheiro num token ou numa representação digital. Será uma mega inovação para o sistema financeiro, transformacional”, conclui Vilain.

O projeto-piloto do real digital deve ocorrer até o final de 2023, com período de avaliações previsto para acabar no primeiro trimestre de 2024. A expectativa do BC é lançar a novidade para o público até o final do ano que vem.

Paulo Barros

Editor de Investimentos