Via Varejo desponta como preferida ante Magalu e B2W: as novas recomendações após o salto das ações de e-commerce

Apesar das boas perspectivas para o setor de e-commerce como um todo, analistas veem ativos BTOW3 e MGLU3 como caros demais

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Após terem sofrido no pico do temor do mercado com a pandemia de coronavírus, no fim de março, as ações de empresas com grande exposição ao e-commerce engataram uma forte trajetória de recuperação, e acabaram se tornando “vencedoras” na crise, com os consumidores passando a comprar cada vez mais nos canais online em meio às medidas de isolamento social.

No acumulado de 2020 até o fechamento da última terça-feira (21), as ações das companhias do setor registram ganhos de ao menos 75%, enquanto o Ibovespa tem queda de 9,80% no mesmo período: a B2W (BTOW3) é a maior alta do índice no ano, com ganhos acumulados de 89,68%, sendo seguida pela Via Varejo (VVAR3), com salto de 84,60%, enquanto o Magazine Luiza (MGLU3) tem alta de 76,73%. Mais atrás, está a Lojas Americanas (LAME4), acionista controladora da B2W, em alta de 37,55% em 2020.

Com esse forte desempenho dos papéis, o questionamento que fica é até onde eles podem ir na Bolsa e qual será o futuro do e-commerce passada a pandemia. E, de acordo com visões recentes de diferentes casas de análise, alguns papéis do setor podem ter subido demais – enquanto outros ainda apresentam oportunidades, principalmente por terem um valuation menos esticado.

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Apenas nessa semana, Bradesco BBI, XP Investimentos e Safra destacaram possuir recomendação de compra para a Via Varejo, tornando-se um consenso entre as três casas de análise.

O BBI ainda reiterou a recomendação para as ações de Magazine Luiza e da B2W como neutra, permanecendo com recomendação de compra para a Lojas Americanas. Na mesma linha, a XP reduziu Magalu para neutro, permanecendo com as recomendações neutra para B2W e de compra para os ativos LAME4 (veja mais clicando aqui).

Conforme destaca Pedro Fagundes, analista da XP, a forte alta dos papéis do setor foi suportada principalmente pela aceleração de crescimento de vendas online (GMV), já que algumas dessas empresas viram sua base de MAU (usuários ativos mensais) aumentar em mais de 3 vezes, conforme destaca o gráfico abaixo elaborado pela XP:

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Na avaliação dele, no pós-pandemia, o forte aumento do número de usuários ativos no canal online deve sustentar a participação do comércio eletrônico em níveis estruturalmente mais elevados.

“Estimamos um crescimento médio anual entre 2019-2025 de 21% para o mercado de e-commerce do país – atingindo cerca 16% do total de vendas do varejo em 2023 (de 9,5% atualmente). Esperamos que a receita online (GMV) aumente 2,5 vezes no período, atingindo R$ 322 bilhões em 2025. Também esperamos que a concentração do mercado avance ainda mais (as 4 maiores do e-commerce chegariam a participação de mercado de cerca de 90% em 2023 versus 68% em 2018)”, aponta.

Para Fagundes, os diferenciais competitivos entre os maiores varejistas online do país têm se equilibrado, com empresas como B2W e Via Varejo reduzindo algumas lacunas em relação às suas respectivas capacidades de multicanalidade e tecnologia.

Contudo, pondera, a visibilidade em relação ao ponto de equilíbrio de curto prazo para a demanda de comércio eletrônico em geral permanece relativamente baixa. “Dessa forma, se o crescimento do comércio eletrônico se suavizar de maneira mais significativa conforme a atividade do varejo físico for retomada, acreditamos que os mercados terão se mostrado demasiadamente otimistas”, afirma.

Assim, em meio a esse cenário, os nomes preferidos na cobertura de e-commerce da XP são aqueles cujos preços de ativos oferecem a maior margem de segurança e uma relação risco-retorno mais atrativa, o que levou à retomada da cobertura para VVAR3 com recomendação de compra e preço-alvo de R$ 28 ao final de 2020 e à redução da recomendação de BTOW3 e MGLU3.

