Velório na Bolsa: “melhor ação da história”, Souza Cruz vai deixar saudades?

Especialistas destacam o potencial da companhia na Bovespa e gestor afirma que era o melhor papel que havia na Bolsa

Rodrigo Tolotti

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SÃO PAULO – Para muitos investidores o sentimento nesta sexta-feira (16) é de velório na Bovespa. Isto porque com um leilão de OPA (Oferta Pública de Aquisição) ocorrendo ontem, a Souza Cruz (CRUZ3) teve cerca de 90% de suas ações adquiridas pela British American Tobacco (BAT), o que praticamente sepulta a participação da companhia na Bolsa.

Conhecida como uma companhia com perfil defensivo, a fabricante de cigarros se tornou uma das ações preferidas do mercado – principalmente de investidores pessoa física – por ser uma das maiores distribuidoras de dividendos da Bolsa, distribuindo cerca de 97% do seu lucro. Para o sócio gestor da NCH Capital, James Gulbrandsen, a Souza Cruz “já faz falta”.

Líder do mercado, com cerca de 78% das vendas no Brasil, a companhia era única, segundo o gestor. “É uma pena que não conseguimos proteger os minoritários”, afirma James, que aponta a Souza Cruz como a melhor empresa da história da Bovespa. “O preço que ela foi vendida é absurdo. Foi muito barato”, ressalta ele, lembrando que como grande parte de seus acionistas são estrangeiros, o preço precisa ser analisado em dólar ou em libras britânicas – a oferta acabou saindo em torno de 5,04 libras esterlinas.

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A Souza Cruz sempre foi conhecida como uma ação defensiva dado sua receita recorrente, com custos baixos e sem grande exposição às variações econômicas e políticas do País. Alguns analistas acreditam que este já não era mais um papel tão bom para se investir já que seu domínio do mercado limita seu crescimento. Mas James afirma que isto deixa de ser importante dado que a companhia já possui um negócio robusto e muito bem estruturado, gerando sempre resultados sólidos.

O gestor explica que os minoritários “perderam” a briga com a BAT no momento em que foram alterados os preços da oferta para que a Aberdeen Asset Managers Limited e a Aberdeen Asset Investments Limited aceitassem o negócio. No leilão de ontem foram movimentados R$ 9,33 bilhões, com 342.956.819 ações das 377.954.783 sendo adquiridas pela BAT, ao preço de R$ 27,20 cada. Inicialmente a oferta era comprar as ações por R$ 26,75.

No fim, o negócio se mostrou muito positivo para a BAT, que pagou barato pelos papéis em um momento de dólar alto em relação ao real, enquanto os investidores perderam o que para muito era o melhor investimento da Bolsa, principalmente em um momento de crise como o atual. A questão que o mercado deixa agora é: para onde vai o dinheiro que estava na Souza Cruz?

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Quem é a Souza Cruz?
A Souza Cruz é a maior fabricante de cigarros do Brasil, possuindo seis das dez marcas mais vendidas no País e produzindo cerca de 90 bilhões de cigarros por ano. A companhia atua desde a produção e processamento de fumo até a fabricação e distribuição de cigarros.

A empresa foi fundada em 25 de abril de 1903, quando o jovem imigrante português Albino Souza Cruz colocou em funcionamento a primeira máquina de produzir cigarros já enrolados em papel do Brasil. Sediada no Rio de Janeiro, em poucos anos a companhia cresceu tanto que foi obrigada a iniciar um processo de expansão, comprando a Imperial Fábrica de Rapé Paulo Cordeiro, onde instalou a primeira fábrica.

Em 1914, Albino Souza Cruz transformou a companhia em uma sociedade anônima, passando o controle acionário ao grupo British American Tobacco. Com isso, a Souza Cruz se tornou a maior indústria de fumo da América Latina. Desde então foram diversas expansões tanto no Brasil quanto em outros países, até se tornar líder absoluta no mercado de cigarros.

A companhia é uma das mais antigas da Bolsa, tendo estreado na Bolsa do Rio de Janeiro em 1946, sendo posteriormente listada na Bolsa de Valores de São Paulo, em 1957. Nos 57 anos de mercado, a Souza Cruz quase sempre derrotou os investidores que tentaram operar na venda. Nos últimos 15 anos, os papéis encerraram apenas 6 no negativo, levando a fama de uma das empresas que melhor retorna o acionista.

Um estudo feito de 2000 até 2012, mostrou que em todos esses anos a companhia conseguiu entregar rentabilidade sobre patrimônio superior a 35% – sendo que em 2008, em plena crise, a Souza Cruz entregou quase 80% de retorno sobre o patrimônio. Entre janeiro de 2001 e fevereiro de 2015, as ações da companhia registraram ganhos de impressionantes 5.602%. Realmente, este é um papel que fará falta na Bovespa.

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Rodrigo Tolotti

Repórter de mercados do InfoMoney, escreve matérias sobre ações, câmbio, empresas, economia e política. Responsável pelo programa “Bloco Cripto” e outros assuntos relacionados à criptomoedas.