Aluguel no interior ganha força na pandemia e pode ser saída mais flexível em meio à incerteza sobre o futuro

Preço do aluguel chegou a subir 13% em cidades como Sorocaba e 7% em Jundiaí impulsionados pelo êxodo urbano gerado pela pandemia

Giovanna Sutto

(GettyImages)

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SÃO PAULO – O home office e o confinamento, impostos pela pandemia, despertaram o interesse por imóveis no interior de São Paulo que oferecem mais qualidade de vida, áreas ao ar livre e espaços maiores e mais confortáveis para o trabalho remoto. É o que mostram pesquisas e relatos feitos por imobiliárias que atuam em cidades vizinhas ou próximas à capital.

Dados da plataforma de anúncios imobiliários Imovelweb mostram que a busca por imóveis com quintal teve um crescimento de 96% em maio de 2020, contra o mesmo mês do ano passado. E a tendência vem se confirmando: em agosto a alta foi de 205% na comparação com o mesmo mês de 2019.

A busca por imóveis com um espaço exclusivo para escritório também aumentou: a alta foi de 83% em maio deste ano em relação a maio de 2019; e de 121% em agosto, sobre o mesmo mês do ano passado.

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Nesse sentido, imóveis do interior vêm ganhando espaço ao oferecer essas características combinadas, a preços mais acessíveis do que nos bairros mais disputados da capital paulista.

“Muitas pessoas buscaram casas de veraneio em locais próximos à cidade de São Paulo, ou mesmo moradias temporárias. Em um ano de isolamento social é natural que as pessoas tentem se proteger em locais mais tranquilos, maiores e que ofereçam mais qualidade de vida do que em apartamentos na capital”, avalia Dario Ferraço, sócio da SF Consultoria Imobiliária.

Preços sem direção definida

Uma reportagem do InfoMoney mostrou que a média dos preços de compra em geral sofreram uma alta, mas que não foram tão expressivas. Segundo Pedro Tenório, economista do DataZap, a variação dos preços de aluguel, por outro lado, é mais sensível ao efeito de êxodo urbano gerado pela pandemia.

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“A decisão de compra é de longo prazo, enquanto a de alugar um segundo imóvel exige menos dinheiro e pode ser concretizada mais rapidamente”, diz.

Dentro desse contexto, o aluguel aparece como uma solução para uma parte da população que pode arcar com os custos de partir para uma moradia maior e que oferece mais conforto. Entre março e setembro de 2020, 53% das buscas na plataforma do Imovelweb foram por aluguel contra 47% por compra.

Com a demanda pelo aluguel em alta, os preços dos imóveis para locação apresentaram alta em algumas cidades, mas não foi um movimento generalizado.

Jean Caridá, dono da imobiliária Caridá Gestão Imobiliária, que atua em Itu, a cerca de 100 quilômetros de São Paulo, afirma que a demanda por aluguel em casas de condomínio disparou durante a pandemia, bem como os preços.

“Praticamente todos os condomínios aqui em Itu sempre têm alguma casa pra alugar. Só que a oferta não é grande e, com a pandemia, não tivemos como atender todos os clientes. Locações que antes custavam R$ 3 mil por mês, hoje você não encontra por menos de R$ 7 mil. Sem contar que teve proprietário que não quis alugar. Teve um caso em que o aluguel seria R$ 50 mil por mês e o dono do imóvel preferiu não alugar para que ele mesmo pudesse vir no fim de semana”, explica.

Em Alphaville, bairro do município de Santana de Parnaíba, que fica a cerca de 35 quilômetros da capital, a oferta de casas em condomínio para alugar também está baixa, segundo corretores relataram ao InfoMoney.

“São raras as oportunidades e os preços subiram. Um imóvel de até cinco anos podia ser encontrado com um coeficiente de locação de 0,5%. Ou seja, o aluguel mensal era equivalente a 0,5% do valor de venda. Hoje, está em 0,6% ou 0,7%”, explica Gilberto Deodato, diretor-executivo da Next Alphaville, imobiliária especializada em condomínios de alto padrão.

De acordo com os números citados, na prática, se antes era preciso desembolsar R$ 5 mil mensalmente para alugar um imóvel de R$ 1 milhão, agora o inquilino pode chegar a pagar até R$ 7 mil por mês.

Roseli Ferreira, corretora e dona da Roseli Ferreira Imobiliária, focada em São Roque, que fica aproximadamente a 65 quilômetros da capital, relata que em agosto houve um aumento de cerca de 40% na busca por aluguel de casas na região na comparação com o período pré-pandemia, porém a alta não foi sentida nos preços.

“A busca é por casas em condomínio e com internet, os contratos são de no mínimo um ano e 90% dos clientes são de São Paulo. Mas não tínhamos muita oferta para locação, então os imóveis disponíveis foram alugados rapidamente, sem grandes aumentos de preço. Muitas pessoas que não encontraram opções aqui foram buscar imóveis na Granja Viana [em Cotia, a cerca de 30 quilômetros de São Paulo] e região. Eu tenho clientes, mas não tenho produto”, afirma.