Segundo Fagundes, as preocupações dos investidores em relação à liquidez de curto prazo da Via Varejo foram endereçadas, com a empresa tendo levantado R$ 4,4 bilhões em uma recente oferta subsequente. Além disso, a empresa conseguiu manter suas vendas totais relativamente estáveis no segundo trimestre de 2020 em relação ao ano anterior, apesar do fechamento das lojas.

“Embora reconheçamos que ela ainda tem um longo caminho a percorrer para alcançar o mesmo nível de execução no canal digital apresentado pelos seus principais concorrentes, acreditamos que a Via Varejo tenha reduzido várias lacunas relacionadas a atributos como desenvolvimento de tecnologia, logística e infraestrutura multicanal”, avalia.

O analista destaca, por exemplo, as características do aplicativo das Casas Bahia, recentemente atualizado, permitindo uma compra rápida em 4 cliques para aqueles que estão registrados. A página de registro também melhorou significativamente, permitindo um processo mais fluido, aponta. Os filtros de busca aprimorados, a ferramenta de pesquisa reconhecendo palavras com erro de ortografia e o tempo de carregamento rápido também são vantagens, enquanto ainda há espaço para melhorias em relação à variedade do sortimento de maneira geral.

Além disso, a companhia adquiriu a empresa de logística de transporte coletivo ASAP Log, que deve apoiar ainda mais os recursos de entrega da empresa por meio de soluções de cross-docking (método em que a mercadoria recebida num armazém ou centro de distribuição não é estocada) para vendas online e o relançamento da solução de cadastro (onboarding) para vendedores novos do marketplace.

No futuro, espera-se que a empresa apresente um aumento médio de vendas online de 20% ao ano entre 2020 e 2025, mantendo uma participação no mercado de e-commerce relativamente estável em cerca de 12%.

Já sobre o Magazine Luiza, Fagundes espera que a empresa continue ganhando participação de mercado nos próximos anos, apoiada por vantagens competitivas importantes, como o desenvolvimento robusto de tecnologia e serviços de construção e recursos de pagamento que devem impulsionar ainda mais o crescimento de GMV – em especial no marketplace.

A expectativa é de que a empresa tenha um crescimento de vendas online (GMV) de 28% em média ao ano entre 2020-2025, atingindo 23,7% de participação ante 15% em 2019, além de aumentar as oportunidades de monetização. Contudo, o analista avalia ter dificuldade para justificar um potencial de valorização elevado, pois avalia que mesmo algumas das opcionalidades de crescimento de curto prazo da empresa já estejam refletidas aos níveis atuais.

Com relação aos papéis de Lojas Americanas e B2W, os preços-alvos foram atualizados de R$ 35 para R$ 45 e de R$ 105 para R$ 135, respectivamente, mantendo a recomendação de compra para LAME4 e neutra para BTOW3.

O forte desempenho dos ativos, com alta de 26% para LAME4 e de 30% para BTOW3 desde 30 de maio ocorreu em parte, conforme aponta o analista, devido à oferta subsequente de R$ 7,9 bilhões recentemente concluída pela Lojas Americanas. A oferta deve apoiar as iniciativas estratégicas das empresas na operação de pagamentos (AME Digital), além de permitir novas oportunidades de fusões e aquisições.

“Dessa forma, vemos um potencial de valorização atrativo para as ações (LAME4) no futuro e ainda vemos a operação de lojas físicas da Lojas Americanas negociando em um múltiplo de preço sobre o lucro esperado para 2021 de 20 vezes”, aponta.

Vale destacar que, nesta quarta, a B2W anunciou aumento de capital no montante de R$ 4 bilhões. Segundo a companhia, o aumento permitirá a aceleração do plano estratégico de crescimento, incluindo eventuais aquisições estratégicas, “mantendo o compromisso de geração de caixa”. A Lojas Americanas comprometeu-se a exercer o direito de preferência para a subscrição das ações, na proporção da sua participação no capital.

