Vale (VALE3), CSN (CSNA3) e Usiminas (USIM5): após resultados não empolgarem, atenções se voltam ainda mais para a China

Retomada da economia chinesa após o fim da política de covid-zero frustrou e perspectivas para o restante do ano divergem

Vitor Azevedo

Produção de aço (Alacero/Divulgação)

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O segundo trimestre foi marcado por resultados pouco empolgantes para mineradoras e siderúrgicas. Com o preço do minério e do aço recuando, companhias como Vale (VALE3), CSN (CSNA3), Usiminas (USIM5) e Gerdau (GGBR4) tiveram balanços fracos e a palavra “China” apareceu  – ainda mais – como uma constante nos documentos de publicação e nas teleconferências.

O país asiático, por ser o maior consumidor de aço e de minério do mundo, sempre tem papel de destaque nos press releases de resultados dessas empresas. Agora, como ele vem frustrando as expectativas do mercado ao longo do ano quanto a sua recuperação, ganhou mais espaço.

Após o fim das políticas de restrições impostas pela Covid-zero, grande parte dos especialistas esperava que a China iria deslanchar e trazer um forte crescimento econômico – o que não vem acontecendo. Dados macroeconômicos, por lá, sucessivamente mostram um crescimento menor do que o esperado.

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Isso leva a uma deterioração dos preços das commodities, o que diminui as margens de lucratividade das empresas do setor de siderurgia e mineração.

Para a Vale, o Itaú BBA aponta que o Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização, na sigla em inglês) ficou em linha o consenso, mas houve deterioração anual dos resultados com um desempenho mais fraco na divisão de ferrosos, prejudicado por preços realizados mais baixos e custos mais altos, que mais do que compensaram a ligeira melhoria nos volumes.

Já para a CSN “o trimestre foi marcado por deterioração no aço (custos mais altos) e mineração (preços mais baixos)”, apontou o JP Morgan sobre o resultado da CSN.

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A Vale trouxe um Ebitda de US$ 4,1 bilhões, recuando 25% na base anual. A CSN registrou uma queda de 31% no mesmo número, para R$ 2,2 bilhões.

No caso das siderúrgicas, houve ainda a explicação – e reclamação – de que o aço chinês estaria “invadindo o Brasil”.

Com a economia bambeando por lá, bem como a compra de aço, as siderúrgicas chinesas passaram a exportar mais seus produtos, que têm preço menor do que os nacionais (segundo executivos, por conta de subsídios governamentais), para o Brasil. Pedidos de defesa para o aço brasileiro foram, inclusive, uma constante nas teleconferências.

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“Há uma demanda enfraquecida. Estamos vendo com preocupação alguns fatores, como elevada taxa de juros e a importação de produtos acabados, que se incrementou sensivelmente”, disse Marcelo Chara, diretor executivo (CEO) da Usiminas.

“A pressão de importados dificultou muito nossa vida. Não foi fácil segurar os preços, mas estamos vendo melhora no segundo semestre”, comentou Benjamin Steinbruch, diretor presidente da Companhia Siderúrgica Nacional.

A entrada de concorrência no mercado brasileiro foi apontada por alguns analistas como um dos motivos que levou os resultados da CSN, da Usiminas e da Gerdau virem um pouco piores do que o esperado – esta última trouxe um Ebitda de R$ 366 milhões, queda de 81% no ano e a Gerdau teve um Ebitda ajustado de R$ 3,7 bilhões, recuo de 43% no ano.

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Fora a China mais fraca e a competição, outra questão que pesou nas margens foi o fortalecimento do real. Como as companhias têm gastos na moeda brasileira (com salários de funcionários, por exemplo), um real mais forte acaba aumentando os custos ao mesmo tempo que diminui o faturamento, já que as commodities são negociadas em dólares. A Vale, com isso em vista, chegou a revisar suas projeções de custo caixa (C1) no segundo trimestre do intervalo de US$ 20 a US$ 21 para US$ 21,5 a US$ 22,5.

