Vale (VALE3): 2024 começa mal, mas Morgan e Itaú BBA veem alta de 21% para ADRs e reiteram compra

Bancos reiteraram otimismo, com recomendação equivalente à compra para papéis, e destacam possíveis catalisadores

Lara Rizério

Produção de Minério de Ferro, Mineração Vale (Sistema Norte), Estado de Minas Gerais, Brasil (Foto: Giles Barnard/Construction Photography/Avalon/Getty Images)

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O ano não começou bem para as ações da Vale (VALE3). Após uma queda de 5,73% em 2023 (a despeito dos ganhos de 55% do minério de Dalian), os ativos VALE3 acumulam queda de 5% neste início de 2024, mais uma vez entre a expectativa de estímulos na China e a demanda vacilante no gigante asiático.

Contudo, dois bancos reiteraram otimismo com os ativos da mineradora. O Morgan Stanley e o Itaú BBA reforçaram recomendações respectivas overweight e outperform (ambos equivalente à compra) para os ADRs (recibo de ações negociados na Bolsa de Nova York) da companhia. As duas casas possuem preço-alvo de US$ 18 para os papéis para 2024, ou potencial de valorização de cerca de 21% frente o fechamento da última terça-feira (9).

O Itaú BBA revisou o preço-alvo levemente para baixo, já que a projeção anterior era de US$ 19, de forma a incorporar o novo guidance da Vale para investimentos, volumes e custos, as mais recentes premissas macroeconômicas e de custo de capital e a curva de preços de minério de ferro. Mas, ainda assim, a Vale continua sendo a sua principal escolha no setor de Siderurgia e Mineração da América Latina.

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Os analistas do banco veem o mercado de minério de ferro como relativamente apertado no curto prazo. Os preços do minério de ferro têm oscilado em cerca de US$ 130-140 a tonelada (t) nas últimas semanas, apontam, apoiado pelas expectativas de aumento no consumo na China após o anúncio de dois pacotes de estímulo no país que poderiam compensar um mercado mais lento.

“Em suma, prevemos uma dinâmica de oferta e demanda um tanto restrita para a indústria de minério de ferro no começo de 2024, com produção sazonalmente mais fraca de minério de ferro no 1T24 e produção de aço ainda resiliente na China”, avalia a equipe, levando a uma revisão para cima da curva de preços de minério de ferro de US$ 110 para US$ 120 a tonelada no ano (mas implicando um declínio do nível atual de US$ 140/tonelada). Para 2025, a projeção passou de US$ 100 para US$ 105 a tonelada.

O BBA também elevou sua previsão de longo prazo para US$ 80/tonelada (em termos reais) ante US$ 75/t do modelo anterior, para contabilizar o aumento dos custos marginais de produção causados por pressões inflacionárias.

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O preço-alvo para os ADRs da Vale foi reduzido, por sua vez, devido principalmente à incorporação da revisão para cima do guidance de investimentos da Vale e aumento das premissas do banco de custo de capital, que mais do que compensou os melhores resultados operacionais impulsionados pelo aumento do preço do minério.

Os analistas, ainda assim, veem um rendimento sólido de fluxo de caixa livre de 11% da empresa para 2024. O BBA acredita que o rendimento será totalmente distribuído através de dividendos ou recompras (levando a um dividend yield, ou dividendo sobre o preço da ação, de aproximadamente 14%). O valuation dos ativos, além disso, ainda parece pouco esticado frente os níveis históricos. As estimativas para o lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (Ebitda, na sigla em inglês) de 2024 também foi revisada para cima em 5%, para US$ 20,4 bilhões, principalmente devido ao aumento da previsão de preço do minério de ferro, o que mais do que compensa os custos mais elevados.

O Morgan Stanley, por sua vez, espera que a Vale entregará em 2024 um Ebitda de US$ 21,5 bilhões (alta anual de 15%) e US$ 6,6 bilhões em fluxo de caixa livre (avanço ano a ano de 23%), acima do consenso de US$ 19,3 bilhões e US$ 6,3 bilhões, respectivamente.

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Assim, apoiada pela forte geração de fluxo de caixa livre (rendimento de 10% na projeção dos analistas do banco), o Morgan prevê que a Vale pagará US$ 1,67 por ação em dividendos em 2024, representando um rendimento de 11%. Isto inclui um total de US$ 5,17 bilhões em dividendos regulares e US$ 2 bilhões em dividendos extraordinários, com pagamentos em março e setembro. Os analistas do Morgan, assim como os do BBA, também esperam retorno de capital através do seu programa de recompra de ações, que expira em abril de 2025. “Modelamos que a Vale retornará US$ 400 milhões aos acionistas em 2024 por meio de recompra de ações, pois esperamos que a empresa priorize os dividendos”, avaliam.

O Morgan aponta ainda preferir ações de minério de ferro a ações de metais básicos. “Apesar da recente recuperação dos ativos de minério de ferro, acreditamos que ainda há espaço para valorização. Os cortes na produção siderúrgica chinesa não se materializaram tanto quanto se temia e o estímulo continua, o que por sua vez incentiva a produção e apoia a demanda”, ressalta.

O primeiro trimestre do ano também é tipicamente forte para os preços do minério de ferro, devido à escassez sazonal de oferta, uma vez que o Brasil e a Austrália tendem a sofrer fortes chuvas que afetam a produção”, avalia. Apesar desta perspectiva positiva a curto prazo, o banco ressalta que as ações continuam com um desempenho inferior ao do preço da matéria-prima, com a Vale negociando a um preço do minério de ferro de US$ 76,5/t contra o preço spot de cerca de US$ 139 a tonelada. O Morgan projeta o minério a US$ 135/t no 1T24, US$ 140 no 2T, US$ 115 no 3T e US$ 105 no 4T.

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Um potencial catalisador para os papéis, segundo o Morgan, é uma possível resolução para um acordo sobre a tragédia em Mariana (MG), ocorrida em 2015 com o rompimento da barragem do Fundão. “Ainda pensamos que um acordo final, ao mesmo tempo que limita os dividendos, será provavelmente um catalisador positivo para as ações. Isso contribuirá para uma reavaliação de múltiplos, eliminando a incerteza e virando a página deste infeliz acontecimento. As negociações estão em andamento e esperamos que as partes cheguem a um acordo final no 2T24”, apontam.

Os analistas também revisaram as suas projeções para os resultados da Vale em 4T23, com estimativas acima do consenso do mercado, levando em conta as novas premissas de câmbio e preços de commodities. “Prevemos agora um Ebitda de US$ 6,4 bilhões no 4T23 (+12% versus previsão anterior) e US$ 18,7 bilhões em 2023 (+3,8%), acima do consenso de US$ 5,9 bilhões e US$ 18,1 bilhões”, avaliam.

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.