Dona do Burger King, Zamp quer Starbucks no Brasil: por que o tema divide o mercado?

Companhia poderia se expandir com uma marca forte, mas há riscos de execução; analistas seguem cautelosos

Lara Rizério

Starbucks

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A Zamp (ZAMP3) confirmou ter iniciado negociações com a Starbucks Corporation sobre direito de uso de marca e desenvolvimento das operações da companhia norte-americana no Brasil, afirmou nesta quarta-feira a master franqueada no país das redes de fast food Burger King e Popeyes.

A empresa ressaltou, contudo, que não foi “apresentada qualquer proposta ou celebrado qualquer acordo ou contrato com a Starbucks Corporation, exceto por um acordo de confidencialidade”.

Na véspera, o jornal Valor Econômico publicou que a Zamp negociaria acordo para adquirir a licença de operação da Starbucks no Brasil junto à matriz norte-americana. O grupo SouthRock operava a marca no país, mas entrou com pedido de recuperação judicial em 9 de fevereiro devido à alta alavancagem, com dívida bruta de R$ 1,8 bilhão. Atualmente existem 135 lojas Starbucks em operação no Brasil.

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O Bradesco BBI apontou ter sentimentos conflitantes sobre o tema e o impacto em ZAMP3, que registrava baixa de cerca de 2% no fim da manhã desta quarta. Por um lado, trazer uma nova marca poderia aumentar a presença da empresa no mercado brasileiro de QSR (Quick Service Restaurant, ou fast food) e diversificar sua receita com uma das marcas líderes globais de cafeterias. A Starbucks é um ativo forte, que poderia ter um potencial sólido em um país grande e emergente como o Brasil.

Por outro lado, fusões e aquisições trariam complexidades adicionais para uma empresa que já enfrenta dificuldades operacionais, com desempenho inferior do SSS (vendas nas mesmas lojas) em relação ao seu principal concorrente nos últimos trimestres, o MC Donald’s. “Em suma, mantemos uma classificação Neutra para a Zamp, pois ainda existem diversas incertezas sobre a direção estratégica da Zamp, seja com uma rota de recuperação orgânica ou com fusões e aquisições”, avalia o banco.

O Goldman Sachs, que rebaixou recentemente as ações da Zamp para venda, observa que um acordo potencial como este poderia acrescentar mais riscos de execução ao que considera um caso de turnaround (reviravolta operacional) já complexo das operações do BK no Brasil.

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O banco cita que a Starbucks Brasil tem enfrentado múltiplos desafios. A operação foi lançada em 2006 e, desde então, passou por diversos controladores, incluindo Starbucks Corp., Alsea e por um investidor local. Em 2018, a empresa de private equity SouthRock Capital adquiriu o negócio da Starbucks Corp. por US$ 48,2 milhões, mas sua licença de master-franqueado foi revogada em 23 de novembro devido a restrições financeiras que levaram à recuperação judicial.

Neste contexto, o Mubadala tem comprado ativamente ações da Zamp em condições de mercado nos últimos meses. Em dezembro, atingiu uma participação agregada de 39,6% na empresa e nomeou 2 membros para o Conselho de Administração (incluindo o atual Presidente), com o mandato de reestruturar a operação do BK e impulsionar o seu crescimento, num momento em que a Arcos Dorados (operadora do MC Donald’s) tem apresentado repetidamente melhor impulso de lucros.

O banco cita que, com uma relação entre dívida líquida e lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (Ebitda, na sigla em inglês) de 2,3 vezes no 3T23, a administração da Zamp decidiu adotar uma postura mais cautelosa em investimentos, restringindo temporariamente a abertura de lojas e apoiando-se relativamente mais em seus subfranqueados. “Se a transação se concretizar e for totalmente financiada pela Zamp, vemos a possibilidade de sua alavancagem permanecer potencialmente acima de 2 vezes ao longo de 2024”, ressalta o Goldman, que tem recomendação de venda para as ações, com preço-alvo de R$ 4.

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(com Reuters)

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.