Vazamento infinito

Direto da redação de Política & Economia Na Real

Equipe InfoMoney

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Os vazamentos do ex-diretor da Transpetro Sérgio Machado, indicado pelo PMDB durante os governos de Lula e Dilma, continuam a aterrorizar o Congresso e o Palácio do Planalto. O programa Fantástico da TV Globo ontem à noite divulgou mais um áudio em que o ex-diretor recebe orientações do atual Ministro da Transparência, Fiscalização e Controle Fabiano Silveira, ligado ao Senador Renan Calheiros (PMDB-AL), sobre como proceder em relação à Procuradoria Geral da República (PGR). O ministro também teria buscado informações na força-tarefa da operação Lava Jato sobre Sérgio Machado.

Preste atenção: Brasília está cada vez mais temente ao andamento das investigações e às novas denúncias que nascem das delações premiadas. O vazamento, seletivo ou não prossegue. Os seus efeitos são distribuídos pela classe política e são imprevisíveis. Vem aí mais delação: Fábio Cleto, ex-vice- presidente da Caixa deve agregar mais confusão em Brasília. O que será importante analisar são os efeitos sobre o andamento dos planos e projetos econômicos do governo no Congresso Nacional. Ademais, não se deve esquecer que Dilma precisa reverter apenas seis votos no Senado para voltar ao poder. A turbulência vai continuar.

Temer e os vazamentos
Sérgio Machado espalhou nos seus diálogos a ideia de que o presidente Michel Temer ajudou Gabriel Chalita na campanha de 2012 à prefeitura de São Paulo com dinheiro de empreiteiras. Por enquanto é só. Será?

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Oderbrecht vem aí
Já estão reunidas as condições técnicas para que Marcelo Oderbrecht feche um acordo de delação (colaboração com a Justiça) que pode reduzir a pena imposta a ele pelo Juiz Sérgio Moro.

Preste atenção: toda delação para ser homologada pela Justiça necessita de dois elementos essenciais: novidade dos fatos (não pode ser fato criminoso já conhecido) e provas adicionais que comprovem o que foi delatado. Agora pense por um minuto em alguém que possa reunir esses dois elementos de forma quase perfeita e que esteja preso sob o signo da Lava Jato?

Pré-olímpiada: rebaixamento do Rio
Não sabemos como serão os jogos olímpicos do Rio de Janeiro. Já sabemos que o vírus zika espalha medo e parcela significativa da comunidade científica mundial questiona a manutenção do cronograma dos jogos. Outro vírus pode infestar o estado: a possibilidade de rebaixamento pelas agências de classificação de risco. A Fitch já colocou a capital fluminense em polvorosa. A situação financeira do estado deve levar mais dificuldades para este se financiar. Vale lembrar que a dívida do Rio está mais de 200% acima da receita anual.

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Preste atenção: A situação do Rio de Janeiro é crítica. A do resto da federação também. O governo prepara um pacote de medidas de apoio à federação. Está com um olho na possibilidade de default de algum estado e com outro olho no apoio político. A restrição é conhecida: o déficit primário do setor público. As prefeituras também estão quebradas: o aumento do salário-mínimo e o aumento dos salários dos professores deve custar mais R$ 9,4 bilhões aos municípios. A Federação está em frangalhos. O Ministério da Fazenda já fala abertamente em moratória de seis a oito meses.

Duas conversas, um objetivo
Difícil acreditar que o presidente interino Michel Temer tenha o objetivo único de discutir orçamento eleitoral e da Procuradoria Geral da República nas duas conversas separadas com o Ministro do STF Gilmar Mendes e da PGR Rodrigo Janot. O equilíbrio do governo e da República dependem muito desses dois personagens. Afinal, tem um processo incômodo relativo à chapa Dilma-Temer no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) do qual Mendes é presidente e as múltiplas operações da PGR e PF nas quais Janot é personagem central. Temer é de cultivar a calma e isso é essencial a ele e ao país.