A pedido do InfoMoney, o Zap+, que administra alguns dos maiores classificados de imóveis online do país, como ZAP, Viva Real e Conecta Imobiliário, fez um levantamento para mostrar a variação do preço médio de locação em cinco cidades do interior de São Paulo, que estão entre as mais buscadas nas plataformas: Campinas, Jundiaí, Piracicaba, São José dos Campos e Sorocaba. Veja a seguir.

Variação do preço médio do metro quadrado para locação

São Paulo  Campinas  Jundiaí Sorocaba  Piracicaba  São José dos Campos 
1° trimestre 2020 (ante 4° tri 2019) 1,4% 1,4% 4,2% 5,3% 2,2% 3,4%
2° trimestre 2020 (ante 1° 2020) 2,9% 1,7% 0,7% 0,8% 2,2% 2,6%
3° trimestre 2020 (ante2° tri 2020)  -1,6% 0,1% 0,5% 2,1% 0,3% -1,1%
Acumulado 2° e 3° tri 2020 (ante 2° e 3º tri 2019)  6,0% 4,0% 7,0% 13,0% -1,0% -2,0%

Em São Paulo a alta no preço médio do aluguel foi de 6% entre abril e setembro deste ano, em relação ao mesmo período do ano passado. Na mesma base de comparação, cidades como Jundiaí e Sorocaba apresentaram altas de 7% e 13%. Piracicaba e São José dos Campos tiveram reduções tímidas nos preços.

Ferraço avalia que esse aumento no preço médio do metro quadrado do aluguel, principalmente nos casos de Jundiaí e Sorocaba, faz sentido no atual contexto do mercado. “São cidades que ficam a cerca de 100 quilômetros da cidade de São Paulo, mas que já possuem um ar de interior, com mais tranquilidade e têm boa infraestrutura”, explica.

José Pedro Menten, diretor da Associação das Empresas e Profissionais do Setor Imobiliário de Jundiaí, braço do Secovi-SP na região, diz que houve um aumento na busca de locações por períodos maiores. “Desde maio, a demanda por locação vem aumentando. As pessoas têm necessidade diversas, mas no geral querem imóveis maiores e para períodos de, no mínimo, um ano. E a maioria dos clientes vem de São Paulo e buscam imóveis em meio ao home office”, diz.

Fabio Maranhão, corretor de Sorocaba e proprietário da Padrão Negócios Imobiliários, também afirma que na sua imobiliária a maioria das buscas foi por aluguéis em casas de condomínio e com foco em contratos de pelo menos um ano. “Sentimos um aumento de cerca de 15% nos preços dos aluguéis de casas em condomínio de alto padrão e praticamente não se acha mais imóvel desse tipo”.

Angélica Quintela, gerente de marketing do Imovelweb, acrescenta que as cidades próximas a São Paulo permitem a ida e volta para a capital, em uma rotina com modelo híbrido de trabalho.

“Cidades que ficam mais perto de São Paulo dão flexibilidade no dia a dia de trabalho, caso a pessoa precise ir ao escritório eventualmente, uma vez por semana. E, além disso, e alugar o imóvel pode ser uma maneira mais simples e mais barata de acessar essa qualidade de vida, sem tomar uma decisão mais definitiva, como é o caso da compra”, avalia.

Locação x Compra

Quem busca mais conforto em meio à pandemia e o home office, pode se perguntar se vale mais a pena comprar ou alugar um imóvel. Para Alberto Azjental, coordenador do curso de Desenvolvimento de Negócios Imobiliários da Fundação Getúlio Vargas (FGV), a compra de um imóvel no interior neste momento pode ser uma decisão precipitada.

“Ainda não sabemos como vai ser o pós-pandemia. Não dá para bater o martelo para o home office e todas as mudanças que vivemos em 2020″, diz.

Mesmo que o aluguel seja visto por muitos como um dinheiro desperdiçado, como o cenário ainda é muito incerto, o gasto com a locação pode ser o preço pago para evitar o risco de fazer uma compra por impulso, ainda mais considerando que o imóvel envolve um alto investimento.

“Não é para sair comprando, é preciso avaliar com calma. Alugar por alguns meses pode ser uma boa experiência para ver se gosta da cidade, e evitar comprar um imóvel por impulso. A vida de muita gente é em São Paulo e migrar para o interior pode não funcionar no longo prazo”, diz.

Ao abordar mais especificamente a compra de imóveis no interior, o InfoMoney já mostrou que especialistas não esperam uma grande migração para o interior, uma vez que a massa de empregos e serviços deve continuar nas grandes cidades. Além disso, a parcela de empresas que ainda adotam o home office é pequena e tende a diminuir ainda mais.

“A pessoa corre o risco de comprar algo que não vai atendê-la daqui a um ano. Por isso, o aluguel é uma saída mais plausível, você emprega menos capital e ainda pode fazer um teste para ver se gosta da região e concretizar uma mudança mais para frente”, avalia o professor da FGV.

Giovanna Sutto

Repórter de Finanças do InfoMoney. Escreve matérias finanças pessoais, meios de pagamentos, carreira e economia. Formada pela Cásper Líbero com pós-graduação pelo Ibmec.