Executivos esperam melhora – mas há desafios

Na frente de margens, os diretores das companhias afirmaram esperar melhoras de cenário até o fim do ano. Elas, contudo, estariam dependentes de um avanço da economia chinesa e da implementação de certas restrições na produção de aço por lá.

“Temos notícias boas vindas da China. Hoje recebemos um relatório que trouxe um número importante, de BQ (bobina com espessura), com US$ 30 de aumento”, pontuou o presidente da CSN. “Apesar de a produção no primeiro semestre por lá ter sido bastante alta, eles vão, de acordo com comentários, restringi-la no segundo semestre para combater a poluição novamente. Além disso, a margem da indústria chinesa opera negativa”.

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Nos próximos meses, a CSN espera que uma alta dos preços lá fora permita aumentar os preços no mercado brasileiro. “Vamos lutar muito para ter estabilidade de preços e, dependendo do que acontecer na China, poderemos pensar em realinhamento de preços no Brasil para setembro”, disse Luis Martinez, diretor executivo.

A Usiminas foi um pouco mais conservadora ao jogar seu guidance de venda para o terceiro trimestre entre o intervalo de 900 mil a um milhão de toneladas – abaixo do que o mercado esperava, com um consenso de 1,04 milhão – mas ao menos afirmou ver o cenário “estável”. “A gente está tendo no mercado uma forte pressão de preços, as margens estão comprimidas, mas se enxerga os preços relativamente estáveis”, disse Miguel Homes, vice-presidente Comercial.

A questão é que a China continua frustrando, conforme apontam os dados mais recentes. Há quem diga que a crise imobiliária por lá seja muito pior do que os dados oficiais mostram, o que pode pressionar ainda mais o preço do aço e do minério. Do outro lado, a possibilidade de estímulos dá algum suporte para o preço do minério e do metal.

“A gente viu os preços das commodities ficarem em patamares mais baixos ao longo do ano. Isso, agora, se junta a uma crise imobiliária. Nessas últimas semanas tivemos a notícia de que a Country Garden Holdings, uma das maiores incorporadoras da China, estava com problemas de liquidez. Isso tem colocado um ponto de interrogação maior no mercado em relação ao real problema dessa crise”, fala Fabiano Vaz, sócio e analista de Ações da Nord Research.

A crise imobiliária, segundo ele, enfraquece a teoria de que o governo chinês voltará a estimular o setor de construção. Os preços das casas caíram sinalizando, por hora, já um excesso de demanda. O esperado é que novos estímulos, se vierem, não serão voltados a novas construções, no máximo para ajudar construtoras a reduzirem estoques e formarem caixa – o que não impulsiona commodities.

A demanda por minério e aço, nessa leitura, não deve avançar. Uma melhora, talvez, poderia vir do lado da oferta, no caso de a China realmente pausar sua produção de aço no segundo semestre por conta da poluição. Nesse caso, as siderúrgicas brasileiras enfrentariam menor concorrência e poderiam ter margens melhorando. Resta saber se o país se dará o luxo de interromper sua produção em um momento no qual a sua economia já está mostrando sinais de fraqueza.

“Estatística de importação de aço da China neste segundo trimestre, de 17,4 %, é a maior que a gente já viu. Fora o que tem entrado em aço contido, que entra em trator, equipamento. A economia chinesa não entrou na velocidade que eles queriam, sobra aço, o governo fala que vai reduzir capacidade (das siderúrgicas). Mas na prática não reduz, esse aço vai para o mundo subsidiado”, falou Gustavo Werneck, CEO da Gerdau, em entrevista recente ao InfoMoney.

Fernando Siqueira, Head de Research da Guide Investimentos, expõe que, por enquanto, a casa prefere não se posicionar em ações do setor.

“Os resultados dos dois setores foram fracos de forma geral. Tanto Vale quanto CSN, Gerdau e Usiminas presentaram resultados fracos. Os preços estão mais baixos, o Real apreciou e os volumes de forma geral caíram. Além disso, algumas empresas, como a Vale, estão brigando com custos maiores”, diz.