Waldir Maranhão
Não tem sido fácil lidar com o sucessor de Eduardo Cunha na presidência da Câmara dos Deputados. De um lado, Maranhão atrapalha o andamento dos projetos de interesse do governo. É moeda de troca para se manter de pé. De outro, protege interesses de Eduardo Cunha que, por sua vez, que se manter vivo, com seu mandato e poder. A decisão de defenestrar Maranhão da presidência da Câmara foi tomada, mas esbarra em dois obstáculos: como fazê-lo à luz das regras da Casa e quem irá substitui-lo vez que a briga partidária prejudica também os interesses do governo.

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Divisão do Poder
A Eletrobrás será comandada pelo PMDB. O sistema elétrico sempre foi visto como parte do quinhão do partido. José Sarney, informa O Globo, está por detrás das nomeações para a estatal, bem como Eunício de Oliveira e Renan Calheiros. Se na Petrobras, Michel Temer quis se manter distante das indicações políticas, isso não deve ocorrer com a Eletrobrás.

Preste atenção: a situação das empresas do setor elétrico é crítica. Elevado endividamento e desempenho operacional sofrível. Além de atrasos nos pagamentos de passivos. A manutenção das empresas elétricas nas mãos de indicados políticos é má notícia para o mercado de capital e para os detentores de títulos de dívida.

Estreia de Ilan
Na reunião de junho do Conselho Monetário Nacional (CNM) será definida a meta de inflação para 2017 e 2018. Tudo indica que será mantida em 4.5%, com limite superior de 6%, informa O Globo.

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Preste atenção: Ilan Goldfajn, em seus últimos relatórios no Itaú preconizava que a taxa Selic poderia começar a ser reduzida em julho próximo. A definição da meta de inflação será fundamental para sabermos o caminho da atividade econômica, bem como a associação entre as medidas fiscais tomadas pelo governo e o desempenho da atividade econômica. A estreia de Goldfajn no BC deve confirmar a continuidade do cenário de frágil demanda ou a esperança de certa recuperação.

Estreia de Maria Sílvia
Também há certa ansiedade com a posse da economista Maria Sílvia Bastos Marques na presidência do BNDES. Os pontos centrais a serem observados nos próximos meses no banco de desenvolvimento são a elevada concentração de sua carteira de investimentos e empréstimos, bem como a eventual necessidade de aporte de recursos da União para o FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador), principal fonte de recursos do banco. A diferença de rentabilidade entre a carteira de empréstimos do banco e a rentabilidade do FAT (6% ao ano) definirá o tamanho do aporte. O Globo de hoje informa que este ano o aporte deve ser de R$ 7,3 bilhões, mas devem chegar a R$ 14,8 bilhões até 2019.

Cobrança na Lava Jato
Hoje a Advocacia-Geral da União ingressa hoje com duas ações de improbidade administrativa para cobrar R$ 11 bilhões das empreiteiras Odebrecht, OAS, UTC e Queiroz Galvão nos contratos da Petrobras. Além das empresas, personagens implicados com a Operação Lava Jato também serão cobrados, tais como, Paulo Roberto Costa, Renato Duque e Alberto Youssef.

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Preste atenção: ações judiciais como essa podem levar tais empresas a terem seus contratos com a estatal de petróleo cancelados. Daí pode surgir enorme inadimplência no setor, pois tais empresas lideram a cadeia de fornecedores da Petrobras. As dívidas das empreiteiras estão em larga medida provisionadas pelos bancos, mas os efeitos ainda podem se alastrar. Afora os danos sobre obras de infraestrutura que capengam pelo Brasil.

Outra conversa de Temer
Ontem, às 18h00 do domingo, no Palácio do Jaburu houve singela reunião do presidente interino como o Ministro da Fazenda Henrique Meirelles e o assessor para as privatizações Moreira Franco. Assunto: concessões e privatizações no setor de infraestrutura.

Preste atenção: o tema das concessões e privatizações tem sido lembrado como principal bandeira de desenvolvimento em meio à floresta de problemas do governo. Duas preocupações em torno do assunto: (i) como financiar tais investimentos, em geral, dependentes de capital de longo prazo que, por sua vez, são muito sensíveis ao risco-país e (ii) como operar as concessões quando as principais empreiteiras do país estão com as finanças completamente quebradas. Ademais, o governo tem de definir o futuro das agências reguladoras, as quais ainda estão sob a égide do antigo governo.