Para a B2W, o analista destaca a integração multicanal completa de mais de 1.400 lojas da Lojas Americanas em março e a rápida implementação da solução logística de transporte coletivo “AME Flash” (com mais de 17 mil motoristas), mas aponta ver uma relação risco-retorno menos atrativa para os ativos.

Mercado Livre: o vencedor do trimestre?

O BBI, por sua vez, segue com recomendação para MGLU3 e BTOW3 em neutra, adotando uma visão mais cautelosa desde o final de maio para os ativos, enquanto elevou a recomendação para os papéis do Mercado Livre, negociados na Nasdaq, para equivalente à compra nesta semana. Os analistas Richard Cathcart e Victor Gaspar apontam que a companhia com sede na Argentina pode se tornar a “vencedora” no Brasil durante a temporada de resultados do segundo trimestre, adicionando mais GMV que os seus pares, o que aliviaria algumas das preocupações com a competitividade registradas no início do ano.

“Esperamos que o Mercado Livre tenha um trimestre muito mais forte no Brasil do que o esperado no início da crise do Covid-19, em março. Projetamos que o Mercado Livre adicione mais GMV (R$ 4 bilhões) do que seus pares (R$ 3,0-3,5 bilhões), tornando-o o vencedor do ‘trimestre do coronavírus’, enquanto anteriormente esperávamos que ele fosse um retardatário”, avaliam. Os resultados do segundo trimestre da companhia serão divulgados em 30 de julho.

Os analistas ainda citam que B2W e Magalu estão negociando com um prêmio de 77% frente suas médias históricas, enquanto Meli está com um prêmio de 56%. Para eles, a diferença é injustificada, ressaltando que os fortes resultados do segundo trimestre devam ser um catalisador para diminuir a diferença.

Por outro lado, a Via Varejo segue com recomendação de compra dadas as expectativas mais baixas, maior potencial de surpresas positivas e valuation mais atrativo.

Reforçando o cenário mais positivo para os papéis da Via Varejo, o Safra ajustou as estimativas para a companhia após a captação de R$ 4,45 bilhões com a oferta de ações em meados de junho, mantendo a recomendação de compra e com um preço-alvo para os ativos de R$ 27, ou um potencial de alta de 28% em relação ao fechamento de terça.

“Apesar da expectativa de crescimento menor em relação ao período anterior à Covid-19, a sólida execução da Via Varejo e o esforço incansável para continuar com a agenda de recuperação levou a uma visão mais positiva quando em comparação com o início da pandemia. Desde então, a Via Varejo apresentou não apenas um forte desempenho no comércio eletrônico, mas também conseguiu melhorar sua estrutura de capital com o alongamento de dívida, afastando os temores sobre possíveis questões de liquidez de uma vez por todas”, reforçam os analistas Guilherme Assis e Felipe Reboredo.

Para os analistas, caso a Via Varejo continue apresentando forte execução, ela poderá seguir os passos do Magalu, uma vez que os investidores deixaram de avaliar a empresa em termos de métricas de P/L para EV/GMV (Valor da Empresa sobre GMV).

A expectativa dos analistas para o segundo trimestre é de que os resultados devam ser impactados pelo fechamento das lojas físicas, mas que a “execução impecável” do e-commerce compense parcialmente esse cenário, uma vez que a companhia acelerou as suas vendas diretas, com ênfase em fornecer ferramentas digitais para que a sua equipe venda produtos para a base de clientes.

Confira as recomendações dos analistas para as ações do setor: 

Empresa Ticker Recomendação – XP Preço-alvo – XP Potencial de valorização* Recomendação – BBI Preço-alvo -BBI Potencial de valorização* Divulgação do balanço 2T20
Via Varejo VVAR3 Compra R$ 28 +36% Compra R$ 22 +4,5% 12/08
Magazine Luiza MGLU3 Neutra R$ 78 -7% Neutra R$ 82 -2% 14/08
B2W BTOW3 Neutra R$ 135 +13% Neutra R$ 120 -3% 13/08
Lojas Americanas LAME4 Compra R$ 44 +23% Compra R$ 41 +14% 13/08

*em relação ao fechamento de 21 de julho de 2020

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.